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15/09/2024
Picolinato de Cromo x diabetes

Tese de doutorado - USP

Cromo

A suplementação de cromo melhorou a sensibilidade insulínica em PVH. O nível de melhora da sensibilidade insulínica foi comparável com o que tem sido observado em pessoasHIV-positivo tratadas com metformina (FEINER et al., 2008). Além desse efeito, apotencialização da ação da insulina estimula a absorção de glicose e aminoácidos, o que podeter resultado no efeito anabólico e, consequentemente, aumento de massa magra e diminuiçãode massa gorda (MARANGON; FERNANDES, 2005).

O cromo é um elemento traço essencial (necessidade diária menor que 100 mg) e é um mineral essencial envolvido no metabolismo dos carboidratos e lipídeos. Ele está relacionado com a melhora da sensibilidade insulínica, das anormalidades metabólicas (redução nos níveis de triglicerídeos e insulina) e da composição corporal (redução da gordura corporal) (AGHDASSI et al., 2010; ANDERSON, 1998; ANDERSON et al., 1997; ANDERSON; BRYDEN; POLANSKY, 1997; FEINER et al., 2008).

A deficiência de alguns minerais traços, tal como zinco, selênio, ferro, cobre e cromo foi relacionada com a promoção de aterosclerose e cromo, zinco e selênio com o aumento da incidência de diabetes (WADA, 2004).

O cromo trivalente (Cr3+), forma estável e biologicamente ativa, é considerado importante para a função normal da insulina (cofator da insulina) e da ligação da insulina aos receptores na célula (INSTITUTE OF MEDICINE, 2001). Estudos têm indicado que o Cr3+ tem um papel importante na manutenção do nível normal de glicose no sangue, redução do colesterol do plasma e dos triglicerídeos, inibição do estresse oxidativo e modulação das citocinas inflamatórias (JAIN; RAINS; CROAD, 2007).

O mecanismo exato pelo qual Cr3+ participa nas funções da insulina não está claramente elucidado, mas as teorias vão desde a interação direta de Cr3+ com a insulina até um papel de Cr3+ no aumento do número de receptores de insulina, bem como o aumento da atividade da tirosina quinase (CHEN et al., 2006; VINCENT, 1999).

Um dos mecanismos para explicar os efeitos do Cr3+ sobre a homeostase da glicose no sangue é pela maior ativação dos receptores de insulina através da ligação do Cr3+ com a biomolécula de baixo peso molecular de ligação do cromo (LMWCr), também chama de cromodulina. A LMWCr é um oligopeptídeo composto por cisteína, glutamato, aspartato e glicina. Quando o cromo é absorvido no intestino, é transportado pela transferrina, que transfere o cromo para o apo-LMWCr. E quando há excesso de cromo, este é transportado pela albumina. À medida que os níveis de insulina diminuem e a atividade do receptor32 diminui, a LMWCr é transportada da célula para o sangue e excretada na urina (LAMSON;

PLAZA, 2002).

Outro mecanismo para explicar a ação do cromo no metabolismo da glicose e doslipídeos deve-se a sua capacidade de amplificar o sistema de sinalização intracelular, promovendo um aumento na sensibilidade a insulina, através de reações de fosforilação- desfosforilação (CARR et al., 1998b; LO et al., 1998). Nos músculos e no tecido adiposo, a insulina estimula a remoção da glicose da circulação regulando o tráfico celular do transportador de glicose GLUT4 (FÜLÖP et al., 1987). O estímulo à ação da insulina é dependente do conteúdo de cromo (4 íons de cromo) na cromodulina intracelular. A cromodulina favorece a sensibilidade à insulina por estimular a atividade tirosina quinase do receptor insulínico na membrana plasmática. E a tirosina quinase, por sua vez, está envolvida na translocação da GLUT4 para a membrana plasmática, que consequentemente aumenta a captação de glicose para dentro da célula (HUMMEL; STANDL; SCHNELL, 2007; YAMAMOTO; WADA; MANABE, 1989).

Algumas drogas ARV como os inibidores de proteases podem bloquear a capacidade de transporte da GLUT4 e também aumentar a excreção de cromo urinário. A inibição da GLUT4 ou deficiência de cromo por TARV pode contribuir para resistência insulínica e resultar em alterações metabólicas, como aumento dos triglicerídeos e colesterol total,referidas por PVH em TARV (AGHDASSI et al., 2006; CARR et al., 1999; ROBERTS et al., 1999). No estudo de Aghdassi et al. (2006), em que foram avaliados PVH com lipodistrofia em TARV, foi observada maior excreção de cromo na urina de 24 horas. Além disso, PVH com e sem TARV, apresentaram menores valores de cromo plasmáticos quando comparados com indivíduos saudáveis.

Além da interação farmacológica, é comum em PVH a deficiência de micronutrientes causada por má alimentação, má absorção, estado metabólico alterado e perda de fluidos pordiarreia e vômitos (FORRESTER; SZTAM, 2011;  INSTITUTE OF MEDICINE, 2001).

Somado aos fatores citados no parágrafo anterior, determinar precisamente a ingestão de cromo na dieta é difícil porque a sua quantidade nos alimentos é muito pequena e pode ser alterada durante o processamento de alimentos (INSTITUTE OF MEDICINE, 2001).

Em 2001, a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos estabeleceu uma ingestão adequada (AI) de Cr, com base em estimativa de médias de ingestão, de 35 µg/dia para os homens e 25 µg/dia para mulheres (INSTITUTE OF MEDICINE, 2001).

Em estudos anteriores, a duração da suplementação avaliada (variou de 1 dia a 8 meses) e a dose utilizada (variou de 100 a 3.000 µg por dia) variaram muito (CEFALU; HU, 2004).33

Embora dose de 1000µg de cromo na forma de picolinato de cromo tem sido escolhida, é possível que uma concentração menor de cromo, porém, mais biodisponível, seja efetiva na melhora da sensibilidade insulínica (CZECH; CORVERA, 1999; FEINER et al., 2008).

O cromo ingerido é absorvido no jejuno e íleo superior, transportado pela transferrina e armazenado nos ossos, baço, fígado, músculos esqueléticos e tecido adiposo. É eliminado rapidamente (1-2 dias) do sangue e mais lentamente dos tecidos (2 semanas - músculos esqueléticos e tecido adiposo) (AGHDASSI et al., 2006).

A absorção do cromo depende da forma química, solubilidade, estabilidade, dose,duração do tratamento, iteração entre minerais e vitaminas, proteínas, drogas e outros fatores nutricionais (KRÓL; KREJPCIO, 2011; MARANGON; FERNANDES, 2005). Existe disponível uma variedade de suplementos de cromo, por exemplo, na forma de sal de picolinato ou de cloreto (formas inorgânicas) e na forma de complexo com ácido nicotínico e aminoácidos (forma orgânica) (HUMMEL; STANDL; SCHNELL, 2007).

Os complexos de cromo orgânico proporcionam melhores resultados do que o cromo inorgânico, e as doses mais elevadas de Cr proporcionam resultados mais rápidos e melhores nos níveis de glicose e lipídios. Em relação à biodisponibilidade, está documentado que o cloridrato de Cr (CrCl3), nicotinato de Cr (CrNic) ou picolinato de Cr (CrPic), são absorvidos em apenas 0,5-2,0% (LAMSON; PLAZA, 2002).

Os aminoácidos aumentam a absorção de cromo a partir do intestino. Verificou-se que uma mistura de 20 aminoácidos quase duplicou a velocidade de absorção. Os aminoácidos como histidina e ácido glutâmico que formam complexos com cromo também mostraram aumentar a absorção (LAMSON; PLAZA, 2002).

A absorção humana do cromo proveniente dos alimentos é estimada em cerca de 2-3% e 5-10% na levedura de cerveja. A absorção de Cr3+ inorgânico é aumentada pela presença de amido ou de ácido ascórbico. Em seres humanos, a absorção de Cr3+ na dieta está inversamente relacionada com a ingestão dietética, variando de 0,5 a 2% (LAMSON;

PLAZA, 2002).

A faixa de normalidade do cromo no sangue é de 0,12 a 0,67 µg/L (ANDERSON et al.,1996). Acredita-se que se a concentração de cromo no soro for menor que o valor normal de 0,14-0,15 µg/L, pode ser indicativo de deficiência grave de cromo. No entanto, os estoques teciduais de cromo não refletem verdadeiramente o cromo do sangue; assim, a concentração sérica de cromo não é um bom indicador do estado desse mineral (LAMSON; PLAZA, 2002).34

O cromo é excretado principalmente na urina (80%) e fezes e em pequenas quantidades no cabelo, suor e bile. As concentrações de cromo na urina, no cabelo e nos fluidos corpora is também não refletem o verdadeiro estado de cromo do corpo (AGHDASSI et al., 2006).

Não há evidências de toxicidade de cromo por ingestão excessiva ou suplementação, tanto em roedores como em peixes e gatos. Até mesmo a suplementação intravenosa decromo, (250µg/dia) em crianças desnutridas, não mostrou toxicidade (GIBSON, 2005). O Cr3+, forma encontrada nos alimentos e suplementos, é considerado um dos nutrientes menos tóxicos (KRÓL; KREJPCIO, 2010). No estudo piloto conduzido por Feiner et al. (2008), com suplementação de 1000µg de picolinato de cromo em PVH, nenhum participante apresentou efeitos colaterais (alterações da função hepática e renal; na carga viral e linfócitos CD4+), ou dificuldades na ingestão das doses de picolinato de cromo.

Apesar de mais de 50 anos de intensos estudos em animais e mais de 40 anos nos seres humanos, ainda não foi completamente elucidado o papel do cromo no metabolismo da glicose e dos lipídeos e tem sido um assunto de considerável debate. Uma extensa discussãosobre o papel do cromo no metabolismo da glicose e lipídeos tem sido objeto de publicações (CEFALU; HU, 2004; DI BONA et al., 2011; KRÓL; KREJPCIO, 2010; RHODES et al., 2010; STANIEK; KREJPCIO, 2009).

1.6. Justificativa

Embora o mecanismo pelo qual o Cr3+ exerce os seus efeitos benéficos permaneça pouco claro, numerosos estudos in vitro e in vivo indicaram que o Cr3+ desempenha um papel importante na manutenção do nível normal de glicose no sangue, na redução do colesterol e triglicerídeos no plasma, na inibição do estresse oxidativo e na secreção de citocinas inflamatórias (JAIN; RAINS; CROAD, 2007).

Os parâmetros anormais da glicose e dos lipídios, bem como a lipodistrofia, foram relatados com a TARV (AGHDASSI et al., 2006; CARR et al., 1998b; MILLER et al., 1998; NOLAN; JOHN; MALLAL, 2001). Essas anormalidades são semelhantes às relatadas em pacientes com diabetes tipo 2 e deficiência de cromo que tiveram resistência à insulina no âmbito da síndrome metabólica (AGHDASSI et al., 2006).

FONTE:

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO

MARIELE CASTILHO PANSANI

Efeito da suplementação de cromo na resistência insulínica, na dislipidemia...

TESE DE DOUTORADO EM CIÊNCIAS MÉDICAS

HCRP USP 2017

A TESE COMPLETA PODE SER ENCONTRADA NO LINK https://prceu.usp.br/wp-content/uploads/2020/07/Efeito-da-suplementa%C3%A7%C3%A3o-de-cromo-na-resist%C3%AAncia-insul%C3%ADnica-na-dislipidemia-na-inflama%C3%A7%C3%A3o-e-no-estresse-oxidativo-de-pessoas-HIV-positivo-com-lipodistrofia.pdf

 



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