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Gritos de desespero   

Na casa donde nasci havia “chumbada” na parede externa uma placa relativa ao ano de sua construção, 1942, mesmo ano em que eu nasci. Naquele dia, eu, garoto ainda estava em casa, não tinha saído à rua para brincar. Mas, ouvi gritos de desespero e por isso sai de casa para ver o que estava ocorrendo naquele momento. Atravessei a rua e já do outro lado dela, da cerca que ficava antes do barranco que ia terminar no rio, eu vi de onde vinham os gritos. Reconheci o menino que estava gritando e se debatendo nas águas do rio. De sua testa jorrava sangue. Quando ele afundava e retornava à superfície das águas do rio sua testa ficava limpa de sangue, mas, logo novamente o sangue lhe escorria avermelhando-lhe o rosto tornando-o irreconhecível.

E ele tanto se debatia como tanto gritava, isso porque, ele não sabia nadar. Felizmente o vizinho, o Senhor Francisco Pastro estava em casa e também ouviu os gritos. Ele desceu pela inclinação do barranco, chegando até próximo de donde estava o menino gritando e se agitando, deu uns dois passos largos para dentro do rio, esticou seus braços até alcançar o menino. Puxou-o para si pegando-o no colo. Subindo de volta pelo barranco íngreme ainda com o menino no colo e com ele ainda sangrando pela testa o levou para a Vila Nova, pra casa donde o menino morava. O menino era o Nino Lisa do Bairro da Fábrica de Caieiras.

Mas como o Nino se machucou e caiu no rio? Naquela ribanceira donde ele estava com outros meninos, lá era onde meu pai plantava bananeira (risos) entre a cerca antes citada até a margem do rio. No terreno ao lado que era do nosso vizinho, o senhor Antonio Polato que nada plantava lá, o local servia para se despejar lixos e tranqueiras nele. Com suas curiosidades os meninos estiveram vasculhando o local para ver o que encontrariam lá. Lembrando, naquele tempo não nos existia lixeiro, ou melhor, não havia coleta de lixo. Cada qual daquelas casas da Indústria Melhoramentos, como queria e como podia se livrava dos seus lixos e quando se tratava de latas vazias, garrafas de vidro e outras tranqueiras, elas eram jogadas ao rio.

Voltando ao acidente do Nino, todos os que estavam com ele, como por encanto, eles sumiram depois que ele caiu no rio. Dois dos que estiveram com ele, os irmãos Rafael e Ricardo (este é saudoso) filhos do Senhor Armando de Grande, se me lembro foi o Rafael que gritou “cuidado vou jogar este arco de aço” e imediatamente jogou. O Nino que estava de pé num muro de tijolos donde terminava a canaleta do esgoto que vinha lá de cima da Vila Nova, ao olhar para trás e para cima donde estava o Rafael, o arco arremessado o atingiu na testa causando sua queda ao rio. Naqueles tempos de quando existiam as travessuras infantis, elas existiam porque, sem os perigos que existem hoje, a meninada sempre brincava pelas ruas devido à liberdade que tinham de se locomover por onde quisessem e seus pais não precisavam se preocupar com as suas seguranças.

Altino Olimpio