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Andar, sim. Mas com cuidado

Especialistas alertam que, na terceira idade, é preciso fortalecer músculos e ossos antes de fazer caminhadas.

Caminhar é o exercício mais indicado para todas as idades, traz diversos benefícios para a saúde e, acima de tudo, não tem contra-indicações. Certo? Errado. A fase, repetida quase como um mantra para os que pretendem se iniciar no mundo dos exercícios, traz alguns enganos e riscos, principalmente para as pessoas que já entraram na terceira idade. Para os sedentários que passaram dos 60 anos, a frase ideal dos médicos do esporte seria diferente, algo como: recupere primeiro sua musculatura, fortaleça seu sistema ósseo e, somente depois disso, comece com atividades de impacto, como a caminhada e os esportes de quadra. Os motivos do alerta são explicados pelo próprio processo de envelhecimento do corpo. Com o tempo, se não forem estimulados, o homem perde a cada ano uma porcentagem de massa óssea e músculos, além de diminuir a capacidade cardiorespiratória – conjunto que deixa o organismo mais frágil à realização de atividades de impacto e que exijam força, fôlego e velocidade. Os sinais de aviso começam antes na mulher. A partir dos 35 anos, ela perde 1% de massa óssea por ano – após a menopausa, o índice sobe para cerca de 2%. No homem, a perda se mantém em 0,5% anuais depois dos 40 anos. Paralelamente, a musculatura, responsável pela sustentação e força do corpo, também vai se enfraquecendo. O resultado é que o sedentário chega aos 60 anos com ossos mais frágeis e músculos mais fracos. Quando resolve começar a caminhar, estará expondo essa estrutura a uma atividade de impacto, que exige suporte do corpo. O resultado é sentido logo: muito cansaço, dores e algumas lesões. “O indivíduo idoso e sedentário, quando começa a fazer atividades de impacto, pode ter uma série de lesões e dores. Ele primeiro precisa de um preparo muscular, que vai ajudar a fortalecer os ossos e dar a ele força para realizar os movimentos”, explica o médico do esporte Benjamin Apter, do Centro de Estudos em Ciências da Atividade Física da Faculdade de Medicina da USP e um dos coordenadores da academia B-Active. “Você percebe essa pessoa logo. É só olhar no parque aquele senhor que anda com passos bem curtinhos, um pouco curvado, devagar. Isso acontece porque ele não tem condições físicas de fazer aquela caminhada, que muita gente pensa ser inofensiva para todo mundo”. O mais indicado, nesses casos, é procurar um acompanhamento individualizado, com atividades que não tenham impacto, como a musculação. “Tentamos reverter a perda muscular. Por isso, trabalhamos nos aparelhos, com pesos. Com isso, fortalecemos os músculos e estimulamos a produção de massa óssea”, afirma José Roberto Aguilar Cortez, professor da Escola de Educação Física da USP e coordenador da Fitcor, espaço da Fórmula Academia voltado para a terceira idade, um nicho de mercado que precisa de uma atenção especial e que já foi descoberto por várias academias. Mas não basta apenas sentar nos aparelhos e começar a malhar. Por causa da fragilidade do corpo, o idoso precisa passar por um exame médico detalhado, que, além de verificar o estado de saúde geral, analisa a musculatura, o alongamento dos tendões e o estado das articulações – estas geralmente ficam mais froxas. Com o diagnóstico em mãos, o professor traça uma série específica. Ao ser posta em prática, ela vai passando por ajustes. “A gente começa com uma aula e vai moldando de acordo com a resposta do aluno”, diz Patrícia Albertini, responsável pelas aulas para a terceira idade da academia Bio Ritmo. Depois de começar, o resultado aparece logo, mesmo com o avanço da idade. “A gente não praticava esporte. De vez em quando andávamos, mas sem orientação, sentíamos dores. Aí minha mulher começou a cair, ter mais dificuldades e o médico recomendou a musculação”, diz o médico aposentado Massillon Machado de Minas, de 76 anos, que começou com as aulas há seis meses. “Percebo que estou mais ágil agora para andar, sentar. Noto que estou adquirindo massa muscular. E minha mulher nunca mais caiu”, diz.

O Estado de São Paulo