Versão para impressão

07/01/2019
A santa ingenuidade

Desde criança já ouvia falar que o homem, essa “coisa” tão complicada fosse o ápice da criação. Tanto tempo passou e agora na velhice vejo se confirmar que tal criatura muito é o ápice da mentira, o ápice da invenção, o ápice da ilusão, o ápice da superstição, o ápice da ignorância, o ápice da ingenuidade, o ápice da credulidade e o ápice de tantas incoerências e etc. Aqui neste país, Brasil, neste fim de ano de 2018 quem esteve e ainda está no foco da mídia sendo muito contestado, sendo desmascarado é um “santo poderoso” apelidado de João de Deus.

Quem acompanha noticiários sabe das “capacidades espirituais” dele que o levaram para a prisão. Tais capacidades, embora, em influência (poder) menor, milhares de brasileiros também as possuem tratando-se de “conhecimentos sobre outro mundo” ainda não pisado por quem ainda esteja vivo e que de lá são vindas às soluções para os problemas humanos, inclusive, as curas de doenças. Mesmo com tantos problemas humanos vigentes e com muitas doenças (muitas vezes incuráveis) que afetam a população deste planeta e as calamidades que causam muitas mortes, a crença no poder (sobrenatural) solucionador e curador do além ainda e para sempre persiste na crença de muita gente.

Este mundo objetivo, material ou físico, contém tudo “só com o que a consciência humana” seja capaz de discernir, explorar e poder conviver. “Conviver” com existências ou princípios sobrenaturais ou transcendentais, isso, está muito além do que a consciência humana tenha a capacidade de interagir ou de entender. Tudo que possa ser dito sobre o que não se vê e não se escuta, que não se toca e que não se percebe objetivamente, “conscientemente”, tudo é abstração ou hipótese. O mundo dos seres humanos é a natureza e “é só com ela” que eles verdadeiramente convivem e se identificam. Para eles nada deveria ser superior à natureza porque eles fazem parte dela e ela é o tudo para eles. O “além dela” talvez precise existir para que os homens exercitem, pratiquem as suas imaginações criando assim suas crenças e conceitos duvidosos e mesmo improváveis.

Muitos mantêm em seus pensamentos o que lhes é inalcançável e que está além da vida e para eles é onde ela (a vida) tem o seu verdadeiro valor e sua importância e não antes do além dela. Para eles é como se estivéssemos aqui, como já se ouviu dizer, só de passagem para o ingresso noutro mundo (o mundo espiritual) depois da morte. Muitas pessoas que influenciam tantas outras pessoas são elas “testemunhas” de existências extraterrenas das quais nunca presenciaram. Muito comum é existirem pessoas que repetem para outras as histórias lidas ou ouvidas por elas e que elas nunca comprovaram suas veracidades para poderem repassá-las “sem mentiras”. É ingenuidade humana acreditar em fatos relatados por outros que não os tenham vivenciado ou experimentado.

Também, muitas das contagiantes histórias do passado podem mesmo terem sido histórias que, até mesmo desagradam os racionais. Se todos só se apegassem a fatos que pudessem ser confirmados e verdadeiramente praticáveis, os charlatões não mais teriam como enganar os pobres de espírito, esses que abundam em busca de milagreiros ou conselheiros para solucionar seus problemas. É sabido que quando a fé entra por uma porta a razão foge pela janela e vice-versa. Aquele que aprecia raciocinar dificilmente cede às influências ou sugestões de curandeiros que supersticiosamente são considerados como tendo poderes ocultos e divinos. “Conhecereis a verdade e ela vos libertará”, mas, para isso “sempre é preciso ter os pés no chão”.

Altino Olimpio