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Anos Rebeldes

Entenda o que aconteceu com o nosso país

Na década de 70, o Brasil parecia estar em outro planeta. Era a época do Milagre Econômico. Grandes obras – A Ponte Rio-Niterói, enormes hidrelétricas, a Transamazônica – eram contratadas quase com a mesma facilidade com que hoje, se constrói uma pracinha. As indústrias passaram a produzir mais. O poder aquisitivo da classe média aumentava. Trocar de carro todos os anos não era mais coisa só para milionários.

Junto com tal milagre, o País vivia o inferno da ditadura, 1964 a 1985. A imprensa era censurada, os partidos controlados. Passeatas proibidas. Oposicionistas foram presos ou fugiram do Brasil. Muitos foram torturados e mortos em delegacias ou quartéis.

Depois, veio a nota de despesas. O País deve, hoje, US$111 bilhões aos governos e bancos estrangeiros que, com seus empréstimos, abençoaram o milagre.

A negociação do pagamento de tal dívida com o Fundo Monetário Internacional, o FMI, é uma das responsáveis pela crise atual.

Naquela época, ninguém tinha pressa em cobrar dívidas. O mundo crescia. Dinheiro não era o problema. Os economistas do governo acreditavam que os empréstimos pagariam grandes obras, indústrias e empresas rurais. A inflação – 15% ao ano – incentivaria o consumo, aumentando a produção. Com o recolhimento dos impostos, o governo pagaria, um dia, o que devia.

Durante algum tempo, a mágica parecia funcionar. O Produto Interno Bruto crescia a taxas anuais de 10%, bem acima da média e 1980: 1,6%. Mas a festa acabou. A crise do petróleo, em 73, começou a enterrar o milagre. Os juros internacionais subiram de 5% para 20%, secando a torneira dos dólares.

Quando andavam por aqui, os santos do milagre só apareciam para quem tinha dinheiro. Em 1960, o 1% da população mais rica tinha 11,5% da riqueza nacional. Em 70, esta fatia engordou para 18,2%. Os 70% mais pobres ficavam cada vez mais pobres. Sua participação na renda nacional caiu de 19%, em 70, para 16%, em 80.

O Brasil Grande era feito também da expansão das telecomunicações a um ritmo duas vezes maior do que o norte-americano dos anos 50. Mas o ensino básico era deixado de lado. No início dos anos 70, para cada 100 crianças em idade escolar, 81 freqüentavam as salas de aula. Em 1980, esse percentual caiu para 73 crianças. O governo federal, nesse período, passou a empregar cada vez menos dinheiro na educação. O número de analfabetos também deu um salto. Nos primeiros cinco anos da década de 70, o analfabetismo parecia estar em extinção. Criou-se o Mobral – Movimento Brasileiro de Alfabetização – e anunciou-se com alarde o fim do analfabetismo. O percentual de iletrados teria caído de 34% para 25%, mas voltou a subir em 76. O Mobral considerava alfabetizada qualquer pessoa que fosse capaz de assinar seu nome, mesmo se fosse incapaz de escrever o próprio endereço.(Escrito em 1982)