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20/03/2008
Primeiro de Maio

Atualmente com os remanescentes daquela época de gente simples e descontraída desaparecendo, muitos costumes estão sendo esquecidos. Nos primeiros de maio, feriados do dia do trabalho, a Indústria Melhoramentos de Papel de Caieiras patrocinava as festividades locais simultâneas em três clubes esportivos de seus funcionários. No Clube Recreativo Melhoramentos (Bairro da Fábrica), no União Recreativo Melhoramentos (Bairro de Caieiras) e no Brasil Futebol Clube (Bairro do Monjolinho). Fornecia fartura de chopes, salsichas e pãezinhos. Os funcionários e seus familiares compareciam aos clubes e neles se confraternizavam, se distraiam com as diversões programadas para as comemorações daqueles feriados em questão. Cedo, pela parte da manhã tinha início às diversões com as atividades competitivas entre crianças, moças, rapazes e entre os já adultos. O campo de futebol era o palco para aquelas atrações estando lotada de pessoas a arquibancada, como também por trás da cerca do gramado do campo.

As competições mais tinham como ponto de partida a risca branca de cal que era o meio do campo e a chegada era na trave do gol. As corridas comuns para moças e rapazes, estas, eram na distância total do campo. Dentre as várias competições incomuns tínhamos aquela das moças correrem com um ovo na colher. Aquela que primeiro chegava na trave ou limite da corrida sem deixar o ovo cair era a vencedora. Corrida de saco era aquela de se entrar nele com as pernas e correr aos pulos. Carrinho humano já era necessário ser em dupla, pois, uma pessoa corria com as mãos no chão enquanto suas pernas ficavam a o redor da cintura de outra em pé e esta, segurando suas pernas ia lhe empurrando. A moça que primeiro alcançava o ponto de chegada depois de ter enfiado uma linha na agulha ganhava a corrida, esta não me lembro, teria sido verdade? Na disputa com bicicleta quem ganhava era o que chegava por último. Nisso víamos os rapazes mais equilibristas ficando para trás e os menos se adiantarem e perderem a corrida. Próximo à arquibancada e, numa bacia cheia de farinha de trigo sobre uma mesa, os meninos tinham que procurar com a boca uma moeda oculta nela e ficavam com os rostos todos brancos. Para os mais audazes existia a briga de saco. Para isso o um contra outro tinham que ficar sentados equilibrados numa grossa tora de madeira apoiada em dois cavaletes, um em cada extremo dela. Como a tora não estava fixa, manter-se sentado sobre ela era difícil porque a mesma girava e se caia dela. Com os competidores frente a frente sentados e tentando se equilibrar, um tinha que dar sacadas no outro para derrubá-lo o que sempre acontecia, pois, sempre um deles caia no chão ou, se era mais esperto, ficava de ponta-cabeça pendurado na tora com ela entre as pernas. O que teria dentro daqueles sacos? Seria areia? Deixado para o final, a atração era o pau de sebo. Fixado no chão ele era todo ensebado e, portanto, muito liso. Era alto e tinha no topo um aro de metal com envelopes pendurados, eram os prêmios para quem conseguisse subir até eles. Os pretendentes, de calção para não sujar a roupa, portavam areia no bolso para esfregarem no pau e assim deixá-lo menos escorregadio para poderem subir, mas, qual o que, esfregados naquele pau duro, isso, mais o deixava liso. Só para os homens, aquele pau liso comprido não era para as mulheres. Como conseguiam subir até os prêmios? Com uma escada humana. Os mais fortes ficavam por baixo suportando o peso dos de cima que, de pé um sobre outro tinham como apoio os ombros de quem ficava por baixo até a subida do último que alcançava os prêmios, enquanto todos com os braços livres ficavam agarrados no pau duro e liso para a escada humana não se desfazer.

Pela tarde a disputa era entre dois times de futebol: Solteiros contra casados. Os jogadores, funcionários da indústria local, se trajavam com roupas femininas. Alguns, com vestidos, outros com saias e se também com calcinhas, não soube, mas, desconfiei que sim. Isso divertido como era, pois, provocava muitas brincadeiras contra os travestidos, era o encerramento das atividades no campo de futebol. As festividades prosseguiam no salão do clube com um retumbante baile, e ficaram famosos os bailes do primeiro de maio. Quem participou deles se lembra. Naqueles feriados do dia do trabalho, algumas famílias tinham o costume de passar o dia todo no clube e para seus piqueniques utilizavam as mesas imóveis de tábuas compridas com bancos do mesmo comprimento da mesma, ambos afixados no chão e sob as sombras das árvores. As crianças lotavam o espaço dedicado a elas para os seus folguedos na areia, nas gangorras e nos balanços. De entremeio com tudo e desde cedo da parte da manhã, o barracão com seus voluntários festeiros continuava disponível para se tomar chopes e comer sanduíche de salsicha, o que, só bem mais tarde iríamos chamá-lo de “cachorro quente”. Aquelas salsichas... Gostosas como eram, nunca mais as vi, nunca mais as comi. Rapazes e moças tinham na ocasião uma boa oportunidade para “tirar linha”, flertar ou “paquerar” naquela época em que ainda não estávamos empobrecidos com os excessos de informações, ou melhor, com tanta cultura inútil e com tantas preocupações e problemas que este viver de hoje é repleto. Sendo assim, bons costumes foram e vão sendo destruídos, como as confraternizações de outrora se faziam dignas de enlevo antes deste sistema vigente da imposição do “cada um pra si” que nos separou e nos aprisionou.

Altino Olimpio