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18/05/2018
Juqueri completa 120 anos de fundação

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Complexo Hospitar do Juqueri-Franco da Rocha-SP

Abertura

Em homenagem aos seus 120 anos, iremos promover até o final do ano, alguns eventos para refletirmos sobre a importância do Juquery na história da psiquiatria e o seu futuro frente a mudança no modelo da assistência ao paciente psiquiátrico.

Junho - receberemos a Prof. Maria Heloisa de Toledo Ferraz, professora aposentada da Escola de Comunicações e Artes da USP, uma das responsáveis pela organização do acervo que deu origem ao Museu Osório César na década de 80.

Julho - A Coordenadora de Saúde Mental, Álcool e outras drogas da SES-SP - Rosângela Elias

Agosto - A Secretaria de Esporte, Cultura e Lazer da Prefeitura de Franco da Rocha irá promover uma discussão com o tema “Oficina e processo de restauro” de obras de arte.

Setembro - Teremos o Festival de Artes “Soy Louco por Ti Juquery”, realizado pela Trapezio Produções promovido pela Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo e Prefeitura de Franco da Rocha.

Outubro - O nosso já conhecido “Passeio Ciclístico e Caminhada Ecológica”. Em seu 7º ano, teremos uma surpresa em homenagem aos 120 anos do Juquery (se é surpresa eu não posso falar!).

Em Novembro - A Professora Maria Heloisa Ferraz virá novamente, e para falar de como foi a criação do Museu Osório Cesar na década de 80.

E hoje vamos falar um pouco, bem rapidamente porque senão ficaríamos aqui até o final do dia, sobre o trabalho que vem sendo realizado na Instituição e as suas perspectivas futuras.

JUQUERY: PRESENTE, PASSADO E FUTURO

Glalco Cyriaco - Diretor do Complexo Hospitalar do Juquery

Nos anos 20 e 30 do século XIX o doente mental era visto como uma verdadeira carga para a família e a sociedade. Se eram calmos, ficavam vagando nas ruas, passando por necessidades e sujeitos a todos os tipos de violência. Quando eram agitados, restringia-se sua liberdade em cômodos de suas próprias residências familiares, ou em cadeias públicas, onde permaneciam muitas vezes acorrentados.

Em São Paulo, na metade do século XIX, começam a surgir os Asilos para abrigamento dos doentes mentais. Com o tempo, a superlotação desses asilos, situados na capital e no interior de São Paulo, forçaram a reformulação do modelo (de cárcere / asilar → hospitalar).

Surge então o Dr Francisco Franco da Rocha com a ideia de um hospital afastado dos grandes centros urbanos, com área para tratamento de pacientes agudos e um Asilo Colônia, para os pacientes crônicos.

Em 18 de maio de 1898, com projeto arquitetônico de Ramos de Azevedo, inaugura-se a Colônia Agrícola de Juqueri. Em um documento de 1906, relata o Dr Franco da Rocha: “Está São Paulo, ( ... ), dotado de um sistema completo de assistência aos alienados: hospício fechado para o tratamento , uma colônia agrícola para os tranquilos, e a assistência familiar para os indigentes...”

Da vanguarda de sua implantação pelo Dr Francisco Franco da Rocha, ao foco científico buscado pelo Dr Pacheco e Silva e a arte como forma de tratamento proposto pelo Dr Osório César, muitos outros ilustres passaram por aqui e contribuíram para a grandeza de sua história.

Inaugurado para 800 pacientes, 50 anos depois contava com mais de 11 mil internos, chegando na década de 70 com quase 16 mil pacientes.

Devido a superlotação e frente às constantes denúncias de maus tratos, começam as remoções para outros hospitais psiquiátricos. Isso tudo em uma época que o Juquery era visto pelos seus funcionários como uma Instituição de muita fartura, como por exemplo os gêneros alimentícios, moradia aos funcionários e jardins muito bem cuidados.

Especialmente nos últimos 20 anos, a mudança do modelo da assistência psiquiátrica levou a grandes transformações institucionais. O atual modelo, para muitos, em especial à população que viu a cidade se desenvolver a partir do Juquery, as suas consequências não são bem compreendidas.

A desativação dos leitos de crônicos da psiquiatria, e a substituição de serviços existentes por outros, como a Maternidade de Caieiras (2008), o Hospital Albano (2011) e o próprio CAISM (2010), esses dois últimos administrados por Organizações Sociais de Saúde, são apenas alguns exemplos.

Com o avanço do modelo baseado em uma Rede de Atenção Psicossocial, não mais hospitalocêntrico, chegamos em 2010 com 270 pacientes pacientes crônicos.

Nos últimos 08 anos, com o olhar na qualidade da assistência, cuidado multidisciplinar e o fortalecimento das RAPS, o foco vem sendo a reabilitação psicossocial e a reinserção do paciente na sociedade.

No momento contamos com 86 pacientes, onde a média de idade é de 70 anos e o tempo médio de internação superior a 30 anos. Dos 86 pacientes, 73 são maiores de 60 anos. O morador com mais tempo de internação está a 75 anos no Juquery, e o mais velho possui 94 anos de idade. Esse é um dos grande desafios do processo chamado desinstitucionalização.

O trabalho com os 86 internos / moradores é desenvolvido à partir do Projeto Terapêutico Singular, conhecido como PTS. No momento todos estão prontos para alta programada, necessitando apenas que surjam vagas em Serviços de Residências Terapêuticas nos municípios de sua referência, sendo 12% para os municípios da região de Franco da Rocha, 57% para outros municípios da Grande São Paulo e Capital, 26% para o interior de SP e 6% para outros Estados.

Parte importante do trabalho desenvolvido pela equipe são os Treinamentos de Habilidades Sociais. O que para muitos é apenas uma simples atividade de lazer, para essas pessoas que passaram a maior parte de suas vidas internadas é um grande desafio e um momento de aprendizagem. Como exemplo podemos citar os passeios externos e as atividades desenvolvidas na Unidade de Internação.

Um dado interessante é que quando observamos as altas dos últimos 4 anos, podemos constatar a implementação das RAPS com a ampliação da oferta de vagas em Serviços de Residências Terapêuticas (SRT) nos municípios da região. O número de vagas disponibilizadas em RTs aos pacientes do Juquery, no primeiro quadrimestre de 2018, já alcançou o total de vagas disponibilizadas no ano todo de 2017.

Apenas para ilustrar a importância desse processo, trago aqui dois casos. O primeiro o da Dona Dalva, que hoje com 76 anos, após 49 anos de internação foi morar em uma Residência Terapêutica no Guarujá-SP.

O outro a da Dona Maria, 76 anos, que foi morar em uma Residência Terapêutica em São José dos Campos, após 53 anos internada no Juquery.

Assim como esses, foram 57 internos/moradores que nos últimos 08 anos, foram para uma Residência Terapêutica ou Familiar.

Também faz parte desse processo de transformação dar novos destinos ao conjunto de prédios que ficaram ociosos com a diminuição do número de pacientes . E isso vem acontecendo a mais de 3 décadas.

Para isso a parceria com outras Secretarias e Instituições é fundamental. A ocupação dos prédios por novos serviços devem respeitar o que está definido no Plano Diretor atualizado em 2011. Isso é fundamental para garantir a melhor utilização das áreas e a preservação dos prédios e seus entornos, tombados pelo CONDEPHAAT naquele mesmo ano.

Além da Saúde estão previstas áreas destinadas ao Lazer, Cultura e Educação.

Um exemplo bem sucedido é o que vem sendo realizado com a Prefeitura Municipal de Franco da Rocha na área voltada para o Resgate da Memória e Cultura Local.

Em projeto da Prefeitura de Franco da Rocha com a participação do Núcleo de Acervo, Memória e Cultura do Juquery, estão sendo catalogadas, higienizadas mais de 8.000 obras (pinturas e esculturas) que fazem parte do acervo do Museu Osório César. O Projeto teve financiamento do Fundo de Investimento Difuso da Secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania do Governo do Estado, e Inclui também o restauro da Casa do Dr Franco da Rocha, que nas décadas de 80 e 90 funcionou como a sede do museu.

Essa restauração é sem dúvida um dos grandes presentes ao Juquery no ano em que se comemora seu aniversário de 120 anos.

Estão previstos no Plano Diretor, ao que se refere a área central do Juquery, 71 mil m² para atividades educacionais, 5 mil m² para a Memória e Cultura. Mesmo assim ainda são mais de 2 milhões m² para a área da saúde.

Na saúde, destaco que com o fechamento dos leitos psiquiátricos para crônicos, serão implantados leitos de Cuidados Prolongados com o objetivo de compor a rede de Urgência e Emergência regional.

Os Cuidados Prolongados destinam-se a pacientes em situação clínica estável, que necessitam de reabilitação ou adaptação a sequelas decorrentes de um processo clínico, cirúrgico ou traumatológico.

Atualmente, em fase de habilitação e credenciamento, trabalhamos com 21 leitos que denominamos como “projeto piloto” dentro da Unidade de Reabilitação e Retaguarda. No momento servem como referência apenas para os pacientes psiquiátricos crônicos ainda internados no Juquery.

HOMENAGEM

O relógio da torre central, provavelmente da década de 40, estava parado, segundo informações dos funcionários mais antigos da casa, a pelo menos 30 anos, quando um paciente em surto subiu no telhado das galerias e teve acesso a torre. Lá ficou por várias horas até que fosse resgatado e acabou desmontando parte de seus mecanismos.

Neste ano, por iniciativa do Engenheiro Luis Francisco, o diretor de manutenção e engenharia clínica do Juquery, iniciou um trabalho de recuperação do relógio da torre central.

Trata-se de relógio da marca Mapping & Webb, “montado” pela Michellini no Brasil. A Mapping & Webb: Joalheria e Relojoaria do Reino Unido fundada em 1.775, funciona até hoje com uma rede de lojas.

Em São Paulo, a maioria das igrejas e estações de trem do início do século XX possuem relógios semelhantes.

Apenas mais uma curiosidade, aqui no Brasil no início do século 20, a mesma família que fundou a Joalheria e Relojoaria Britânica, inaugurou uma loja sofisticada e de variedades no centro de São Paulo, que ficou muito conhecida.

Em homenagem a esta data, estamos oferecendo uma placa que passará a fazer parte do acervo institucional, referenciando os 120 anos do Juquery e a recuperação do relógio.

Os dizeres da placa comemorativa.

"Juquery 120 anos / 1898 - 2018

Registra-se aqui nossa homenagem de fundação do Juquery e o agradecimento à todos aqueles que por aqui passaram e contribuíram para eternizar sua grandeza na história da psiquiatria.

Homenageando os seus 120 anos, volta a ecoar no Juquery, o som do sino do relógio da torre central

18 de maio de 2018"

N.R. Prefeitos, Vice Prefeitos, Vereadores e outras autoridades prestigiaram o evento dos 120 anos do Hospital do Juqueri.



Edson Navarro