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19/10/2018
Trapistas, os monges do silêncio

A 100 quilômetros da Cidade de Curitiba do Estado do Paraná existe um mosteiro, o Mosteiro Trapista Nossa Senhora do Novo Mundo. Os monges dessa vida monástica da mais rigorosa da religião católica seguem o lema “ora e trabalha” das 3 horas da madrugada até as 19,30 horas quando se recolhem para dormir. A palavra “trapista” deriva-se de um local da França que se chamava “La Trappe” e de quando no século 17 houve uma reforma do mosteiro que havia sido fundado em 1098.

Os trapistas não lêem jornal, não ouvem rádio, não assistem televisão. Vivem “afastados do mundo” e eles têm raras notícias do que se passa pelos lados de fora dos muros que cercam o mosteiro. Eles se reúnem para rezar na capela oito vezes por dia, assistem à missa e fazem orações individuais. A vida deles é para a busca de um “contato íntimo e contínuo com Deus”. A solidão e o silêncio são suas rotinas diárias, são suas companheiras inseparáveis na vida comunitária, monástica. Os trapistas, embora vivam juntos no mosteiro, eles são solitários por vocação, por opção. Não conversam durante seus trabalhos no mosteiro, a não ser o necessário sobre a tarefa que esteja sendo executada e nunca se distraem em conversas amistosas e animadas.

Que interessante e importante eles não lerem jornais. Quem não vive lá no mosteiro e lê jornal, é uma vítima de excesso de informações no mais das vezes inúteis e que podem ser distorcidas, tendenciosas e mesmo enganosas, como se sabe ser comum neste nosso país onde a maioria mais é educada pela “incontestável seriedade e imparcialidade” da mídia. Os trapistas também não ouvem rádio. Isso é estranho! Como eles conseguem viver sem ouvir os tantos comentários diários sobre o futebol? Como podem deixar de ouvir as tantas estações de rádio que diuturnamente, verdadeiramente e “religiosamente” promovem curas e resolução de problemas de milhões de ouvintes? Eles também não assistem televisão e isso é bom, porque, quem se distrai com ela se distrai de si mesmo e é usurpado pelo que ela transmite apoderando-se assim da individualidade ou interioridade de quem enquanto a assiste.

Tais monges, os trapistas, eles vivem alheios ao que ocorre no mundo. Quantos de nós já pensamos alguma vez em se retirar do mundo da sociedade para viver isolado nalgum lugar distante dela? Eu já ouvi alguém dizer: ”parem o mundo que eu quero desembarcar (risos). A razão disso é por causa do mundo estar muito conturbado pelas incoerências, absurdos e aberrações provocadas pela humanidade que, de humanidade quase não tem mais nada (risos). Hoje, “o se afastar do mundo” até que é uma boa idéia. Seria uma fuga dos contatos humanos que cada vez mais estão destituídos dos verdadeiros valores humanos. Suas mentes estão compostas com muitas teorias abstratas que nunca se transformarão em realidades. Além disso, suas trivialidades os dominam. Haja paciência em aturá-los!

Quanto aos monges acima citados e outros de todos os mosteiros que existem no mundo, eles com todos os meios de isolamento, de silêncio e de tempo à disposição para mentalmente, religiosamente irem de encontro às suas aspirações espirituais, eles têm alcançado alguma revelação espiritual que pudesse ser acrescentada as revelações existentes e antigas que fazem parte das atuais religiões? O que se sabe das religiões é que elas só se utilizam da tradição, isto é, dos conceitos religiosos antigos, milenares, como se nada atual viesse a compor suas explanações sobrenaturais ou transcendentais. Nisso parece que elas têm sido estáticas.

Existem várias instituições irreligiosas que orientam seus associados a buscarem a ascensão de suas consciências para terem contatos insólitos através da prática da meditação. Se tais associados não têm os mesmos recursos dos monges dos mosteiros, como a solidão, o silêncio e o tempo a favor deles, como podem conseguir tal proeza transcendental vivendo de entremeio com tantos deveres, com tantas necessidades, dificuldades e com tantas responsabilidades neste mundo tão conturbado e barulhento que até dificulta uma existência normal? O “contato íntimo e contínuo com Deus” se for possível, talvez, só possa mesmo ser possibilidade para os monges enclausurados em seus mosteiros e que mais dedicam suas vidas para isso.

Altino Olympio

 

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