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13/03/2020
O futuro do passado

O futuro do passado Eu nasci num lugarejo bom e calmo pra se viver mesmo sem ter sido parte do meu desejo. Tudo lá que era calma foi demolido e agora é um lugar fantasma. Eu e todos os que agora ainda estamos vivos neste presente que é o futuro daquele passado, embora, muitos já tenham morrido os que sobraram e que estão envelhecidos, eles quase não mais se vêem. Só se encontram, às vezes quando estão participando de um turismo no supermercado e quando se observam sobre suas aparências transformadas.

Então, lá donde nasci e a todos conheci, todos eram pessoas simples e ninguém se destacava como sendo melhor do que os outros. Talvez eu me engane, mas, “agora” me parece que a maioria (ou todos) vivia sem ter ambições para serem realizadas no futuro. Viviam com o que a vida lhes proporcionava e isso lhes bastava. O trabalho na indústria de papel, aos domingos o futebol no clube, os bons bailes mais ou menos a cada três meses, mas, se morresse alguém o baile era cancelado. Tinha até aquele trenzinho (maquininha) que ia e vinha de Caieiras e que mais parecia trafegar para o passado do que para o futuro.

Também se ia para a mata para “catar” goiaba pra fazer doce e passear entre os pés de pinhão para catar pinhões caídos ao chão quando o nome araucária ainda não fazia parte do dicionário local. Enquanto naquele lugar eu vivi nunca vi uma moça de calça comprida, pois, ainda não era moda. Mas, os vestidos que não tinham decotes e as saias que chegavam até abaixo dos joelhos pareciam encobrir um mistério que dava muita vontade de desvendar e para desvendar só existia a imaginação. Sei que ainda são lembrados aqueles tempos de quando os namorados primeiro andavam de mãos dadas antes que beijos eram dados.

O namoro depois continuava no portão da casa da namorada até quando apaixonado o namorado pedia aos pais da moça para poder namorá-la dentro de casa. Daí então o namoro “sério” prosseguia até o dia do noivado, fase melhor do namoro, pois, era quando a confiança se estabelecia e se podiam ter mais carícias íntimas e secretas. E assim como as águas do rio que passam o tempo também passa na vida e andar de mãos dadas com alguém pela cidade, isso agora para os velhos deste presente que são o futuro daquele passado aqui brevemente narrado, é uma necessidade, pois, eles podem se desequilibrar e mesmo caírem (risos). Altino Olimpio