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29/05/2009
50 anos da Orquestra ou Corporação Musical Melhoramentos

Orquestra Filarmonica Melhoramentos Caieiras
Jubileu de Ouro: Orquestra Filarmônica Melhoramentos Caieiras comemora 50 anos

A Orquestra Filarmônica Melhoramentos Caieiras comemorou 50 anos de existência, com a realização de uma apresentação especial em comemoração ao Jubileu de Ouro.

Fragmentos da história

Maestro iniciou a profissionalização

Músico, compositor e arranjador era regente da principal orquestra. Ele é tido como motivo de orgulho dos caieirenses, é o Maestro Sergio Valbuza.

Surge uma nova orquestra na cidade

Sob os cuidados de Sergio Valbusa nasce a Corporação Musical Melhoramentos de Caieiras, quinta banda formada.

Em uma mistura de dinamismo e muita força de vontade, o maestro, compositor e arranjador, Sergio Valbusa, resolveu tirar do papel e pôr em prática o projeto que há muito lhe alimentava a cabeça: ter a própria banda.

Era o ano de 1958 e Caieiras recebia a visita de missionários católicos que agitavam a pequena cidade. Sem muito pensar, Sergio prometeu que presentearia os religiosos com algo que também animasse a população local. Decidiu reunir e incentivar os músicos de algumas bandas remanescentes a tocar.

Com os instrumentos antigos, o pequeno grupo começou a ensaiar, na casa do maestro, as partituras escritas e copiadas. Assim, como um presente dos deuses, no encerramento das missões, a banda compareceu para executar alguns números musicais para a alegria e a surpresa de todos.

Depois deste episódio, os ensaios continuaram regularmente como lazer para os integrantes. Pais e filhos ingressaram na banda, além dos alunos da escola que o maestro mantinha na residência, no bairro da Fábrica de Papel.

Em uma dessas descontrações, o diretor da Cia Melhoramentos, Gunther Raymann, assistiu ao ensaio e maravilhou-se com o que presenciou. Ele se prontificou a auxiliar a banda no que fosse necessário. Assim, o grupo recebeu a doação de novos instrumentos, instalação de uma nova sede e ajuda financeira por parte da empresa.

Realidade

Unindo a comemoração do Dia do Trabalho, classe a qual pertencia a maior parte dos músicos, e a véspera do aniversário de Sergio Valbusa, ficou definido que a data oficial de fundação da banda seria em 1.º de maio de 1959. Carinhosamente apelidada de "A Pérola dos Pinheiros", era o orgulho para Caieiras, na época já emancipada.

A iniciativa de Sergio Valbusa em fazer renascer uma banda musical na cidade, que estava em silêncio, promoveu o apoio da administração municipal que solicitou a organização jurídica para que, incluída no orçamento do município, passasse a receber subvenções. Pelo decreto Municipal n.° 1.006 de 22/8/74, a banda, então oficialmente chamada "Corporação Musical Melhoramentos de Caieiras" foi declarada como de utilidade pública.

Conquistas

Com mais de 65 anos de dedicação à música como professor, compositor e regente, Sergio Valbusa foi o fundador da orquestra Infanto-Juvenil de Caieiras, primeira banda formada pelo maestro aos 15 anos. Organizou uma orquestra de acordeão, com 60 integrantes, que executavam desde a música popular até o clássico.

Em 1958, com ajuda da Cia Melhoramentos de São Paulo, criou a Corporação Musical Melhoramentos. Em 1974, organizou a Banda Jovem de Caieiras e o Grupo Coral de Caieiras. É também autor do hino do município de Caieiras e atualmente está escrevendo um livro da história cultural da cidade.

Destaque para os regentes das bandas

Maestros deixam ensinamentos aos músicos das orquestras. Francisco de Assis Fernandes foi dinâmico para evoluir a arte no município.

Um dos primeiros maestros a receber destaque em Caieiras foi Leôncio de Barros, regente da "Corporação Musical Fábrica de Papel", primeira banda musical do município. Ele era tenente da Força Pública e foi convidado a assumir o ensino musical aos aspirantes a músicos para oferecer diversão à população.

Entre os anos de 1922 e 1923, após da morte do maestro Leôncio, o regente Arthur Patti veio a Caieiras para dirigir a banda, dando lugar, tempos depois, ao maestro Abílio Vieira. Nesta mesma época desponta, na "Cidade dos Pinheirais", o saxofonista e oficial da Marinha de Guerra do Brasil, Francisco de  Assis Fernandes, que ingressou na Corporação como contramestre, auxiliando Abílio.

A chegada de Francisco Assis revolucionou o Clube Recreativo Melhoramentos devido ao dinamismo. O amor à arte permitiu a criação, em pouco tempo, de um grupo teatral infantil e de adultos, atraindo público da cidade e toda a região. Junto a Miguel Lopes, escriturário da Melhoramentos, organizou o primeiro batalhão de escoteiros. Eles eram admirados pela população local e também pela de fora.

Abílio Vieira deixou a Corporação Musical devido a enfermidades. Francisco As-sis assumiu a regência da orquestra por algum período até a diretoria do clube optar por contratar outro profissio-nal. José Bovolenta, maestro de Jundiaí, foi acionado e Francisco voltou ao posto de contramestre.

O Clube União Recreativo Melhoramentos de São Paulo também possuía uma banda que passou a ser regida por Bovolenta. Quarta e sexta-feira ele ensaiava a Corporação do Clube Recreativo e na terça e quinta-feira era a vez dos músicos do União Recreativo obterem conhecimentos.

Em 1934, o maestro José Bovolenta, acometido por uma grave enfermidade, se retirou das duas bandas. Em razão da morte do regente a orquestra do União chegava ao fim. Assis Fernandes assumiu novamente a regência do Clube e muitos músicos da banda desfeita se tornaram integrantes da Corporação Fábrica de Papel.

Atuação

Francisco Assis Fernandes funcionário da Cia Melhoramentos e nas horas de folga ministrava aulas de músicas no salão do Clube Recreativo Melhoramentos. Ele foi dispensado dos serviços, tempo depois, para se dedicar à banda e à arte.

Acompanhado por amigos como Sergio Valbusa e Clarice Lucietto, Francisco ensaiava as crianças para o grupo teatral, programas de calouros e de danças. E assim as atividades culturais e artísticas foram desenvolvidas até a troca da diretoria do Clube, que escolheu por se dedicar apenas ao futebol.

Em conseqüência da marginalização da banda e do grupo de teatro, a freqüência dos associados ao clube diminuiu e os músicos, desgostosos, acabaram por desfazer a orquestra, permitindo que a cidade ficasse por um longo período sem bandas musicais.

Aposentado pela companhia, Assis Fernandes, morador do bairro Cresciúma, vila localizada do lado de fora da Cia Melhoramentos de São Paulo, não perdeu o amor pela música e pelo teatro.

Propôs, junto ao advogado Armando Pinto, presidente da Sociedade Amigos de Caieiras, a formação de uma nova banda na sociedade. Em acordo com a diretoria do Clube Recreativo Melhoramentos, adquiriram todos os instrumentos e partituras da extinta orquestra por um preço simbólico e formaram a "Corporação Musical Sociedade Amigos de Caieiras".

A ocasião foi bem oportuna, haja vista que um incêndio de grande proporção destruiu por completo o salão do Clube Recreativo, local onde também eram guardados instrumentos e partituras que conseguiram ser preservados.

Música acompanhava o progresso

 
Em 1920, no início das atividades da Fábrica de Papel, o material utilizado na fabricação era todo importado, transportado da estação ferroviária até a indústria, passando pelo Rio Juquery.

Tempos depois, foi construída pela Cia Melhoramentos de S. Paulo, uma estrada de ferro até o bairro de Bom Sucesso, depois passando pelo entroncamento que ligava aos bairros do Monjolinho e Calcárea.

Aproveitando a obra realizada, duas vezes ao ano, a companhia dispunha de duas locomotivas a carvão com 10 ou 15 vagões abertos para passeios de funcionários, familiares e visitantes. O trajeto ia da Fábrica de Papel até o bairro Bom Sucesso. Era disponibilizado um barril de chope para cada vagão.

Em um percurso com cerca de 30 quilômetros entre ida e volta, que durava o dia todo, o trem andava bem devagar para que os populares pudessem admirar a pai-sagem local, saboreando lanches e bebidas ao som das melodias executadas pela Corporação Fábrica de Papel. Ela ocupava a composição do meio para que a música fosse ouvida por todos.

Evidência

A famosa festa de Nossa Senhora do Rosário, na área da Companhia Melhora-mentos, ocorria todos os anos, na década de 30 e promovia euforia na comunidade caieirense. Os populares se divertiam com as atrações programadas, mas o que despertava de fato a atenção do público era a apresentação das bandas musicais da cidade.

Em um ano de comemoração, Sergio Valbusa contou que a Banda Musical de Francisco Assis tocava o clássico "Traviata" de Joseph Verdi, quando o 1.º clarinete, que deveria fazer o solo, não entrou para executar a composição. Como Sergio, na época com 11 anos e recém integrante da banda, conhecia de cor a sinfonia fez todo o solo no trompete.

"O maestro Francisco ficou procurando quem estava fazendo o solo, mas não me viu porque eu era muito pequeno. Terminado a música, ele me descobriu, me carregou no colo e o público ficou aplaudindo sem perceber a troca de instrumento e músico", relatou Sergio.


Presença era sempre bem requisitada

Corporação Musical Melhoramentos de Caieiras tinha exibição garantida em diversas ocasiões, em várias localidades.

As inúmeras apresentações da Corporação Musical Melhoramentos de Caieiras, dentro e fora da "Cidade dos Pinheirais", provam a coleta de bons frutos de uma semente plantada em 1958, por Sergio Valbusa. A orquestra foi uma das precursoras no primeiro desfile de bandas e fanfarras após a emancipação de Caieiras.

Nesses anos de exibição o repertório estendeu-se desde a clássica até a sertaneja, contando com obras de autoria nacional e estrangeira e, é claro, as músicas e arranjos elaborados pelo próprio maestro caieirense, ainda executados por bandas de todo o Brasil.

Na década de 60, a Corporação Musical Melhoramentos se apresentou no ginásio do Pacaembu, no final do Campeonato Brasileiro de Futebol de Salão. Também participou do Festival de Inverno, em Campos do Jordão, se apresentou em Bom Jesus de Pirapora, que até hoje tem anualmente romarias rumo à cidade do interior paulista, além de sempre ser convidada de honra no aniversário de Santa Rita do Passa Quatro, para tocar na "Semana do Zequinha de Abreu", cantor de samba e chorinho natural da cidade.

A orquestra tocou na rádio Tupi e, devido à apresentação que agradou os diretores e radialistas, foi convidada a retornar para mais uma exibição. "O apresentador Pedro Luiz ficou maravilhado em ver como eu conseguia manter a disciplina na banda e pediu para executarmos outras músicas por mais meia hora", lembrou o maestro que também recebeu convite, na mesma época, para tocar na rádio Record.

Sergio Valbusa relatou um caso inusitado em uma das apresentações da Corporação, quando a banda deixou de ser coadjuvante para ser atração principal. Tratava-se de uma exibição em um rodeio organizado no Parque da Água Branca, na década de 80, na qual o maestro Sergio Valbusa resolveu variar o repertório e durante todo o espetáculo regeu a orquestra com músicas mais modernas, incluindo Roberto Carlos. A ousadia chamou a atenção dos expositores e convidados.

"A atração ficou voltada para a orquestra e não mais aos cavalos, que ficaram em segundo plano. A polícia teve até de reforçar a segurança", recordou, saudosista.

Notas da Redação:
O Maestro Luiz Crema dirige a orquestra a alguns anos.
Textos: Jornais: Regional News, A Semana, Folha Regional.
Exceto a foto publicada, a matéria da assessoria de imprensa da prefeitura foi ignorada, em nenhum momento menciona os ex-maestros e demais incentivadores da corporação que  só chegou até os dias de hoje por conta da dedicação desses homens e mulheres, exagera ainda na presença de políticos no evento, alguns provavelmente ficaram surpresos com o jubileu de ouro da orquestra e quem sabe outros recém chegados na Cidade nem sabiam da existência dela. Com a matéria acima procuramos homenagear os que nunca serão esquecidos, exemplos para uma sociedade digna e justa.





Edson Navarro