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22/10/2015
Sergio Valbuza o Maestro e a cultura em Caieiras

Caieiras é uma mata virgem onde existe apenas a fábrica de papel, e algumas casas onde residem os poucos empregados que trabalham na fabricação de papel.

Estamos no ano de 1920. Nessa época não existia em Caieiras o rádio, não havia divertimento algum.

Vamos falar em música. Por falta de diversão, surgiu a ideia de formar-se uma banda de música.

Essa ideia foi bem aceita entre os moradores e também pela direção da firma, que imediatamente foi posta em prática.

Não havia ninguém com conhecimentos musicais.

Foi contratado um maestro que naquela época era tenente da Força Pública, chamado Leoncio, que imediatamente começou a ensinar música para os interessados a ingressarem na banda.

Com apenas três meses de ensino a banda conseguiu ensaiar um pequeno dobrado.

Os instrumentos foram adquiridos pelos próprios músicos.

Como não havia recinto para ensaio, a banda ensaiava dentro da fábrica, com as máquinas funcionando.

Os músicos compraram também os uniformes.

A banda recebeu o nome de Corporação Fábrica de Papel.

Vendo o progresso da banda e boa vontade dos músicos, a Companhia cedeu uma pequena casa de família, situada a Rua do Barbeiro, para que fosse a sede da banda, e onde a banda passou a ensaiar.

Nesta pequena sede foi formada a primeira sociedade, para manutenção da banda, onde todos os sábados e domingos eram feitos bailes, abrilhantados pela própria banda.

Esta banda foi formada pelos seguintes músicos: Maestro – Leoncio / Clarinetes: Renato Guidolim, Antônio Martine e Benedito Sales. / Bombardino: Bentovólio Guidolim. / Trombones: João Valbusa, Carlos Barnabé e Alberto Caminada. / Pistons: Pompilio Gava, André Zuglian e Guerino Luizato. / Baixo: Américo Zanon, Genis, Pedro Ulman, Ermane Cavaleti e Luiz Gabriel. / Bombo: Ângelo Zanon. / Pratos: Leão Meneguini. / Caixa: Constantino Toigo.

Com a morte do maestro Leoncio, veio para Caieiras para dirigir a banda o maestro Arthur Patti, por sinal um excelente regente.

A Corporação Musical Fábrica de Papel ficou uma sociedade muito forte, não havendo mais problemas para a manutenção, e sempre diversões para seus associados.

Nesta época é formado um Clube de futebol, cujo campo de treinamento ficava no alto do caminho da ponte-seca.

Apesar do esforço dos jogadores e da diretoria do clube, o futebol vai muito mal por falta de verba para manutenção do mesmo.

Quando o clube de futebol está prestes a se desfazer por falta de uniformes, e demais materiais esportivos, surge a ideia de se unir futebol com a banda de música que estava com a sociedade muito forte.

A Companhia Melhoramentos de São Paulo cedeu uma grande área de terreno onde os próprios músicos e associados, construíram aquela beleza de salão, e o campo de futebol, que recebeu o nome de Clube Recreativo Melhoramentos.

Todo o material para construção do novo clube foi cedido pela Companhia Melhoramentos e a mão de obra pelos próprios associados, que nas horas de folga trabalhavam na construção do novo clube.

No começo da Fábrica de papel o material que era todo importado para a fabricação de papel era transportado por barcos pelo rio Juqueri, da estação ferroviária até a fábrica de papel.

Logo depois a Companhia Melhoramentos de São Paulo, constrói uma estrada de ferro que ligava ao bairro do Monjolinho, Calcária e Bom Sucesso.

Duas vezes por ano, a Companhia colocava suas locomotivas a carvão com 10 ou 15 vagões abertos, com bancos, em  cada vagão era colocado um barril de chopes, no vagão do centro da composição era colocado a banda de música e era feito um passeio da fábrica de papel até o Bom Sucesso, num percurso de mais ou menos 30km de ida e volta, com todos os empregados e famílias, que se deliciavam com o passeio, chopes, e ouvindo a banda.

Esse passeio durava o dia todo, porque o trenzinho andava bem devagar, e com paradas frequentes, para que todos pudessem admirar a paisagem e saborearem seus lanches com toda segurança.

Com a saída do maestro Arthur Patti da regência da banda musical, assumiu os destinos da banda o maestro Abilio Vieira.

Nesta época chega a Caieiras um exímio saxofonista da marinha de guerra do Brasil, chamado Francisco de Assis Fernandes, que ingressa na banda e fica como contramestre com Abilio Vieira.

Com a vinda de Francisco de Assis Fernandes a Caieiras, o clube Recreativo Melhoramentos evoluiu muito, porque ele era um homem dinâmico, gostava muito de música, de teatro.

Não demorou muito para que ele armasse um grupo teatral infantil e de adultos, dando nova vida ao clube, que acabou sendo o mais frequentado de toda região.

Com a saída de Abilio Vieira como maestro da Corporação Musical, devido a grave enfermidade, assumiu a regência da Corporação, Francisco de Assis Fernandes.

Durante algum tempo, Francisco de Assis Fernandes ficou como maestro, mas a Diretoria do Clube Recreativo Melhoramentos que também dirigia os destinos da banda, resolveu contratar um maestro para reger a banda.

Assim foi feito. Foi contratado o grande maestro de Jundiaí, José Bovolenta, e Francisco de Assis Fernandes passou novamente a contramestre. Existia nessa época aqui em Caieiras, dois clubes: Clube Recreativo Melhoramentos e União Recreativa Melhoramentos de São Paulo.

A União Recreativa Melhoramentos forma também sua banda de música.

Às quartas e sextas-feiras, ensaiava a Corporação do Clube Recreativo Melhoramentos, e as terças e quintas-feiras, a banda da União Recreativa Melhoramentos.

Estamos agora no ano de 1933. A festa de Nossa Senhora do Rosário era considerada uma das maiores festas de toda região.

Durante todo o ano a juventude se preparava para a festa, principalmente as moças que procuravam os trajes de última moda.

Gente de toda a região e de outras cidades participavam desta grande festa.

Enfim a festa de Nossa Senhora do Rosário era um verdadeiro desfile de modas.

As barracas de guloseimas eram armadas desde a garagem da Companhia Melhoramentos, tomava todo o pátio da igreja e continuava lado a lado a Rua dos Coqueiros, até o Cemitério de Caieiras.

Todos que quisessem montar suas barracas seria permitido, mediante o pagamento de uma pequena taxa para a igreja.

Todos os clubes montavam suas barracas com bares onde o povo se divertia e encontrava todo tipo de comida, além de grandes variedades de diversões. O que mais chamava atenção do povo era que a festa era abrilhantada pelas duas excelentes bandas de músicas.

Estamos agora em 1934. Acometido de grave enfermidade o maestro José Bovolenta se retira das duas bandas, é internado num sanatório, onde veio a falecer.

Com a morte de José Bovolenta, a banda do União Recreativa Melhoramentos foi desfeita.

O maestro Francisco de Assis Fernandes assumiu de novo a regência da Corporação Musical do Clube Recreativo Melhoramentos.

A maioria dos músicos da desfeita banda do União, passaram para a banda do Clube Recreativo Melhoramentos, ficando o maestro com uma excelente banda de música.

O maestro Francisco de Assis Fernandes era escriturário na Companhia Melhoramentos, e nas horas de folga passou a ministrar aulas de música no salão do Clube Recreativo Melhoramentos.

A Companhia Melhoramentos de São Paulo tem grande admiração pela Banda e passa a dispensar os músicos do serviço nas horas dos ensaios, e ainda, pagando para que eles não faltassem aos ensaios.

Em 1934, Sérgio Valbusa inicia os estudos da música com o maestro Francisco de Assis Fernandes.

Com apenas 10 anos de idade escolhe o pistom como instrumento.

Encontrou muita facilidade, que com 11 anos de idade ingressou na Corp. Musical Melhoramentos do Clube Recreativo, como 3º pistom.

Com 12 anos, passou para 1º pistom, já como solista, sempre sob regência do maestro Francisco de Assis Fernandes.

Durante muitos anos, Sérgio Valbusa, Francisco de Assis Fernandes e Clarice Lucieto ficaram juntos ensaiando as crianças para o grupo teatral, programas de calouros, ensaios de danças.

Tudo era feito dentro do Clube Recreativo Melhoramentos.

Dentro de um determinado tempo era eleita uma nova diretoria, para reger os destinos do Clube Recreativo Melhoramentos.

Chegou este dia fatídico, digo fatídico, porque foi eleita uma diretoria incapaz, sem capacidade para dirigir os destinos do Clube, vou mais além, uma diretoria infeliz, porque pensou somente no futebol, marginalizando a banda de música que era o grande orgulho de Caieiras, o grupo teatral e outras atividades do setor cultural do clube, justamente a parte que era mais importante dentro do clube.

Com esta marginalização, os músicos fora ficando desgostosos, e retirando-se da banda, que em pouco tempo foi desfeita.

Com a queda da banda, foi desfeito também o grupo teatral e outras atividades culturais do clube.

Em consequência de tudo isso, foi caindo também a frequência dos associados ao clube, que já não tinha mais meios para manutenção do mesmo, devido a fraca parte financeira.

Caieiras ficou muito tempo sem banda de música.

Com a aposentadoria do Maestro Francisco de Assis Fernandes como funcionário da Comp. Melhoramentos de São Paulo, este muda-se para a Vila Cresciuma, uma vila fora dos terrenos da Cia Melhoramentos.

Como grande amante da música, Francisco de Assis Fernandes juntamente com o advogado Dr. Armando Pinto, que também residia na Vila Cresciuma e que era presidente da Sociedade Amigos de Caieiras, um pequeno clube existente na Vila, pensaram em formar uma banda de música dentro da sociedade.

Imediatamente entraram em contato com a diretoria do Clube Recreativo Melhoramentos, e adquiriram todos os instrumentos e partituras da extinta Banda por um preço simbólico, e formaram uma pequena banda de música, que passou a chamar-se Corporação Musical Amigos de Caieiras.

 Foi até muito bom, que os instrumentos da instituição e partituras fossem levados para a sociedade Amigos de Caieiras, porque um incêndio de enormes proporções destruiu por completo o belo salão do Clube Recreativo Melhoramentos, onde o porão eram guardados os instrumentos e partituras.

Muitos dos instrumentos que ficaram foram completamente destruídos pelo incêndio.

Apesar de extinta a banda, Sérgio Valbusa continuo fazendo parte da Orquestra que se apresentava em bailes, comandada por Danilo Valbusa.

Em 1940, o acordeon ficou sendo o instrumento da moda.

Sérgio Valbusa adquiri um pequeno acordeon e passa a estudar, sem auxílio de professor.

Em pouco tempo consegue dominar o instrumento, passando a dar aulas de acordeon, em sua casa, na fábrica de papel.

Eram muitos os alunos que procuravam Sérgio Valbusa para aprendizagem de acordeon, a maioria meninas.

Em pouco tempo, Sérgio Valbusa forma uma orquestra de acordeon, com 60 componentes, que executam desde a música popular, até o clássico.

Neste tempo, a Companhia Melhoramentos constrói um novo salão no mesmo local em que o velho salão foi destruído pelo incêndio.

Como não havia banda de música, o novo salão foi inaugurado ao som da Orquestra de acordeon, sob a regência de Sérgio Valbusa.

Vendo a grande procura de aluno para estudar acordeon, Sérgio resolveu fazer um curso de aperfeiçoamento e ingressa na Academia de Acordeom Real em São Paulo.

Concluído o curso, prestou exames na União Brasileira de Acordeonistas, onde foi diplomado.

 

 


Elaborado pelo Maestro Sérgio Valbusa