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05/11/01
Apnéia uma síndrome que tem solução

A doença, assim como o ronco, pode ser controlada com um aparelho bucal

Embora casado a poucos meses, o empresário Paulo José Feba sentia que a paz na sua casa Estava prestes a desaparecer. Todas as noites, sua mulher o acordava, reclamando de seu ronco. As advertências carinhosas do início foram dando lugar, aos poucos, as reclamações mais pesadas. E a irritação da mulher continuava, mesmo depois de amanhecer. "Antes que a situação piorasse ainda mais, resolvi seguir os conselhos dela e procurei um médico", conta. Ele garante não se arrepender. Além do ronco seu médico diagnosticou apnéia, uma síndrome que afeta entre 2% e 4% da população mundial, caracterizada pela interrupção temporária da respiração durante o sono. Encaminhado a um dentista, ele passou a usar um aparelho intra-oral para ronco e apnéia do sono. O empresário usa o aparelho desde dezembro. As diferenças, diz, são impressionantes. "Sinto-me mais disposto, minha memória e concentração melhoraram, além do meu humor. Nunca mais durmo sem ele", diz. Ele passou por um teste, no mês passado, quando o aparelho quebrou. "No dia seguinte estava na porta do dentista para pedir o conserto". Feito de aço inox e resina, o aparelho corrige mecanicamente um problema apresentado pelos pacientes com apnéia e ronco. Durante o sono, eles relaxam de forma excessiva os músculos da língua. "Com isso, a base da língua acaba se posicionando na faringe, impedindo a passagem do ar", explica o cirurgião dentista Marco Antonio Cardoso Machado, que trata vários pacientes com apnéia e ronco. O aparelho impede que isso ocorra. Semelhante a um aparelho móvel ortodôntico, o aparelho fixa a mandíbula para frente e impede que a língua interrompa a passagem do ar. "Ele é como os óculos: não corrigem a visão, mas resolvem o problema enquanto estão sendo usados", compara o dentista. Os aparelhos são indicados para pacientes com apnéia considerada leve (5 a 15 interrupções da respiração por hora) ou moderada (15 a 30 interrupções por hora). Um estudo realizado por Machado, coordenado pelo professor de neurologia da Universidade Federal de São Paulo (UIFESP), Ademir Baptista Silva, mostra que a qualidade de vida dos pacientes, depois do uso do aparelho, melhora de forma significativa. "Com as interrupções do sono, a pessoa com apnéia não tem como entrar na fase do sono profundo, importantíssima para o descanso", explica Silva. O aparelho permite que a pessoa com apnéia passe por todas as fases do sono, trazendo benefícios em curto prazo. Além dos benefícios físicos de uma noite bem dormida, pacientes melhoraram seu convívio social e familiar. "A auto-estima de uma pessoa que vê seu parceiro dormir em outro quarto por causa do ronco geralmente despenca", diz machado. O dentista acrescenta que atualmente a apnéia já acompanhada de um certo estigma. "A síndrome e associada à falta de concentração e desânimo. O diagnostico sempre cai como uma bomba". Nos casos graves de apnéia, é indicada uma cirurgia, que desloca totalmente o maxilar e a mandíbula, ou o uso de um aparelho, o CPAP (na tradução do inglês significa pressão continua de ar nas vias aéreas).Esse sistema força a entrada do ar de forma continua, mas tem um inconveniente: é preciso que o paciente durma com uma espécie de máscara de oxigênio.

O Estado de São Paulo