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15/09/1992
Ed. 480 - CPI apura irregularidades na distribuição de 227 casas

Moradores contestam critérios para a escolha de beneficiados

A entrega de 227 casas populares construídas pela Secretaria da Habitação provocou revolta entre os moradores de Caieiras e a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara para apurar denúncias de irregularidades na distribuição das unidades.

Segundo informações dadas aos interessados em julho, na Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), teriam prioridade as pessoas casadas, com filhos, que não possuíssem imóvel, tivessem renda entre um e dez salários mínimos e residissem no município. Entre os vários contemplados, no entanto, estaria pessoas solteiras residentes em outras cidades e que já possuem imóveis.

Na quarta-feira, a diretora administrativa da prefeitura, Isaura Ferreira Neves Pereira e sua mãe, a vereadora Afdóquia Chaib Ferreira Neves (PMDB), conhecida como Doca – respectivamente filha e mulher do prefeito Milton Ferreira Neves (PMDB) – distribuíram cartas da prefeitura a alguns moradores, informando que haviam sido contemplados com as casas. Eles deveriam comparecer no Centro Cultural e Educacional Isaura Neves, levando documentos.

Moradores que não receberam as cartas foram até o Centro Educacional para saber quais haviam sido os critérios de seleção. “Eu não posso informar nada, porque quem selecionou os contemplados foi a CDHU em São Paulo” explicou Isaura Neves.

Ivone Ramos de Oliveira é uma das pessoas não contempladas. Com oito filhos, ela mora na casa da mãe, com mais dois irmãos, no Jardim Vera Teresa. “Existem muitas pessoas que ganharam as casinhas e que não precisam”, diz Ivone. “Alguém tem que nos ajudar”.

A viúva Diomar da Silva Oliveira tem quatro filhos, ganha Cr$600 mil por mês e paga Cr$320 mil de aluguel. “Se eu não for contemplada, no mês que vem vou para a rua porque não vai dar para pagar o aluguel”, afirma.

Revoltadas, algumas pessoas passaram a fazer vigília em frente à casa do prefeito. Em sessão extraordinária da Câmara, na quinta-feira à noite e da qual não participou a vereadora Afdóquia Neves, foi formada a CPI para apurar os critérios de distribuição das casas populares.

Foram designados para fazer parte da CPI os vereadores Milton Valbuza Silveira (PST), que presidirá os trabalhos, Sergio Eduardo Menegatti (PMDB) e José Soares (PFL). Eles terão prazo de dez dias para entregar o relatório final.

“Creio que a distribuição foi dirigida e tenho uma lista de eleitores de Doca que já possuem imóveis e foram contemplados”, disse o vereador José Soares. Segundo o vereador, apenas na rua onde reside a filha do prefeito 20 pessoas foram contempladas. Para Isaura Neves, “é normal haver essa revolta de quem não recebeu uma casa”.


Jornal A Semana