08/05/2012
Lacuna de saudade - Luiz Henrique Anelo

Seu estilo bonachão, obeso, sempre de bermudas, um cigarrinho entre os dedos e um bom papo devido sua experiência de vida, nos prendia por longas horas de conversa. Eu o conheci através de dois amigos queridos, que hoje, infelizmente, também lhe fazem companhia na constelação da eternidade. Carlito Lopes - meu cunhado e o saudoso Zé Charaba.

Sua aparência era de alguém carente, um bebezão indefeso, mas portador de um enorme e bondoso coração.  Passava um sentimento de ter escolhido Ibaté como opção de moradia para fugir, supostamente, de algum trauma ou desilusão sofrida em sua vida pregressa. Seu profissionalismo, zelo e amor pelo que fazia, dispensa comentários. Seu pequeno Jornal, Folha de Ibaté, começou sem nenhuma expressão, devido a pouca credibilidade. Talvez, por ser um estranho recém chegado da vizinha Araraquara.

Sofreu algumas perseguições políticas como é praxe para quem vive da mídia escrita, falada e televisada. Não era de entregar os pontos.  Sua crença pela justiça, seu amor por Ibaté falavam mais alto. Certa vez relatou numa das nossas últimas conversas que trabalhava muito mais por ideal do que por dinheiro.

 Incentivava - me a visitar velhos amigos que aí deixei, dizendo que gostariam de receber minha visita uma vez que liam tudo o que eu escrevia.  Alguns me cobram quando você demora nos enviar seus artigos e crônicas - dizia-me. Esta sua atitude altruísta me motivou a continuar escrevendo histórias dos bons tempos da minha infância e juventude.  Talvez para me agradar, dizia que escrevo com o coração e dum jeitão meio caipira, e isso agrada quem tem um pé na roça como eu. Graças a Deus saí da roça, mas a roça nunca saiu de mim – retrucava a ele.

Foram muitas as sugestões que o Luiz me deu sobre vários temas para escrever, sempre homenageando pessoas e exaltando fatos históricos da cidade. E assim fiz, por várias vezes, tentando resgatar um pouco do passado de Ibaté, da minha época. Segundo ele, éramos carentes deste acervo.  Assim também fazem, a Regina Célia e o Lauriberto Ibelli, dando suas contribuições. Seu chavão era manjado, mas verdadeiro: - ”Um povo sem passado é um povo sem história”!

“E cada um de nós escreve a sua historia, cada um de nós tem o dom de ser feliz de ser capaz”... E assim amigo, você deixou uma bonita história para todos os Ibateenses. Foi uma grande perda sua partida para a eternidade, tão jovem, tão cheio de vida e projetos. Você deixou uma lacuna de saudade, mas estou certo que Deus ganhou uma ótima alma e os amigos que aí se encontram um grande companheiro. Sua semente germinou e a plantinha está cada vez mais viçosa e será cuidada com muito carinho pela Aline Serafim que tanto lhe admirava, como ser humano e profissional.

A vida nos prega peças a todo instante. Parece que Deus tem dado preferência para os bons. Vou lhe fazer um pedido em tom de gozação: Esqueça-me pelos próximos trinta e cinco anos e não conte com minha presença de jeito nenhum. Tenho me esforçado, sobremaneira, para não ser classificado como um dos bons, porque não tenho a pretensão de secar o talo tão cedo. Já reservei um hotel em Piracicaba para daqui a trinta e cinco anos quando estarei com apenas noventa e cinco anos (95), para comemorar setenta e cinco anos (75) de formado. Receba com carinho um fraternal abraço!

E VIVA O LUIZ ANELO E A FOLHA DE IBATÉ!

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Osvaldo Piccinin

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