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A velha Vila Nova – 2ª parte

 

Plim, plimmmmmmmmmmmmm.
--Oi leitor cansou-se de ouvir os nossos comerciais e os anúncios? Agora podemos reiniciar a subida da Rua da Vila Nova, agora, percorrendo pelo lado esquerdo dela. Os comerciais foram úteis: “Abandone os sabugos e as folhas de jornais, compre papel higiênico Sublime da Cia Melhoramentos. Abandone os paninhos (nunca vistos pelos homens) e use os modernos absorventes do armazém do Genésio. Frutas, legumes e verduras comprem na quitanda do Sato. É sem igual se você comprar Cesta de Natal Amaral. Carne que não se compare compre no açougue dos Molinaris, não naquele onde trabalha o Batista que sem esmero vende carne com pelo”. Verdade leitor, ele tem os braços peludos e entre cortar uma carne e outra, ele com a mesma faca raspa-a nos braços para retirar restos de carne grudada e os pelos... “Não fique sem calça como índio que vive no mato encomende uma na costureira Bruna Carezatto. Leite puro misturado com pouca água, de boi ou de cabra, o Luiz Molinari também tem e não se acaba. Leite bão é o da Vila Leão, no leite água não deixa rastro porque é do Zé Pastro. Com tempo bom ou mal o filho Roque entrega na sua casa portando num bornal”. Ah leitor, o Roque transportava litros de leite num bornal de pano. Se lembro, no lado do peito cabiam quatro litros e igual era nas costas. O bornal era introduzido pela cabeça sendo de duas partes, uma dianteira e outra trazeira. Numa ocasião, com uma estilingada alguém acertou num dos litros e foi só leite que esparramou. Quem teria sido o malcriado que fez isso? O Roque às vezes tinha que se livrar do bornal para aos socos e pontapés se defender do Armandinho da Silva, o filho do Domitílio. Eu não sabia porque existia tanta rincha entre os dois. Continuando... “Faça como o Brito tome pinga Parnaíba para evitar atrito ou faça como o Pasquim tome pinga Parnaíba até o seu fim. Participe do piquenique na “Represa” e se tiver sorte poderá ver a calcinha da Tereza. Aos domingos no Lago do Tancão frequente as termas e se cure vendo as moças mostrando suas lindas pernas”.
--Caramba! De fato, essas propagandas ai... Faltou o catar pinhão e o nadar na Ponte seca. Nossa, revivi tudo. É como se eu estivesse em todos esses lugares.
--Ah é? Que bom, então vamos agora prosseguir no objetivo de nosso passeio. Esta primeira casa aqui do lado esquerdo da rua é a do Hilário Carezatto e da Dona Bruna e dos filhos Vanda, Alcides, Durval e Nildo. Dona Bruna, ótima costureira. Segunda casa, Natal Nani e Dona Antonia. Filhas, Cida e Ditinha. Ah, também o Wagner filho da Cida. Nesta terceira... Francisco Pastro (Keko) e Dona Catarina com os filhos, Ida, Amábile, Zefa e o Armando. Na quarta casa terminando uma pequena reta da rua está à casa do Pedro Caldo e Dona Antonia e do casal de filhos Cidinha e Rogério. Antes aqui moraram duas famílias, a do casal Almiro e Julieta Oliveira, talvez já com os filhos Nardo, Adalto e Marlene. Nasceu-lhes outra filha, mas, já lá na Cresciuma. Depois morou o Edmundo e Ditinha Donas com os filhos Odair (Casquinha) e a Elisabeth, esses foram morar no barreiro. Aqui existia uma árvore lembrada pelo Alcindo Zanon que, tendo espinhos em suas folhas, elas caiam e os meninos que pisavam nelas choravam de dou (risos). Agora viremos à direita e olha lá pra cima a casa do Alfredo Satrapa outra vez. Subiremos até lá e dobraremos à esquerda e seguiremos até a última casa. Bom, nesta reta agora em subida esta quinta ou a primeira da subida é a do Antonio Pastro casado com a Maria filha do Sr. Generoso. Eles têm três filhos: A Cida, a Nena e o Máximo. Penso que era aqui, na rua e perto da cerca da casa deles onde tinha uma árvore “dama da noite” que exalava um perfume inesquecível. Já pensou que gostoso teria sido você com uma moça daqui trocando carícias num romance sob a árvore?
--É mesmo e até me lembrei de uma daqui, bonita e que me dava bola.
--Ah é? Depois você me fala quem era ela, pois, sou muito curioso. Mas, continuemos. Aqui é a casa do José Carezatto e da Dona Luzia e dos filhos Pedro, Olga e Eurides. A seguir está família do Henrique da Silva (Tito). Sua esposa Esperança e os filhos Rose Marie, Walter, Ademar e Otávio (Bitchim), este, foi um amigão meu. A seguir temos o João Generoso e Dona Cantilha e as filhas Joana, Maria e a Ditinha. Casado com a Joana, o Luiz Constantini veio morar com eles, a Neusa e a Norimal são suas filhas. Aqui, casa do Amadeu Lucietto e esposa Maria. Filhos: Lola, Amadeu (Tuim), Waldemar, Levi, Walter, Clarice, Nadir, Ana e Alair. Falo-te rapaz, o Senhor Amadeu era surdo e até o chamavam de Marconi porque ele consertava rádios. Também construía apetrechos de cozinha, como, canecos de lata de óleo, tachos e etc. O filho Tuim foi um dos bons goleiros a existir por aqui. Mas... Mas... Que tristeza pairou aqui, ainda me emociono ao lembrar. A filha Clarice era noiva de um rapaz lá de Perus. Tão querida que era... Ela adoeceu e assim permaneceu por vários dias até quando morreu. Daqui da casa dela até lá na casa do Pedro Caldo você quase não conseguia andar devido a tanta gente que tinha aguardando a hora da saída para o enterro. Família e amigos muito entristecidos e o noivo, então, eu vi, ele chorava e chorava.  Olha me deu um “nó” na garganta que não esqueço tudo porque tive vergonha de chorar. A tristeza se manteve por uma semana no comentário local. Disseram que o noivo ao chorar dizia que nunca mais iria ficar noivo e nem se casar com outra. Não sei se manteve essa promessa. Logo o ano 1954 chegou para a inauguração da energia elétrica no Bairro de Perus. Meu pai me levou dizendo que ia ter churrasco e pensava eu “que será isso?” De fato comi o primeiro churrasco e era para nunca mais esquecer. Meu pai passou por uma barraca e lhe deram uma vara comprida com um grande pedaço de carne na ponta. Depois a levou para assar onde tinha vários canteiros de brasa compridos e depois de assada ele a cortou em pedaços com o canivete e me deu. Entretanto ia ter uma atração que eu não sabia. Todos foram ou para uma pracinha ou para o campo de futebol do Portland Futebol Clube. Sim, a atração era sobre um homem que iria pular de paraquedas de um avião. Eu o vi lá no céu, ele pequenino ao saltar. Mas, ele errou o pulo e ao invés de cair no campo de futebol, ele caiu na plantação do Japonês, cujos filhos até hoje são donos da quitanda de Perus. Sabe quem era o paraquedista? Era aquele noivo que muito chorou pela morte da Clarice Lucietto. Depois vários anos se passaram até o dia em que ele, em outra cidade, ao outra vez pular o paraquedas não abriu e ele morreu. Viu, essas historia do paraquedista não faz muito tempo alguém me confirmou. Por que te falo isso? De uma conversa com alguém, como esta nossa, eu posso transcrevê-la numa crônica e a envio para o jornal. Como é desagradável se depois de publicada eu perceba alguma inverdade. Ah, por falar nisso sem querer eu menti pra você. Lembra-se sobre eu ter dito que o Zé Araujo foi visto lá em Peruíbe? Pois é rapaz. A pessoa que me falou sobre ele disse que lá em Peruíbe conversaram sobre ele e não que ele esteve lá. Conversar com velho é assim mesmo, eles falam e enrolam tanto que a gente se confunde. Bom, o sol está muito quente, vamos parar um pouco para eu te contar uma fofoca.
--Ah é? Que bom. Nada como ser bem informado e disso eu gosto.
--É te conheço, você é chegado numa e dizia que não era, como muitos que conheço. Se lembra daquele cara e daquela mulher que...

                                                                                                  Altino Olympio