19/12/2012
Diário de um homem sózinho em casa

Diário de um homem sozinho em casa


Segunda-feira. Sozinho em casa. A minha mulher foi passar a semana fora. Ora aí está uma excelente mudança. Vamos passar uma semana inesquecível, o cão e eu.

Delineei um programa e organizei o meu horário. Sei exatamente a que horas me levantar, quanto tempo demoro no banheiro  e a preparar o pequeno-almoço.

Acrescentei o número de horas de que preciso para lavar a louça, fazer limpezas, passear com  o cão, ir ás compras e cozinhar. Fiquei agradavelmente surpreendido com o muito tempo livre que ainda terei. Não percebo porque é que as mulheres se queixam da lida da casa se tudo isso exige tão pouco tempo. O segredo está numa boa organização.

O cão e eu comemos um bife cada um ao jantar. Vesti-me a rigor, acendi uma vela e pus rosas numa jarra para criar uma atmosfera aprazível.

O cão comeu paté de foi gras como entrada, repetiu a dose como prato principal, com uma requintada guarnição de legumes e biscoitos à sobremesa. Eu bebi vinho e fumei um charuto. Há muito que não me sentia tão bem.

Terça-feira. Tenho de dar uma olhadela ao meu horário. Uns pequenos acertos. Expliquei ao cão que não se pode ter festa todos os dias e que por isso, não pode estar à espera de entradas e três tigelas de comida, que é claro, tenho de lavar.

Ao pequeno-almoço, verifiquei que o suco de laranja natural tem um inconveniente. É preciso lavar sempre o espremedor. Alteração possível: fazer suco para 2 dias. Assim só tenho metade do trabalho.

Descoberta: posso aquecer salsichas dentro da sopa. Menos uma panela para lavar. É claro que não pretendo passar aspirador todos os dias, como a minha mulher queria. De dois em dois dias é mais que suficiente. O segredo está em andar de chinelos e limpar as patas do cão. Quanto ao resto sinto-me ótimo.

Quarta-feira. Tenho a impressão de que afinal a lida doméstica leva mais tempo do que pensava. Preciso de repensar a minha estratégia.

Primeiro passo: comprei um saco de comida rápida. Não tenho de perder mais tempo em cozinhar. É um disparate perder mais tempo com a comida do que comê-la.

A cama é outro problema. Primeiro é preciso sair de dentro do edredão, a seguir arejá-lo e por fim fazer a cama. Que complicação! Acho que não vale a pena fazê-la todos os dias, sobretudo porque nessa mesma noite voltarei a deitar-me. Parece-me inútil.

Deixei de fazer refeições complicadas para o cão. Comprei algumas de lata. Ele fez má cara, mas não teve outro remédio senão comê-las. Se tenho de arranjar-me com refeições pré cozinhadas, ele não é mais do que eu.

Quinta-feira. Acabou-se o suco de laranja! Como é que um fruto aparentemente tão inocente causa tamanha confusão? É inacreditável! Vou passar a comprar suco engarrafado pronto para beber.

Descoberta: consegui sair da cama quase sem a desfazer. Basta-me depois alisar ligeiramente a roupa. Claro que é preciso uma certa prática, e não me posso mexer muito durante o sono. Doem-me um bocado as costas., mas nada que uma boa ducha quente não possa resolver.

Deixei de fazer a barba todos os dias. É uma perda de tempo. Assim, também, ganho uns minutos preciosos que a minha mulher, como não tem de fazer a barba nunca perde.

Descoberta: não vale a pena usar um prato lavado de cada vez que como. Lavar a louça tantas vezes começa a abalar meus nervos. O cão também pode comer só numa tigela. Afinal, de contas é um animal.

Nota: cheguei à conclusão de que basta passar o aspirador  no máximo uma vez por semana. Salsichas ao almoço e ao jantar.

Sexta-feira. Adeus sucos de fruta! As laranjas são muito pesadas. Descobri o seguinte: as salsichas vão bem de manhã. Ao almoço nem por isso. Ao jantar, nem vê-las.

Salsichas mais de dois dias seguidos enjoam. O cão, esse, está a comida seca. Afinal de contas tem os mesmos nutrientes, e não suja a tigela.

Descobri que posso comer a sopa diretamente da panela. Dá no mesmo.. nem tigela nem concha. Assim já não me sinto tanto como uma máquina de lavar a louça. Já não lavo o chão da cozinha. Irritava-me tanto como fazer a cama. Nota: acabaram-se as latas. O abre latas fica todo pegajoso!

Sábado. Que ideia é esta de me despir à noite se tenho de voltar a vestir-me de manhã? Aproveito mas é o tempo para ficar mais um bocadinho na cama. E também não preciso de colcha, por isso a cama está sempre feita.

O cão encheu tudo de migalhas. Coloquei-o na rua de castigo. Não sou criado dele! Que estranho. De repente, dei-me conta de que é o que a minha mulher me diz ás vezes...

Hoje é dia de fazer a barba, mas não me apetece nada. Tenho os nervos em frangalhos. Ao pequeno almoço, só as coisas que não seja preciso desembrulhar, abrir, cortar polvilhar, cozinhar sem misturar. Tudo coisas que incomodem.

Plano: comer diretamente do saco em cima do fogão. Nem pratos, nem talheres nem toalha. Tenho as gengivas um bocado inflamadas. Deve ser a falta de fruta, que é muito pesada para carregar. se facilitar,  estou com princípio de escorbuto.

A minha mulher telefonou à tarde a saber se tinha lavado as janelas e posto a roupa para lavar. Desatei a rir meio histérico. Disse-lhe que não tinha tempo para essas coisas.

Há um problema com a banheira. Está entupida. Também não estou para me chatear. Não me incomoda muito porque deixei de tomar ducha.

Nota: o cão e eu comemos juntos diretamente da geladeira. Tem que ser depressa. Não convém deixar a porta aberta muito tempo.

Domingo. O cão e eu estamos sentados na cama vendo televisão. Vemos pessoas a comer todo o tipo de iguarias. Salivamos os dois. Ambos estamos fracos e rabugentos.

Esta manhã comi da tigela do cão. Nenhum de nós gostou. Precisava de me lavar, barbear, pentear, fazer comida para o cão, limpar a casa ir ás compras e uma série de outras coisas, mas não arranjo forças.

Sinto que estou a perder o equilíbrio e que a vista me está faltando. O cão deixou de abanar a cauda. Num último reflexo de sobrevivência arrastamo-nos até um restaurante.

Durante uma hora, comemos toda a espécie de pratos ótimos. Em seguida, fomos para um hotel. O quarto é limpo, arrumado e confortável. Descobri a solução ideal para o governo da casa. Não sei se a minha mulher já se terá lembrado disso.

 



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