19/06/2012
Tributo a uma grande mulher .

Seu nome  Maria Apparecida Sant’ Anna. Nome simples, comum. Décadas atrás , significativo. Era o nome completo da  Dona Cida a costureira, da Vila Leão e de  muitos  melhoramentinos da época. Nasceu em família pobre, primeira de doze filhos.Aos 14 anos casou-se,mas continuou participando da casa dos pais,ajudando na criação dos irmãos menores.Teve o primeiro filho aos 24, mas nove meses depois ele falecia.Sofreu  assim,sua primeira perda entre muitas, que teria ao longo da vida.Teve em seguida mais 2 filhas e seu lado materno se fortaleceu.A partir de então ,só crianças,não só  as dela, passariam a fazer parte de seu cotidiano.Cuidou de sobrinhos, filhos de vizinhos,afilhados e de outros tantos que se perdeu a conta .Batizou muitos.Dezenas.Sua casa tornou-se um espaço onde sempre cabia mais um quando fosse necessário.Dona Cida costureira, famosa por suas confecções, seus vestidos de noiva, de festa,de grávidas,de crianças, de homens e de todas as mulheres da Vila Leão.Dona Cida costureira que por anos a fio, mesmo com tantas crianças à sua volta, não deixou em nenhum momento de ajudar o marido nas despesas da casa.Ainda lembro-me dela, pedalando sua máquina de costura e nós crianças, no mesmo quarto, no chão, a brincar com sua lata de botões.Com toda a tarefa da casa,costura e crianças,sempre achava tempo pra  ajudar uma vizinha doente ou um parente com problemas.Espiritualidade era sua inspiração.Dedicava-se à religião não só com devoção, mas com amor.Cumpria as atividades da igreja,da comunidade como lenitivo,como vocação e com felicidade.A mudança de casa, para a Rua Guadalajara, pouco alterou sua rotina.Ao contrário,com a viuvez,assumiu mais tarefas .Não queria pedir nada a ninguém.Além da costura,começou a lavar e passar roupas pra fora,a fazer faxinas e crochê.Lembro-me de pelo menos  dez famílias a que ela prestou serviços de lavadeira.Lembro-me do varal de casa sempre cheio.Lembro-me das peças bem  passadas,arrumadas,amarradas num pano de saco branco com um bilhetinho marcando a quantidade e o valor.Lembro-me de suas caminhadas pelas ruas da Cresciúma entregando de casa em casa o fruto de seu árduo trabalho.Lembro-me de seus dedos feridos pelo sabão,no final da noite,enrolados  num lenço com pomada.Lembro-me de todas as suas dores e de sua determinação em nunca se deixar vencer por elas. Lembro-me de seu vestido manchado, que o avental já não protegia, pelas longas horas debruçadas no tanque.As dificuldades foram grandes, mas  ela nunca se lamentou,nem se revoltou.Ao contrário,trabalhou com aceitação e coragem.Mesmo cansada dispunha-se a ajudar ou ouvir quem dela precisasse.Sua casa foi uma casa de portas abertas .Seu coração foi doce,transbordante de amor.Por todos,sem distinção. Ajudou a tantos. Ajudou muitos.Ajudou a mim,sua afilhada,sem nada cobrar e sem nada pedir em troca.Suas atitudes   foram enérgicas e sérias,mas  só me foram positivas.Com  seu exemplo diário aprendi  que honestidade, caráter e responsabilidade são requisitos básicos para se conseguir algo na vida. E com seus ensinamentos de humildade e generosidade despretensiosa, pude  ter uma vida  também justa e recompensadora.Criando-me como filha,acolhendo-me em sua casa,transformou-me em parte de sua família e me ensinou a viver.Devo-lhe tudo: os lindos vestidos,a presença sempre incansável,o primeiro emprego,o carinho,a dedicação e o amor  . Hoje aos 98 anos,seu corpo e sua mente já não são como  foram no passado.Seus olhos me enxergam,mas nem sempre me reconhecem.Seus pensamentos vagueiam por locais que eu ignoro .O que fomos e vivemos um dia ,parecem esquecidos por ela que já não tem mais a consciência do quanto foi importante na minha vida e na de tantas outras pessoas. Mas finalmente compreendo que, a plenitude da vida desta mulher foi isto:Amar sua família,seus amigos,vizinhos,suas crianças todas e a Deus materializado a todo instante em suas atitudes de  generosidade, afeto e honestidade.E se, por mil razões, não tive a sorte de conviver com minha mãe biológica ,com certeza fui abençoada por ter vivido intimamente ao lado  desta maravilhosa e exemplar mulher: madrinha e  mãe de todos nós.A ela me rendo em homenagem e gratidão.


Fátima Chiati

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