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04/08/2020
Guaraná contra o diabetes tipo 2

Coletânea de informações

Os benefícios do guaraná (Paullinia cupana) para a saúde vão além das conhecidas funções energéticas promovidas pela cafeína. Os compostos fenólicos presentes nas sementes e no fruto possuem ação bactericida, anti-inflamatória e anti-hiperglicêmica, sendo este último agindo em enzimas que controlam a diabete do tipo 2. Pesquisadores do grupo da professora Elizabeth Aparecida Ferraz Silva Torres, do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, estiveram envolvidos nas recentes descobertas que demonstraram as propriedades dos compostos fenólicos provenientes do guaraná.

A caracterização das propriedades bioativas do fruto do guaranazeiro também levou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a incluí-lo na lista de ingredientes autorizados para uso em suplementos alimentares como fonte de substância bioativa.

Recentemente, a nutricionista Cintia Pereira da Silva, uma das pesquisadoras do grupo da professora Elizabeth, observou em laboratório que algumas substâncias bioativas do guaraná (as catequinas) poderiam agir no controle glicêmico do diabete do tipo 2, inibindo as atividades das enzimas α-glicosidase e α-amilase, ambas responsáveis pelo controle da glicose no sangue.

Para chegar a esses resultados, a pesquisadora diluiu as enzimas α-glucosidase e α-amilase em concentrações fisiológicas e as colocou em contato com uma solução de amido para simular a digestão de carboidratos no estômago. “Em seguida, comparamos a solução de amido com e sem guaraná para verificar a quantidade de glicose disponível na solução. Com a presença do extrato de guaraná, rico em catequinas, a atividade enzimática foi menor, ou seja, o guaraná reduziu e inibiu a atividade destas enzimas em cerca de 70%”, descreve.

No organismo humano, se a pessoa já tem a diabete instalada, quanto maior o consumo de carboidratos, maiores são as chances de um quadro de hiperglicemia (taxa alta de açúcar no sangue). “A inativação dessas enzimas pode ser uma estratégia para manter o controle glicêmico e assim evitar as complicações da diabete”, explica a nutricionista ao Jornal da USP.

Segundo a pesquisadora, no mercado farmacêutico existem drogas que inibem a atividade dessas enzimas como forma de tratar pessoas portadoras de diabete do tipo 2, porém, esses fármacos apresentam diversos efeitos colaterais como hipoglicemia em doses mais elevadas, problemas hepáticos, náuseas, vômitos e diarreia, explica Cintia. “Por isso, há necessidade de estudos para verificar se as substâncias bioativas presentes nos alimentos poderiam exercer esse papel sem causar efeitos colaterais”. Cintia lembra ainda que os ensaios com as enzimas foram feitos somente em laboratórios, precisando agora ser confirmados em humanos, por meio de ensaios clínicos.

A pesquisa com as enzimas foi um dos destaques de um artigo de revisão Guarana as a source of bioactive compounds, publicado no Journal of Food Bioactives. O artigo reuniu ainda relatos de pesquisadores de várias instituições, incluindo os do grupo da professora Elizabeth Torres, reconhecendo as propriedades funcionais das substâncias bioativas do fruto nativo amazônico. Cintia, que é a primeira autora do artigo, diz que até bem pouco tempo, o guaraná era tido apenas como estimulante pelo seu alto teor de cafeína. “Hoje, se sabe que as sementes do guaraná contêm boas fontes de compostos fenólicos, como a catequina, a epicatequina e a proantocianidina, substâncias bioativas que foram associadas à proteção contra doenças cardiovasculares e cognitivas”, diz a pesquisadora ao Jornal da USP.

No artigo, há outros registros dos benefícios das propriedades bioativas do guaraná, entre eles os dos compostos fenólicos (catequinas e proantocianidinas) que também foram reconhecidos como potenciais agentes antimicrobianos com ação bactericida. As catequinas e as proantocianidinas, por exemplo, foram testadas contra três fungos de origem alimentar: a Aspergillus niger, a Trichoderma e Penicillium e três bactérias patogênicas: Escherichia coli, Pseudomonas fluorescens e Bacillus.

A pesquisa da ação dos compostos fenólicos sob as enzimas α-amilase e α-glicosidase foi feita em 2018, paralelamente ao doutorado que Cintia defendeu na FSP. Os desdobramentos das pesquisas no grupo da professora Elizabeth seguem este ano com a investigação dos efeitos terapêuticos dos compostos fenólicos no desempenho cognitivo e na depressão.

Mais informações: e-mail [email protected], com Cintia Pereira da Silva

Aprovação da Anvisa do guaraná como alimento funcional

O reconhecimento das propriedades bioativas do guaraná por pesquisas científicas como a do grupo da Faculdade de Saúde Pública da USP e de outras citadas por Cintia no artigo revisional são fundamentais para obtenção do registro na lista da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em 2018, pela instrução normativa nº 28, o guaraná foi incluído na lista de ingredientes autorizados para uso em suplementos alimentares como fonte de substância bioativa.

Para entrar nessa categoria, os alimentos e os ingredientes devem ser caracterizados quanto às suas propriedades funcionais e, além de funções nutricionais básicas, precisam ter a presença de substâncias bioativas que produzam efeitos benéficos à saúde humana, em níveis metabólicos e/ou fisiológicos: a manutenção de níveis saudáveis dos triglicerídeos, proteção das células contra radicais livres, redução do colesterol, bom funcionamento do intestino, dentre outros. Os produtos também precisam ser seguros para consumo sem supervisão médica. 

Fonte: Jornal da USP

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Coletânea sobre o pó de guaraná

O pó de guaraná é extraído da semente do guaraná, com aroma pouco perceptível e sabor ligeiramente adstringente e amargo. Ele proporciona benefícios, como: melhora no desempenho físico e concentração, alívio de dores de cabeça e controle dos níveis de colesterol e açúcar no sangue.

Esta semente apresenta grande quantidade de amido, cerca de 60% da semente seca, taninos, metilxantinas - especialmente a cafeína, teobromina e teofilina, além de diversos compostos bioativos, como os flavonóides. Em relação aos sais minerais, apresenta fósforo, ferro, magnésio, potássio, cálcio, assim como vitamina A (importante para a saúde ocular) e vitamina B1 (nutriente envolvido no metabolismo energético).

O guaraná é comumente encontrado sob a forma de pó, obtido a partir das sementes secas, torradas e depois moídas, e na forma de xarope, amplamente consumido em bebidas, muito embora apresente quantidade bem inferior do extrato de sementes de guaraná em sua composição.

Para que serve o pó de guaraná

  • Melhora o desempenho nos exercícios: Por conter boas quantidades de cafeína, o pó de guaraná é aliado de atletas e praticantes de exercícios físicos. Assim, ele pode ser um recurso ergogênico, promovendo o desempenho nos exercícios pelo estímulo ao sistema nervoso central e melhora na percepção de capacidade física e esforço através da mediação com os neurotransmissores adrenalina e dopamina. Dessa forma, o pó de guaraná atua potencialmente retardando o início da fadiga diante de exercícios prolongados e exaustivos
  • Alivia dores de cabeça: Em alguns casos, o pó de guaraná tem sido empregado como terapêutica auxiliar no tratamento da enxaqueca e da dor de cabeça. Este benefício ocorre devido ao efeito central da cafeína sobre a diminuição do calibre dos vasos sanguíneos que irrigam o cérebro, muito embora a cafeína exerça efeitos de vasodilatação em tecidos periféricos. Essa vasoconstrição seria um elemento-chave para a diminuição das dores de cabeça e de crises de enxaqueca em que, justamente, se observa a vasodilatação
  • Melhora a concentração e o raciocínio: O pó de guaraná, em virtude da cafeína e associação com os demais compostos bioativos, como a teobromina e teofilina, demonstra efeito positivo sobre a capacidade de concentração e raciocínio. Isto ocorre porque essas substâncias agem em áreas do cérebro como o tálamo, envolvida com a atenção focalizada, seletividade ao objeto e o alerta, conforme demonstrado por alguns estudos
  • Controla os níveis de colesterol: Estudos evidenciam que a ingestão dos flavonóides e saponinas presentes no pó de guaraná podem auxiliar no controle do colesterol, em particular do colesterol LDL, o colesterol ruim. Adicionalmente, atribui-se à teobromina, os benefícios do pó de guaraná em relação ao aumento do colesterol HDL, o colesterol bom. A pectina, por sua vez, pode auxiliar no aumento da excreção de ácidos biliares, reduzindo a concentração plasmática de colesterol
  • Bom para quem tem diabetes: O pó de guaraná pode auxiliar no controle da glicemia pela presença da pectina, fibras que absorvem água e que possuem a capacidade de formar uma espécie de gel junto aos alimentos no estômago, retardando assim o esvaziamento gástrico. A digestão fica mais lenta e a glicose eleva-se de forma gradual no sangue. Isto irá prevenir picos de glicose e consequentemente de insulina, o que é bom para indivíduos com diabetes e também ajuda a prevenir a resistência à insulina em pessoas saudáveis
  • Ajuda na perda de peso: Apesar do processo de emagrecimento ser consequência de um conjunto de mudanças de estilo de vida, o pó de guaraná pode contribuir para a perda de peso. Isto porque ele proporciona efeito termogênico, ou seja, eleva o gasto energético diário e favorece o processo de lipólise, o que seria um elemento positivo para o controle do peso, desde que seja consumido na quantidade adequada, recomendada individualmente
  • Melhora a circulação sanguínea: O pó de guaraná pode auxiliar na melhor circulação sanguínea, menor formação de placas aterogênicas em vasos sanguíneos, permitindo maior fluxo e suprimento de oxigênio e nutrientes aos tecidos, incluindo a região genital.

Principais nutrientes

O pó de guaraná é rico em cafeína, chegando a até 8% de sua composição em sua massa seca. Para se ter uma ideia, o café possui até 2,5%, a erva-mate cerca 1% e o cacau aproximadamente 0,7%.

O pó de guaraná também conta com a teobromina. A substância possui efeito broncoprotetor pela capacidade em dilatar os vasos sanguíneos e promover o relaxamento dos brônquios, fator que pode ser útil em tratamentos de doenças respiratórias como a asma. Além disso, a teobromina exerce efeitos no sistema nervoso central, porém em menor grau quando comparado à cafeína.

Por esta razão, o pó de guaraná é frequentemente utilizado na composição de medicações fitoterápicas e suplementos termogênicos. A quantidade de cafeína no pó de guaraná, contudo, varia de acordo com a região de plantio e método de cultivo.

A cafeína consiste na metilxantina presente no guaraná de maior ação como estimulante do sistema nervoso central (SNC), promovendo um maior estado de alerta ao indivíduo, resistência ao cansaço e melhora da percepção das atividades intelectuais.

Estudos associam o consumo de cafeína com a maior capacidade da memória e redução do risco de enfermidades neurovegetativas, como a doença de Alzheimer. Outro grande emprego dessa substância deriva também de sua capacidade em promover a performance e resistência física de atletas quando submetidos a situação de exercício físico extenuante.

O guaraná possui fibras alimentares, incluindo a pectina, um tipo de fibra solúvel, além de celulose e hemicelulose, que consistem em fibras insolúveis constituintes da parede de células vegetais. Essas fibras podem ajudar na função e saúde do trato gastrointestinal. Contudo, as quantidades que efetivamente são consumidas por porção do pó de guaraná são pequenas em relação à recomendação diária de ingestão de fibras alimentares. Por isso, é importante ingerir outras fontes de fibras, como as hortaliças e os cereais integrais.

O pó de guaraná ainda conta com a teofilina, que assim como a teobromina, é indicada no tratamento de doenças caracterizadas por broncoespasmo, particularmente a asma e enfisema. Isto porque causa dilatação dos brônquios e dos vasos pulmonares, através do relaxamento da musculatura lisa. Ao nível cardiovascular, a teofilina dilata também as artérias coronárias e aumenta os batimentos cardíacos.

Como tomar pó de guaraná

O pó de guaraná pode ser consumido tradicionalmente misturado à água ou em outras bebidas, com a finalidade melhorar a sua palatabilidade, amenizando o sabor amargo e adstringente (em decorrência dos taninos, cafeína e teobromina), podendo ser adicionado a sucos naturais, iogurtes ou batidos em smoothies ou vitaminas de frutas, por exemplo.

Com o objetivo de promover o desempenho durante o exercício físico e considerando que a cafeína é rapidamente absorvida por via oral e atinge o pico no organismo cerca de uma hora após sua administração, orienta-se ingerir o pó de guaraná (assim como demais substâncias estimulantes), no período pré-treino. Para indivíduos que desejem consumir o pó de guaraná não necessariamente associado ao exercício, indica-se a ingestão no período da manhã ou até início de tarde, longe das refeições principais, como o almoço. Em virtude da possibilidade de causar insônia e interferir na qualidade do sono, não é recomendada a administração à noite ou próxima do horário de dormir.

Quantidade recomendada

Não há consenso estabelecido em relação à quantidade indicada para o consumo do pó de guaraná por dia. No entanto, como dosagem segura para indivíduos adultos, orienta-se a quantidade diária de 0,5 a 2g, ou seja, o equivalente a 1 a 4 colheres de café distribuídas ao longo do dia.

Riscos e efeitos colaterais do pó de guaraná

Os riscos do pó de guaraná estão associados ao excesso de cafeína no organismo, denominado cafeinismo, que podem causar sintomas como: ansiedade, irritabilidade, tremores e pela estimulação direta do músculo cardíaco, possivelmente acarretar no aumento de batimentos cardíacos e palpitações.

Além disso, a cafeína do pó de guaraná pode contribuir para distúrbios de sono. Ainda há o risco dos taninos reduzirem a absorção de determinados nutrientes e, em quantidade elevadas, o pó de guaraná pode aumentar a calciúria (excreção urinária de cálcio), devendo o consumo ser cauteloso em indivíduos em risco para a osteopenia e osteoporose.

O consumo crônico de cafeína, especialmente em grandes quantidades, pode produzir a dependência psicológica em alguns indivíduos, assim como a suspensão abrupta da cafeína pode resultar em sintomas físicos, como ansiedade, nervosismo e vertigens.

Recomenda-se atentar ao consumo habitual do pó de guaraná associado à grande quantidade de outras comidas e bebidas que também contenham quantidade considerável de metilxantinas, como café, chás (mate, verde), refrigerantes à base de extrato de cola e o cacau, uma vez que podem se manifestar efeitos aumentados no organismo decorrentes do consumo excessivo.

Combinações

Combinar o pó de guaraná com a açaí é uma boa ideia. A associação ocorre pelo fato do açaí apresentar também uma gama de nutrientes que exercem efeitos positivos no organismo, destacando-se um pigmento encontrado que confere a coloração característica arroxeada, denominada antocianina (presenta em uvas, frutas vermelhas, repolho roxo e outros alimentos) e que apresenta propriedades antioxidantes que, juntamente à vitamina E, atuam na proteção do organismo frente à ação dos radicais livres. Além disso, fibras alimentares e fitoesteróis contribuem na redução do colesterol, beneficiando a saúde cardiovascular, enquanto os aminoácidos e minerais presentes no açaí, auxiliam na contração muscular. Por ser bastante energético, o açaí em associação aos guaraná pode ser indicados para melhorar o desempenho e a reposição energética a praticantes de exercícios físicos.

Fonte consultada: Nutricionista Clarissa Fujiwara, CRN 3-32.841, especialista Minha Vida.

 


Jornal da USP/ site minha vida