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26/03/1982
Ed. 55 - Entrevista com Gino Dartora

Jornal A Semana: Como vão as obras da sua administração?
Gino Dártora: As obras vão indo muito bem, graças a Deus. No sábado nós inauguramos mais um posto médico, no bairro do Serpa, o sexto posto. Ele contará com atendimento ginecológico e odontológico, inclusive prótese, com equipamentos moderníssimos. Agora em abril nos vamos entregar o Cristo. Eu queria fazer uma celebração ecumênica nesse dia, no Ginásio de Esportes, e depois iniciar em Caieiras uma campanha para tratar melhor o próximo. Todo sujeito em Caieiras que estiver querendo mal ao próximo, quando ele olhar para cima e der de cara com o Cristo, ele vai mudar de opinião. Aliás, já era para ter começado em 69, mas eu não consegui ficar na prefeitura. Nós estamos pensando em criar em Caieiras, o dia da solidariedade humana, e talvez seja esse dia da inauguração do Cristo.
JAS: O senhor falou sobre os postos médicos. Mas comenta-se que, nesses postos, só é atendido quem leva um bilhetinho seu...
GINO: É que muita gente de fora usava o nosso posto médico em prejuízo do pessoal de Caieiras. Por isso nós fazemos uma triagem. Mas já estamos descentralizando essa triagem, que será feita no próprio bairro, para evitar de se ter que passar pela prefeitura.
JAS: E as casa populares?
GINO: Se Deus quiser, eu começo em janeiro. O arruamento inclusive já está pronto. O loteamento tem uma vista maravilhosa. É um dos melhores loteamentos já feito em Caieiras. Só perde para aquele da Melhoramentos, o Nova Caieiras.
JAS: Como será a distribuição dessas casas populares?
GINO: O critério será o da necessidade. Primeiro virão os que realmente necessitam, depois os outros. Serão construídas 820 casas populares, e tem muito mais pessoas inscritas, mas eu já estou de olho em mais áreas.
JAS: Sr. Prefeito são muitas as desapropriações que estão em andamento?
GINO: não tem muitas não. Algumas só. E tem uma grande aí no Serpa, que é do tempo do Padre ainda, de mais ou menos 20 milhões, e que ainda não estourou.
JAS: E vai dar para pagar todas essas desapropriações?
GINO: Esse ano não vou precisar pagar. Mas essa aí é do tempo do Padre, em torno de 20 milhões. Foi uma bobeada deles, que eu tentei corrigir em 69, mas me tirara da prefeitura, e ficou assim. Essa é a mais onerosa desapropriação.
JAS: Parece também que há duas desapropriações de terrenos da Melhoramentos?
GINO: Há sim. A do CAC, que nós estamos preparando. Aliás, eu tinha desapropriado o Brasil, mas no dia seguinte a turma foi lá e derrubou tudo. Agora, eu estou desapropriando o CAC, que é praticamente um acordo com a Melhoramentos, em troca da desapropriação do Brasil.
JAS: E a desapropriação da Estrada?
GINO: A desapropriação da Estrada eu também fiz, e está suspensa por dois meses, porque o Governador pediu para que eu suspendesse essa desapropriação, e estudasse outra via de acesso no Jardim dos Eucaliptos, que atenda também a Franco da Rocha e Francisco Morato. Essa desapropriação o governo cuidaria da construção do acesso e sua pavimentação, o que é muito mais interessante. De outra forma, eu arcaria sozinho.
JAS: Houve também uma resposta do DERSA a um ofício do Juiz da Comarca, dizendo que não havia qualquer estudo, ou qualquer previsão de custo ou cronograma de obra para a construção de um acesso ali no Monjolinho, área que o Senhor já desapropriou, segundo o senhor mesmo disse.
GINO: Eu não conheço isso. Eu não conheço...Mas isso é uma técnica do DERSA, porque a estrada é uma rodovia bloqueada, mas Caieiras é um caso especial. O governador autorizou. Aliás, desde 69 eu tentei por que Caieiras precisa de um acesso a Anhanguera, mas ninguém providenciou, e quando começou a construção da rodovia dos Bandeirantes, eu pedi ao Paulo Egydio um acesso, e ele não autorizou. Mas o Maluf, acho que ele gostou mais de mim, ou ficou contente com a minha entrada no PDS, e autorizou.

"Nunca tive problemas com a Melhoramentos"

JAS: E como vai o relacionamento com a Melhoramentos?
GINO: Eu nunca tive problemas com a Melhoramentos. Toda vez que for para defender interesses da prefeitura, eu brigo até com a minha família, se for preciso. Eu não sou prefeito da Melhoramentos nem de indústria nenhuma: eu sou prefeito de 4.900 votos que eu tive aqui. Eu estou aqui para atender a interesses da população. Por exemplo, aquele jardim que eu construí ali em baixo, não ficou bonito? Quando eu quis desapropriar ali, me chamaram de louco. Acontece que para se administrar é preciso ser inteligente. Na época a desapropriação ia me custar 54 milhões, e o orçamento da prefeitura era 48 milhões. Mas no fim, acabou saindo de graça para a prefeitura, e a Melhoramentos ainda me deu 300 mil para construir ajardinamento,etc. Acontece que ninguém teve peito de enfrentar a Melhoramentos. Por exemplo, o Cristo. O Padre, que é padre que deveria construir o Cristo, não...por que? Porque não queria mexer com a Melhoramentos. Hoje é um belo ponto turístico, aonde nós vamos inclusive construir um restaurante típico, simples, um lugar agradável para se passar à tarde, e uma vista muito bonita à noite.
JAS: E as ruas esburacadas em Caieiras?
GINO: Já está aberta uma concorrência de 40 milhões de cruzeiros para pavimentar todas as ruas não pavimentadas de Caieiras. E o governador vai me dar mais 20 milhões, e esse dinheiro é a fundo perdido: não vou precisar pagar.
JAS: E as ruas já asfaltadas que estão esburacadas?
GINO: Eu fiz um projeto propondo o recapeamento das ruas de paralelo. Inclusive o projeto dizia que quem já tivesse pago o paralelo, ficaria isento de novo pagamento. Mas a Câmara não atendeu...
JAS: E sobre a Escola Técnica Federal, parece que o senhor propôs a doação de terreno a uma entidade que não existia...
GINO: Esse pessoal não tinha nada que discutir se a entidade estava ou não registrada, porque registrar é fácil, é só levar no cartório e pronto. Como o Coral aqui de Caieiras. Eu dei um auxílio ao Coral, 80 milhões e a Câmara aprovou. Mas o Coral também não estava legalizado, aí as moças correram e legalizaram. Então esse problema não existe. Tanto que depois de legalizada a Associação, eu mandei outro projeto, e eles não aprovaram. Agora, esse pessoal que votou contra a Escola Técnica Federal, o Dércio, o Nelson, essa turma da ex-ARENA, fizeram um projeto autorizando o Duarte da Costa, colégio particular, a usar instalações da prefeitura por 10 ou 15 anos, sem pagar um tostão à prefeitura, e o aluno pagando caro. Pelo menos se o aluno de Caieiras tivesse desconto, 50%, aí sim. Mas não: a vantagem era para o colégio. Ele dava bolsas de estudo, mas isso todos os colégios dão. Resultado: vieram, foram, não entregaram as instalações, e eu queria fazer pré-escola lá e não podia. Eles abandonaram, não vieram mais aqui. Agora, eu arrumo a Escola Técnica Federal, escola do governo. O aluno formar-se-ia um técnico, de graça. Agora, porque eles votaram contra? Não se justifica.
JAS: E o relacionamento com a Câmara, como vai?
GINO: A Câmara é independente. Aprovam o que querem e não aprovam o que não querem. Não aprovaram por exemplo esse projeto da Escola e o do recapeamento, que eram de interesse coletivo. Eu não sei qual é a da Câmara, não entendi.
JAS: Houve algum problema com o Carnaval? Como foi?
GINO: Não sei. O carnaval tem uma Comissão que organizou, e que foi muito bem, deu uma renda muito boa, e essa renda foi para a Guarda Mirim, e não sei de nada. Se alguém souber de alguma coisa, tem que me comunicar para eu tomar providências.
JAS: Por que não se entregou o Carnaval para que os Clubes explorassem em conjunto?
GINO: Todos os clubes de Caieiras são amparados pela prefeitura. Antigamente os clubes não tinham terreno. Eles construíam em terrenos particulares, caso do Brasil, do Expressinho, e depois perdiam tudo. Hoje, todos os bairros têm um Centro Esportivo. Os clubes têm os seus campos hoje em terrenos conseguidos pela prefeitura, temos o Estádio, que é o orgulho da cidade, e que eu contribui na minha administração anterior. Hoje, como os clubes são próprios municipais, a prefeitura pode ter conseveiro, etc. Então, é preferível os clubes terem uma arrecadaçãozinha do carnaval, ou terem quadras poliesportivas, como o São Francisco? Agora, a minha intenção é criar a Liga de Futebol de Caieiras, aí sim, a renda poderá ficar para a Liga, inclusive propaganda nos estádios, a cobrança de ingressos. Fizeram uma lei na Câmara para dar 1/4 do dinheiro, e dar para a Comissão Municipal de Esportes, que não é legalizada. Agora, seria 1/4 da renda para dividir entre quantos clubes? Quanto ia dar para cada clube? Quer dizer, é um projeto puramente demagógico. Esses vereadores que apresentaram, nunca fizeram nada pelo esporte, agora, como é véspera de eleição , eles vêm com essa, porque aí da IBOPE. Agora, eu nunca fiz demagogia. Alguém se preocupou que o campo dos clubes fosse municipal? Não, ninguém. É o caso do CAC. Quer me enganar que aquele clube não ta no jeitinho de virar uma fábrica? Amanhã ou depois a direção da Companhia resolve montar ali uma fábrica e pronto. Para acabar com essa instabilidade, eu estou desapropriando o CAC. Agora, os clubes estão garantidos. Tudo o que eles precisam, a prefeitura vai e dá o apoio para eles.

"Está tudo planejado. Não é burrice não".

JAS: E a implantação de novas indústrias?
GINO: Essa grande indústria, a CIFERAL, está se instalando. Até o fim do ano eles devem começar a funcionar. Agora eu não vou dar terreno. Por exemplo, a Vitroplex, a Mormano. A prefeitura comprou terreno a 5 cruzeiros e vendeu a 10 centavos, fizeram um movimento pra meia dúzia só, isso no tempo do pessoal da ARENA. E não foi só a Vitroplex, a Fixoforja: cadê a Fixoforja? Ao passo que a CIFERAL: o que a prefeitura gastou? Nada. O que Caieiras vai ganhar? 1.300 empregos. E o faturamento? Já imaginou o que representa 20 ônibus por dia?
JAS: Se bem que ela está dando problema lá no Rio...
GINO: É mas, eles são meio independentes? São Paulo e Rio nada têm a ver.
JAS: E a Guarda Municipal, foi extinta?
GINO: Não. Nós admitimos alguns guardas, e estamos esperando a farda, que deve chegar este mês.
JAS: E a folha de pagamento da prefeitura, está muito alta?
GINO: Não, não está. Veja bem: eu tenho oito obras em andamento. Então tem pedreiros, serventes, etc, por que eu uso administração direta, ao invés de dar o dinheiro às empreiteiras, como eles faziam. Agora, quando acabarem as obras, esse pessoal vai passar para as casas populares, que começam em abril, então eles vão sair da Folha. Folha de pagamento muito alta. Por quê? Porque eu dei um aumento de 100%, e agora em maio e novembro vai ter aumento? Mas isso está dentro do plano, não é burrice não.
JAS: E qual a possibilidade de se fazer às linhas de ônibus passarem pelo viaduto?
GINO: Já estamos acertando. Será uma linha municipal que inclusive já estamos estudando.

"Em vez de colocar 1/3 mais barato, o Dr. colocou 10 centavos".

JAS: E por que os preços dos ônibus são mais caros que em Franco da Rocha, por exemplo?
GINO: É que o Sr. Nelson Manzanares, o Dr. Nelson, quando era prefeito, fez um contrato com o Celeguim por 20 anos. A única exigência era que ele cobrasse 10 centavos mais barata a passagem do que era em São Paulo. Mas na época, São Paulo era 30 centavos, aqui era 20. Mas em vez de ele botar 1/3 mais barato, o Dr. colocou 10 centavos. Agora o ilustre advogado fez assim, 10 centavos, e por 20 anos. E agora, o que eu faço? Eu estou estudando para ver se posso transformar esses 10 centavos em 1/3. É muito caro 30 cruzeiros, agora é falta de consciência desse pessoal do ônibus.
JAS: Explica pra gente a história dessa lei de loteamentos que foi aprovada na Câmara esses dias.
GINO: Ta tudo errado o que foi dito. Existem muitos loteamentos sem infra-estrutura, mas que o loteador ainda está dentro do prazo para a construção desses melhoramentos, e no entanto, já há muitos moradores no loteamento, que estão padecendo. Então é um problema social. Agora, todo loteamento, a prefeitura tem 20% dos lotes, que estão vinculados a ela, e que o loteamento não pode vender, enquanto não realizar os melhoramentos. A minha Lei era o seguinte: a Câmara me autorizaria a efetuar os melhoramentos, perdendo o loteador os lotes vinculados. Agora, os meus ilustres opositores, ou por ignorância, ou porque não entenderam direito a Lei, eles puseram uma emenda, dizendo que em Caieiras era proibido aprovar loteamentos, o que é um absurdo! Quer dizer que o cara, para fugir ao imposto progressivo a uma área sua, loteia a área, depois ele não vai poder vender os lotes, então ele entra na justiça e daí? Então eu fiz outra Lei, segundo a qual, se os lotes tiverem menos de 500 m2, o lote só poderá ser vendido se o loteamento tiver pelo menos água e luz. Os outros três beneficiamentos, você tem anos para fazer.
JAS: E o PDS, como vai?
GINO: Muito bem. Nós vamos fazer prefeito, vice, 8 vereadores e o governador aqui será o mais votado o do nosso partido. E eu sou candidato a deputado estadual.


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