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12/07/1980
A Utopia Caieirense

... e um dia, o batalhador incansável, Engº Gino Dártora, que por sinal é também Prefeito, dormiu. Dormiu e sonhou.

Sonho com a Caieiras dos seus sonhos (ainda não era pesadelo), e resolveu transformá-la, desafiando assim, de uma vez por todas, as leis da estética e bom-senso, que se não existiam em Caieiras, ao menos não prejudicavam tanto.

Neste seu belo sonho constava uma bonita praça, que com seus enormes muros cortava ao meio uma das mais movimentadas ruas do município. Era pintada nas mais variadas cores (verde, rosa e azul), contrastando no maior bom gosto com o piso de mosaico português (preto e branco). Quando acordou não pensou duas vezes e a construiu.

O máximo de sofisticação, ou o ponto culminante do sonho, foi a colocação de linhas para ônibus elétricos, que lembrariam a velha Inglaterra, aproveitando-se, ainda por cima, o nosso terreno plano (pois todos já devem ter percebido que em Caieiras não existem muitas subidas, e o Prefeito, possivelmente, sonhou só com as descidas).

Estes ônibus, durante o sono, circulavam em meio as fontes luminosas, colocadas uma em cada esquina da cidade.

Sua verdadeira intenção, era a de colocar uma fonte em frente de cada casa, mas isto iria prejudicar a sua tão planejada arborização das ruas, que alcançou pleno sucesso, com a história do imposto abatido; não deu para fazer tudo, mas conseguiu jogar muitas fontes por aí, e para provar sua capacidade de governante, começou a exportar tecnologia, mandando construir uma linda fonte luminosa no fórum de Franco de Rocha.

Outro ponto culminante do sonho, foi a constituição de um Cristo Redentor, no Morro do Cabelo Bronco. Um Cristo de braços abertos para abraçá-lo e, de vez em quando, proteger a cidade, é claro!

Desta grandiosa obra sairia um teleférico que daria oportunidade ao povo de completar toda a sua obra, lá de cima, sentados em cadeirinhas deslizantes. Mas um pequenino problema com seu emprego de verbas, o impediu de construir esta beleza de sonho dourado. Que pena! que pena né?).

Muitas outras obras foram sonhadas pelo sr. Gino, que também é Prefeito e, além disto, engenheiro (como faz questão que apareça na frente do seu tão propalado nome). Sonhou com as casas populares, com um moderníssimo viaduto (que mais tarde se transformou em uma pinguela), com um não menos moderno cemitério, que instalaria confortavelmente todos os nossos defuntos. Sonhou, também com uma via marginal, que, como já foi dito anteriormente, ficou definitivamente marginalizada. Estas obras, depois que o prefeito acordou, foram começadas e não terminadas, pelo mesmo motivo de não construção do Cristo, lá no alto do morro dos cabelos grisalhos.

Incontável são as coisas sonhadas por Gino, e que se faz desnecessário descrevê-las. Sim, ele as sonhou e as jogou desorganizadamente pelo nosso maltratado municipio que, se um dia, o Prefeito realmente despertar, abrir bem os olhos e colocar os pés no chão, irá se assustar com as obras que as verbas o possibilitaria realizar a as que ficaram no meio do caminho, obrigando a mudar uma de suas placas prediletas por: "O dinheiro do povo aplicado em obras para o risco da próprio povo."

Agora. vamos esperar que no próximo sonho o Prefeito sonhe com um asilo para proteção dos funcionários de mais idade, que foram maldosamente despedidos de seus cargos tão irrisoriante pagos, e para os mais novos, sonhar com frota de carrinho de amendoim para serem vendidos em frente ao gigantesco ginásio de esportes, a fim de que não exista a falta de empregos ou a existência do sub-emprego, ou ainda, quem sabe, para que os "grandes" da Prefeitura passem, comprem um saquinho, dêem uma gorjeta e o resto do abundante dinheiro, doem ao asilo.

Acorda, homem! (do povo).

Jornal Folha Regional