Versão para impressão

25/03/2021
Esquecemos de ser felizes

Há quem diz que viemos ao mundo para sermos felizes. Outros dizem que o mundo é um vale de lágrimas. No entanto, muito depende de cada um o ser feliz ou não. No passado não tão distante, quando apenas existia o rádio para se ouvir e se distrair, as pessoas eram mais calmas, viviam mais tranquilas. Os dias eram ausentes de notícias desagradáveis. Sou de um lugar de onde quase todos cultivavam suas hortas. As verduras dos canteiros embelezavam e até escondiam a cor da terra que ficava por baixo delas. Era uma gratificação para os olhos ver quando as sementes brotavam e se tornavam mudas para serem replantadas em outro canteiro. Antigamente havia tempo e curiosidade para observar e admirar a natureza expressando vida de diversas formas.

E pensar que nestes dias existem crianças que nunca viram uma bananeira com o seu cacho de bananas dependurado. Daqueles tempos que são referidos aqui, se notava o abacateiro ficar florido antecipando o aparecimento dos abacates que dependurados nos galhos até tornava-os mais pesados. O pé de ameixa ficava todo amarelado quando seus cachos ficavam maduros e atraia muitos pássaros para deliciá-las. E o pé de amora, então, quando ficavam maduras e pretas, elas caiam pelo chão alegrando o paladar das galinhas e dos seus pintinhos. Ás vezes até aparecia raposa querendo se alimentar com os ovos das galinhas que ficavam em seus ninhos. Antes se prestava atenção aos “corococó” dos galos na madrugada.

Naqueles bons tempos tínhamos tempo para assistir o espetáculo das abelhas e dos beija-flores indo de flor em flor para sugar o néctar delas. As borboletas também pousavam nas flores e elas com as cores de suas asas eram bonitas para se ver. Nos dias de sol quente as cigarras pousadas nos troncos das árvores eram as responsáveis pela sonoridade diurna. As noites eram para os vaga-lumes que, preenchiam todo o espaço escuro com os pisca-piscas de suas luzinhas. Viam-se muito as mariposas que, atraídas pela claridade dos postes que iluminavam as ruas, elas voavam dando voltas ao redor das lâmpadas acesas, perdidas que estavam dos seus rumos. Tínhamos tempo de ficar olhando para um formigueiro e acompanhar com o olhar a ida e vinda das formigas em seus trabalhos ininterruptos. E quando, então, lá no chão do quintal se tirava do lugar um tijolo velho e se via donde ele estava várias minhocas se contorcendo? Tudo o mais fazia parte de um viver tranqüilo e sem aborrecimentos, porque, mais se vivia dando atenção ao que realmente existia.

Altino Olimpio