Versão para impressão

31/08/2020
Nossa praia e o novo normal

Santos

Foi tudo tão de repente, mas tão de repente que estupefatos, nós paralisamos. Claro que o choque era geral, o medo, a desconfiança e muita incredibilidade fizeram parte de nossos pensamentos que ficavam girando em torno do nada, sem chegar à lugar algum, sem nenhuma conclusão!

Como assim chegou aqui? Como assim temos um navio com tripulantes infectados? Mas ...eles não descerão em nossa cidade certo?

Nossa vida tinha que seguir, afinal somos santistas, nós caminhamos diariamente, nós gostamos de assistir ao pôr do sol, nosso mergulho semanal é sagrado. O fim de semana é o momento de encontrar os amigos, daquele papo descontraído, da cervejinha gelada, do suco, do chá mate e todas aqueles “detalhes” que só na praia nós encontramos.

E foi então que de um dia para outro, sem nenhum aviso prévio, nos fizeram engolir o grito do povo santista: estava fechado o nosso quintal de 8Km. Nosso jardim do “Guines Book” recebeu grades...

Passamos a poder aprecia-los apenas através dos vidros fechados de nossos carros.

E assim ficamos por 4 meses.

Mas eis que o sol voltou a dourar nossas peles, que já haviam se desbotado para um tom amarelado, ou até branco leite.

Nós pudemos voltar... Mas agora, são outros tempos, nossa liberdade é limitada, vigiada, tolhida até. Os figurinos mudaram. Aquela pecinha a mais que o brasileiro usa no momento, ficou hilária nos santistas de sungas, biquinis, maiôs...nosso corpo continua exposto, mas nosso rosto está coberto.

Quando fiz minha primeira caminhada no novo normal, notei que as pessoas se olhavam com mais intensidade, só restavam nossos olhos para dizerem quem somos, viramos estranhos uns aos outros, era preciso ouvir a voz para se ter certeza que ali por trás daquele pedacinho de pano, estava um conhecido das caminhadas, os ambulantes que antes nos chamavam pelo nome e já sabiam os nossas preferências, agora olhavam desconfiados, afinal, somos todos mascarados.

Mas, apesar dos pesares, tem uma certa diversão, pois tivemos que aprender a sorrir com os olhos, a cumprimentar sem tocar e até adivinhar...quem vem ali?

Acabamos por nos cobrir ainda mais, precisamos usar chapéu, do contrário ficaríamos com o desenho da máscara no rosto, então estamos assim: corpo de fora, rosto escondido.

Mas é a nossa praia, nosso mar, podemos estar ali para caminhar, para simplesmente apreciar ou para viajar junto com aquele barquinho que navega no horizonte, onde colocamos nossos sonhos, possíveis e até os impossíveis, porque afinal, ali naquele cenário, ouvindo a música das ondas, nós podemos tudo, até cantar.

Hoje, eu vim aqui para contar de nós santistas, de nossa alegria.

Pois o mergulho em nosso mar nos deixa com...

“SAPORE DI SALE”

“SAPORE DI MARE”

Nossa pele, nossos lábios sentem o toque, o gosto do sal, o quente do sol e nesse momento, somos levados para lugares das coisas perdidas, deixadas muito longe de nós...onde o mundo é diferente do mundo daqui, onde se torna possível o impossível.

Essa é minha praia.

Selma Esteticista