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Existiu um paraíso I

Como foi bom ter nascido naquele mundo particular pouco ou nada conhecido pelos habitantes da Cidade de São Paulo do Estado de São Paulo a que ele pertencia e era desconhecido por todos os habitantes do Brasil e por todo o mundo (risos). Aquele lugar, Caieiras, parecia uma ilha de terra cercada de terra por todos os lados (risos) e distante do tão grande mundo tido como civilizado e dividido em países. Aquele lugar desconhecido por poetas, filósofos, turistas, escritores, políticos, corruptos e traficantes não era maluco como em geral é o mundo de hoje (risos). Lá não havia disputa por terras porque todos tinham suas casas com quintais enormes onde tinham suas hortas. Em casa, além da horta, das árvores frutíferas, havia também galinheiro, pois, tínhamos os pintos já grandes. O galinheiro servia também como pateiro para os patos.  Tínhamos também um “fechado” como abrigo onde ficava o bode do meu pai. Só tomávamos leite de cabra.

Num espaço depois do galinheiro me pai plantava bananeira, e mais acima depois da amoreira e do abacateiro, onde era o fim do nosso quintal ou terreno ele plantava mandioca e batata doce. Ah, lá também ficavam as caixas de abelhas que produziam mel e que eram do meu irmão. Como ele foi trabalhar em São Paulo e ficou sem tempo para cuidar delas, eu é que continuei cuidando e extraindo-lhes o mel. Quantas vezes o ferrão daquelas abelhas no meu rosto fizeram-no inchar e eu fiquei com vergonha de sair pela rua exibindo meu rosto desfigurado. Mas, também, eu me vangloriava de às vezes abrir a caixa delas e lidar com elas sem a máscara e sem as luvas de proteção.

Pois é, sou daqueles tempos em que os pais tinham prazer sensual noturno muito escondido chamado de papai e mamãe. Agora já é bem mais sofisticado. Lá quando nasciam os nenês, as crianças como eu também era, nós não sabíamos de onde eles vinham. Falavam que eram as cegonhas que os traziam, mas, por que as parteiras vinham nas casas nas ocasiões em que as crianças vinham ao mundo? Talvez para orientar as mães que tinham mais que ficarem no quarto escuro deitadas na cama e que iria demorar cerca de uma semana para os bebês abrirem os olhos. Mas algumas eram malvadas, batiam na bunda dos nenês só para vê-los chorar, coitados. Agora tudo é tão diferente. O progresso tecnológico parece que veio só para alienar pessoas a ele e para o se distanciar das pessoas mesmo estando próximas. Quando tudo era mais simples, mais demorado, mais difícil, as pessoas se relacionavam mais. Tinham mais tempo para as amizades e eram mais solidárias.

 

 

https://www.youtube.com/watch?v=BaZJIXmeAy4

 

 

Altino Olimpio