28/10/2021
Batendo na trave

Um dia desses, meu neto-filho, fez uma ligação de vídeo para mim (ele mora em outro país) e disse que precisava conversar “umas coisas” comigo. Estava preocupado pois tinha percebido que o tempo passou muito rápido, agora ele já tem 25 anos e, fazendo as contas, viu que eu estava ficando “velhinha”! Aconselhou-me a tentar viver a vida de uma maneira mais “ ligth” possível, porque afinal eu já tinha “batido na trave” várias vezes, e claro ,meu tempo aqui na terra pode não ser longo! Depois de nossa conversa séria, eu realmente parei para pensar em quantas vezes eu bati na trave, independente das doenças que já enfrentei,

mas sim nas inúmeras vezes que tive uma arma apontada para minha cabeça. Acho que tinha me esquecido desses fatos, mas resolvi contar pra vocês.     A primeira vez que isso ocorreu foi num mês de dezembro quando saímos, eu e meu ex marido, para fazer as compras de natal, na cidade de São Paulo.  As ruas estavam cheias de gente e de repente percebi que ele começou a trocar de calçada varias vezes, andava meio sem rumo, e quando pensei em questiona-lo sobre isso, senti um tranco e no minuto seguinte ele estava caído no chão, gemendo de dor enquanto um enorme afro descendente apontava uma arma para ele.

Furioso, o ladrão dizia que ia atirar porque percebeu que ele tentou fugir do roubo.  Eu vendo aquela situação, simplesmente coloquei a mão no peito do ladrão e disse: “por que você vai matá-lo? Já não o machucou? e está levando o dinheiro?” Ele, surpreso com minha atitude, virou a arma para mim dizendo: “ tá querendo morrer no lugar dele dona?  Tá louca?” Respondi dizendo que não queria morrer e nem que ele matasse o meu ex-marido.

Então ele simplesmente me olhou dos pés à cabeça e disse: “vai embora, você é doida!”   2) Dessa vez foi no trânsito, eu estava dirigindo e levei uma fechada violenta, me obrigando a jogar o carro para a calçada. Meu acompanhante, o ex-marido, colocou a cabeça pra fora e xingou: “seu filho da P.!” Bastou isso para o dono do outro carro abrir a porta e sair com uma arma na mão, e para meu espanto, apontou para mim dizendo: “repete se for homem!  e eu mato sua mulher aqui e agora”. Muito fdp mesmo esse covarde. Mas nesse momento a esposa do louco, saiu do carro e tirou a arma da mão dele.  Benditas sejam as mulheres de fibra!  

3) Meus filhos estudavam num colégio de padres, que embora muito bem conceituado, ficava muito perto do centro de Santos onde havia muito comércio e também muita bandidagem. Certa tarde, saindo do estacionamento da escola, peguei um congestionamento e estava parada com a janela aberta… eis que do nada aparecem dois motoqueiros brigando e um deles caiu exatamente na altura da janela de meu carro. Ele ficou com a cabeça encostada na minha e o outro chegou com uma arma na mão e gritava: “vai me pagar, ou vai morrer?”. Eu, em choque entrei em pânico, meus filhos começaram a chorar, quando me ouvi dizendo: “ele paga você sim, mas não atira pelo amor de Deus!”.  Nesse momento o rapaz que estava colado na minha cabeça pediu para sair, me liberar com meus filhos, que eles iriam conversar.  Foi só ele desencostar a cabeça, que arranquei o mais rápido que pude. Até hoje não sei se ele pagou a dívida …  

4) Esse fato vou contar porque a pessoa em questão já se foi desse planeta e acho que não vai ficar bravo comigo.  Era um amigo que, logo depois que me divorciei, passou a querer cuidar de mim como um verdadeiro cão fiel. Sei lá se ele achava que eu não saberia viver sozinha nesse mundão.  Cuidava tanto que começou a irritar-me, pois como era investigador de polícia, entrava em qualquer lugar e “coincidentemente” aparecia sempre nos lugares que eu estava.  Certa vez, me dirigindo para a casa de uma amiga, notei que ele estava me seguindo com seu carro e fiquei muito irritada, brava mesmo… parei meu carro, fui até onde ele, estava apontando meu dedo no nariz dele, dizendo uma porção de impropérios, que não convém repetir aqui.  O colega que estava com ele, também policial, caiu na risada vendo a cena, o que deixou meu amigo perdigueiro muito ofendido na sua moral de macho e creio que, por isso, numa atitude impensada, ele sacou sua arma e apontando para mim disse: “abaixe esse dedo…mulher nenhuma aponta na minha cara”.  Eu, sinceramente surpresa, fiquei ainda mais brava e dizendo mais um desaforo, virei as costas e saí andando em direção ao meu carro, mas rezando baixinho para que o doido não me desse um tiro… vai que ele estivesse doidão! Tempos depois, ele pediu perdão, mas mesmo assim, só parou de me “cuidar”, quando conheceu meu atual marido.      Hoje com mais idade, não sei como reagiria nessas situações, mas já não me arrisco tanto sozinha nas ruas, embora saiba que, para morrer basta estar viva, né? Por hora, vou vivendo da maneira mais leve possível, com muito mais cuidados,  só não abrindo mão das minhas caminhadas na praia, onde acho mais  improvável que surja mais um maluco para me apontar uma arma na cabeça, embora não abuse na  minha confiança. 

Acredito ainda que existem armas que podem nos ferir ainda mais, principalmente nossa alma: a ingratidão , a deslealdade, a mentira, a ausência, a indiferença ao sentimento alheio… Mas, se estamos aqui nesse planeta é porque ainda temos muito que aprender! Vou aproveitando o tempo que me resta, brincando e rindo porque chorar faz pés de galinha.   

Selma.



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