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A velha Vila Nova - 1ª parte


--É leitor, como você gostou do passeio até a Vila Leão nós voltamos aqui, agora, para um passeio pela Vila Nova. Rostos e mais rostos serão lembrados.

--Que bom! Assim eu me afasto desse presente desencantado de amizades.

--É mesmo e... Chegamos. Vamos percorrer primeiro pelo lado direito da rua. Olha, esta primeira casa é do Américo Zanon e esposa Tereza Baboim Zanon. Seus filhos são Egidio, Alcindo e Nerina. A avó Maria Reginatto Zanon também mora com eles. Aqui é que foi instalada a primeira televisão do Bairro da Fábrica e talvez a primeira de Caieiras. Uma novidade que a vizinhança curiosa também comparecia para assistir. Bom, aqui já viramos à direita e vemos a rua em subida com casas em ambos os lados. Lá em cima no fim desta subida, de frente para nós está à casa do Alfredo Satrapa, logo chegaremos lá. É devagar vamos subindo e... Aqui, vizinho da família Zanon é a casa do João Lisa e Dona Angelina Luizatto com os filhos Nestor, Olivia, Antonio (Nino), Darcio e a Cidinha. Nesta outra temos o Pedro e Dona Joaquina Marim com as filhas Lucia, Amélia e Letícia. A partir daqui não mais me lembro ao certo a sequência dos moradores. Viu, viu, antes deste passeio conversei com algumas pessoas que moraram aqui e elas me confundiram mais ainda sobre os moradores daqui. Parecem estar mais esclerosadas do que eu (risos). Então, prosseguindo, esta casa depois do Pedro Marim penso que é a do Senhor João Nicola e da Dona Maria com as filhas Ruth, Cynira e a Aracy. Mas que saco, ninguém sai na janela pra nós reconhecermos quem mora nessas casas, que gente orgulhosa. Aqui deve ser a casa do Jorge Mans e Dona Ada. Filhos: Valdir e Vilma. Valdir era o bom e famoso goleiro do primeiro quadro do CRM e o Vivaldi Nani dizia que ainda iria “roubar” a posição de goleiro dele. E não é que o Valdir quebrou o braço e o Vivaldi o substituiu mesmo no primeiro quadro de futebol?

--Estou me lembrando disso e o Vivaldi ficou sendo o goleiro titular.

--Isso mesmo e estamos agora defronte à casa do Senhor Antonio Guilherme e Frida Bierbaumer de Moraes cujos filhos são: Roberto, Elza e o caçula Carlos Alberto. Próxima casa, se não me engano é a da Família Maderick, Dona Alice, seu marido, e os filhos Miguel, João, Catarina, Maria, Izabel e Julinha. Esta família cuidava da Igreja de São José e catequizou muita gente, inclusive. Sim, ministravam o catecismo e a preparação para a primeira comunhão. Como bem orientado me tornei um religioso fervoroso. Nunca tive uma namorada, só a minha esposa e até me casei virgem.

--Ah essa não, mentira pra cima de mim, não.

--Verdade sim, eu me resguardei porque meu sonho era ser padre (risos).

--Mas como se manter virgem com tantas moças bonitas por aqui?

--Xi, mas elas eram difíceis. Não davam “colher de chá” pra nenhum e eu não tinha como me “desvirginizar”. Elas também se casavam virgens. Pra casar tinham que confessar e era pecado mentir. Se confessassem para o padre que tinham feito porcaria antes de se casar, o padre não as deixava casar de branco. Todas elas se casaram de branco, então... Bom, aqui já é a casa do Augusto e Jandira Casarotto, pais do Adilson (Tchinim) e da... Esqueci o nome dela. Esta penúltima casa é a do Alfredo Leite e esposa e dos filhos Cacilda, Zenaide, Esther e José (Mais conhecido como Zé Araujo ou pelo apelido de Zé chifrudo). Mais velho que nós, ele era da turma do meu irmão Walter, do Golhardo Olimpio, do Delfim, primo do Golhardo, do Zé Pereira irmão do Chistão e outros. O Delfim se casou com uma professora, se mudou para uma cidade do interior e lá, como se soube, ele suicidou-se. Ah, Nessa casa por um tempo morou também uma morena bonita de nome Dinorá. Nunca soube o vínculo parentesco que tinha com a Família Leite. Mas, aqui estamos na última casa do lado direito. Rubens Cruz, Dona Maria e os casal de filhos Terezinha e Roberto. Agora viramos à esquerda tendo a nossa direita a casa do Alfredo Satrapa e esposa com seus dois filhos, Eduardo (Ede) e o Paulo. Agora viramos à direita e continuamos subindo. Vizinho do Satrapa morou o Senhor Assis e Maria Fernandes, pais do Nelson, da Diva, do Ademarzinho e da Sueli antes de se mudarem para a Cresciuma. Depois dele veio morar o Senhor Elpídio e Dona Cecília, pais do Hugo, da Floripes e da Sonia. O vizinho é o José (Bepe) Massinelli e Dona Cotinha. Filhos: Toninho, Gervasio, Zenaide, Celina e Márcia Colina. O Bepe ensinava música. Agora aqui é a casa dos irmãos Gondaris: Estefano, Leopoldo, Manuel e Maria. O Primo Gondari nem morou na Vila Nova, se casou foi morar no Bairro Chique e depois foi morar lá no Barreirro. A Angelina Gondari se casou com o Afonso e foram morar na Vila Ilha das cobras onde criaram um sucuri macho e isso foi muito comentado. Por falar nos Gondaris, eles eram parceiros do Alberto e do Vitório Olimpio, do Timóteo Santana, do Mingo Mussolini e de outros, que, escondidos, jogavam 21 (baralho) no mato e a dinheiro. Isso era proibido, por isso, temiam ser vistos pelos alemães chefões da Cia. Melhoramentos. Ah, o Alberto às vezes ia de moto buscar o padre do Bairro de Perus para jogar 21 também e que joguinho abençoado. Bem, aqui está à casa do Genésio Gerólamo (chefe do armazém) e esposa com os filhos Aloizio, Alcides e Alceu. O primeiro e o terceiro eram conhecidos como “cabelos de fogo”, pois, eram ruivos. Agora estamos defrontes a última casa, a do Anton Raquel, esposa Elza e os filhos Raine, Wile, Elga, Glorinha e o Tony. O Wile, a Elga e a Glorinha foram morar na Alemanha. Eu até pensava que o Maquináia (Orlando Lopes) morava com eles, mas, não. Ele sempre estava no porão da casa onde consertava e mantinha várias bicicletas para emprestar para as meninas da vila e os meninos ficavam chupando o dedo. Numa dessas casas morou também o Zé Branco casado com a filha do Senhor Alfredinho, aquele que administrou o restaurante para alguns chefes da Cia Melhoramentos, isso lá no clube do CRM até que o incêndio do salão do cinema danificou parte do restaurante. O Bugalhera também morou por aqui só não me lembro em qual casa. Outros também por aqui moraram antes de se mudarem para outras vilas.

--É, que boa recordação, não? Mas, sabe o que percebi? O lugar é machista. Primeiro você “declina” os nomes dos homens, como por exemplo: Esta é a casa do fulano e esposa como se elas sempre estivessem em segundo plano.

--(Risos e mais risos). Bom, se manter em seus lugares as mulheres daqui, elas sabiam (risos e mais risos). Caramba, você é observador e eu gosto de gente assim. Quando alguém está a anunciar algum evento, sei que de bom alvitre primeiro é se anunciar para as mulheres como, por exemplo: Ladies and gentlemen, “Senhoras” e Senhores o evento de hoje... Agora te explicando, as casas da Cia sempre estiveram sob a responsabilidade de seus empregados, entretanto, a maioria de suas esposas eram apenas “donas de casa”, daí o sempre se referir ao homem em primeiro lugar como se eles fossem mais importantes. Satisfeito com a explicação? Sabes? No jornal eletrônico “A Semana”, publicadas estão muitas histórias do nosso passado. Isso tem sido bom, porque, alguns de nossos conhecidos estão a se contatarem para relembrarem suas histórias. Infelizmente alguns são inibidos e não participam disso, uma pena, pois, a cidade de Caieiras encontra-se agonizando das amizades e das convivências entre seus remanescentes. Mais pessoas deviam lembrar suas histórias, escrevê-las e as enviarem para o jornal. Na redação temos o Dr. Estanguelão que as revisa bonitinho, às recompõe às vezes, ainda mais que, está aposentado e o dia todo só “coça o saco”. Como te falei, antes deste nosso passeio conversei com algumas pessoas que aqui moraram e elas auxiliaram na recomposição dos nomes esquecidos por mim. São elas: Cidinha Caldo, Agenor Mandri, Eduardo Pinto Cunha (o Sucuri), Máximo Pastro e a Rose Marie da Silva, esta, filha do Tito e da Dona Esperança. Eles também participaram nas lembranças do lado esquerdo da Rua da Vila Nova, que, estarão a seguir destas. O Senhor Alcindo Zanon, como os outros, também ele demonstrou seu companheirismo ao compor uma lista com os nomes dos moradores desta vila e a enviou para o Renato Marquesini. Este nos repassou essa lista. O Jornal “A Semana” aqui exterioriza os agradecimentos a todos eles, como também a você leitor que “aqui está me acompanhando neste passeio”. Logo daremos início para “rever” os moradores do lado esquerdo da rua, mas, antes disso temos agora os nossos comerciais. Não saia e não saiam daí que logo nós voltamos para a sequência do programa “Velha Vila Nova”.

Plim, plimmmmmmmm...

Altino Olympio

Comentários

Sobre a crônica Velha Vila Nova

Mais uma vez quero parabenizar este jornal pela crônica “Velha Vila Nova”. A forma como está descrito o lugar é muito interessante e o leitor acaba viajando pelo tempo e espaço. Mergulhados e concentrados na leitura da forma como ela é colocada temos a nítida impressão de realidade, parece que estamos ali vivendo aqueles momentos descritos. Pouco, mas muito pouco eu conheci a Vila Nova, morava no bairro de Perus e era criança ainda, mas pegava minha bicicleta equipada com farol e vivi a maior parte de minha infância dentro da Cia Melhoramentos. Sempre à tarde eu ia de bicicleta pela antiga Rua Inácio em perus e acabava chegando no Km 3,5 da Maria Fumaça da Fábrica de cimento Portland (Estrada de Ferro Perus a Pirapora), atravessava a linha e passava a porteira da represa sempre aberta pelos meus amigos Angelo Streuli e seu irmão Alberto Streuli. Por vezes quem abria a porteira era o Sr. Alfredo Streuli (pai). Tomava um café com eles e seguia então para a Vila Leão, que foi a minha maior vivência juvenil. Detalhe, nessa época eu tinha 13 anos de idade. Arranjei namoradas lá, e apesar de ser de Perus minhas amizades eram todas da Fábrica de Papel Melhoramentos, ali estavam meus amigos de verdade.
Tempinho tão bom, que se voltasse faria tudo novamente.

Delmonte Vicêncio