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Fevereiro de 2000
Bola Venenosa

"Esponjas in out"

Pois é minha gente, fim de ano é aquela farra, não é mesmo? Imaginem vocês do que são capazes dois esponjas passando férias juntos na praia, acompanhados de suas respectivas e famílias. Carlão e Tiquinho, são os dois esponjas inseparáveis, amigos mesmo, daqueles que tiram a camisa pro outro vestir.

Recentemente, a convite do vereador Bertão, irmão do Tiquinho, ambos foram comemorar a passagem de ano no litoral. Belas praias, mar calmo e brisa maravilhosa. O que mais pode querer dois esponjas nessa vida?

Assim que chegaram na casa onde ficariam por duas semanas, foram logo combinando que no dia seguinte iriam preparar um caçarola de siri. Que delícia. Carlão e Tiquinho foram logo dizendo que iriam acordar bem cedinho, assim que o sol começasse a dar ar da graça , para comprar tal siri.

E assim se deu. Logo que o astro rei começou a tingir as espumas branca que brotavam nas cristas das ondas com um vermelhidão incomparável, nossos intrepidos representantes puseram-se em pé, animados com a promessa de um grande dia. Após terem um gole rápido de café, meio frio, que tinha sobrado do dia anterior, saíram a rua em busca do siri para o almoço. Passava das 6:00 horas (A.M). Não foi fácil, mas acabam achando os danadinhos. Bem amarrado na boca, um saco desses de farinha, vinha quase pela  metade da deliciosa iguaria, todos bem vivos, coisa que eu não acho graça nenhum. Dia bonito, dizia Carlão, enquanto Tiquinho carregava com dificuldade o saco de siri. Os dois caminhavam pela praia, com seus bermudões quase até o joelho, arrastando chinelo de dedo, que de vez enquanto tinham que ser lavados nas costas devido o acúmulo de area. De repente, quase "sem querer" avistaram um desses quiosque de praia, muito bem montado por sinal, com mesinhas e cadeiras, tudo bem sombreado, com uma linda vista dos arredores. Não sei se foi o sol que já queimava a pele ou o ar marinho, que sacava garganta, mas só sei que a visão paradisíaca do quiosque fez com que uma baita sede tomasse contra dos dois.

Resolveram que uma aguinha de coco iria cair bem. Colocando o saco de siri em um canto qualquer, sentaram-se bem de frente para o mar, deixando a brisa salgada embalar suavemente aquele momento gostoso. As ondas vinham. Carlão pediu duas vezes por uma água de coco, mas o rapaz fingiu, ou não ouviu mesmo. As ondas iam.

Tiquinho levantou-se e foi até o pequeno balcão e tornou a pedir.

O rapaz olhou para ele meio constrangido, pois as bochechas do esponja quando ficam vermelhos denunciam sua raiva. Temeroso, respondeu que não trabalhava com água de coco, e que só podiam vender a eles suco, cerveja, batida e tira gosto com frutos do mar.
Tudo parece conspirar contra os esponjas. Não queriam beber nada além de uma aguinha de coco, mas acabaram optando por uma deliciosa, geladérrima e suada cervejinha. Uma só! gritou Carlão, acendendo um free.

Realmente foi uma só.

Uma de cada vez.
Os esponjas são pessoas muito dadas. Comunicam-se com uma facilidade incrível com seus semelhantes, e quando o movimento na praia começou a ficar "interessante", se é que me entenderam. Tudo ficou muito colorido, muito bonito de se ver, as atenção  dos dois se tornaram prisioneiras de todo aquele movimento.

Tudo começou com a primeira cerveja as 9 horas da manhã e foi terminar as 8 da noite com a quadragésima primeira cerveja com a vigésima batida e com o décimo quinto prato de tira gosto com frutos do mar. Depois de tudo isso, o Tiquinho deixou a ficha cair.

Carlão esquecemos do siri. E agora?

Carlão que já estava tetrabebado, respondeu com a voz embasbacada.

Faz amanhã, oras bolas...

Ao chegar a porta de casa onde o pessoal preocupado, já pensavam em chamar a polícia para achar os dois, Tiquinho teve uma idéia digna de um esponja. Abriu a boca do saco e virou os siris no chão e bateu a porta. Assim que abriram ele começou a gritar e a chutar.

Vão entrando suas coisas chatas. Pelo amor de Deus não me mandem mais comprar siri. Vocês não imaginam como foi difícil fazer eles virem andando até aqui.

Jornal Cidades