09/05/2012
Banho de bacia !!!

Na roça, ninguém tinha o costume de tomar banho todos os dias. No máximo, se lavava o rosto, os braços e as pernas até na altura do joelho; que era o limite onde conseguíamos arregaçar a calça.
No verão era comum tomarmos banho de bica ou de rio, mas no inverno nem pensar! Toda família tinha uma enorme bacia de folha de zinco, que servia a todos, como uma banheira. A nossa ficava perto do fogão de lenha, num quartinho reservado.
Entre meus irmãos, ninguém queria ser o primeiro, principalmente quando fazia frio, era um tal de vai você primeiro que não tinha fim. Só mesmo quando nossa mãe dava a voz de comando é que a fila andava.
Um enorme caldeirão de ferro era colocado no fogão para ferver a água, e nossa mãe, pacientemente, ia temperando a água quente com a fria, e checando a temperatura, com cuidado, até ficar no ponto. Quando achava que estava no jeito, nos dizia: - experimente, acho que está boa.  Era um pé atrás do outro, até nos sentarmos por completo naquela deliciosa água morna!
Enquanto preparava o jantar no nosso charmoso fogão de lenha, ela nos ordenava várias vezes: - lave as orelhas, lave o pescoço, tire o encardido dos pés.
O banho tinha que ser rápido, porque os irmãos estavam na fila. Usávamos sabão de cinzas - caipira – bucha vegetal ou caco de tijolo para tirar o encardido dos pés. Após o banho nossa mãe nos enxugava, coisa que eu detestava que fizesse.
Se ela percebesse que estávamos demorando muito, a bronca era certa; isso quando não, já meio sem paciência, acabava de nos dar o banho. A ordem era: - feche os olhos moleque, senão entrará sabão! E como ardia, este tal de sabão de cinzas, feito com soda cáustica, pinhão manso, cinzas e barrigada de porco!
Os pés da molecada eram encardidos de tanto andar descalços, pisar na lama e na terra vermelha. Dizíamos que se pisássemos num prego este entortaria tamanho era o cascão nas solas dos pés.
Meu primeiro banho de chuveiro foi com doze anos, quando mudamos para a cidade. Claro que achei maravilhoso, apesar do tremendo choque elétrico que tomei.
Confesso que nosso banho de bacia tinha um quê de romantismo, principalmente quando tomado sob a luz de uma lamparina à querosene!
E VIVA O BANHO DE BACIA!
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Osvaldo Piccinin

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