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30/07/2018
O panteísmo de Espinoza

 

 

 

“Pare de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não pode me ver num amanhecer, numa paisagem, no olhar dos teus amigos, nos olhos do teu filhinho... Não me encontrará em nenhum livro! Crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredite em mim. Quero que me reconheça em você. Quero que me veja em você quando beija a tua amada, quando agasalha tua filhinha, quando acaricia o teu cachorro, quando toma banho no mar. Confie em mim e deixe de me pedir. Pare de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. A única coisa que te peço é que preste atenção à tua vida, esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é a única que há aqui e agora! E a única que você precisa. Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Para de ter tanto medo de mim... Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Para de me pedir perdão. Não há nada a perdoar.

Que tipo de Deus ególatra você acredita que Eu seja? Aborrece-me que me louvem. Cansa-me que agradeçam. Você é grato? Demonstra-o cuidando de você, da tua saúde, das tuas relações, do mundo. Expresse tua alegria! Esse é o jeito de me louvar. Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio... Como posso te culpar se você responde ao que Eu coloquei em você? Como posso te castigar por ser como você é... Que tipo de Deus pode fazer isso? Esqueça qualquer tipo de mandamento, lei, são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em você. Respeite o teu próximo... Eu te fiz absolutamente livre. Pare de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que você esta aqui, que esta vivo, e que este mundo esta cheio de maravilhas. Para que precisa de mais milagres? Para que tantas explicações? Não me procure fora! Não vai me achar. Procure-me dentro... Ai é que Eu estou”.

Baruch de Spinoza 1632 – 1677

O escrito acima é o panteísmo do filósofo Espinoza. É a crença de que Deus está em tudo, em todos nós e em todos os lugares. Que o Universo (ou a Natureza) e Deus são idênticos. O panteísmo descarta a existência de um Deus pessoal que a tudo governa e intercede na nossa vida e nos ampara. Isso é difícil de aceitar por quem não seja panteísta. E o panteísmo não se faz representar nas religiões que são adotadas pela maioria dos seres humanos.

“Supondo” que o panteísmo seja uma prerrogativa aceitável para entender que Deus é a expansão dele mesmo por todos os lugares deste mundo e do universo, isso seria uma controvérsia com o conceito que a maioria tem Dele como sendo uma entidade à parte do mundo que Ele criou? O Baruch Espinoza que foi excomungado, expulso da Comunidade Judaica de Amsterdã, Holanda, em 1656, teve que viver na solidão e no desprezo daqueles que eram de sua raça. Com essa desvantagem existencial é que ele aprimorou a sua filosofia e a deixou para o mundo lê-la, estudá-la, admirá-la e até mesmo ser depreciada por aqueles que ainda desconhecem os seus conteúdos filosóficos.

 

Altino Olympio