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30/07/2008
Festas na Igreja, bons tempos


Ai, ai, ai! Só de lembrar emociona, dá arrepio. Aquelas memoráveis festas de igreja de outubro e da Caieiras antiga.. A maquininha vinha do Bairro da Fábrica com seis vagões lotados e até com gente de pé nos estribos. Ainda bem que não esqueceram deles como aconteceu com os pára-choques. Os caminhões apelidados de pau-de-arara também vinham lotados com gente do Monjolinho, Bonsucesso e Calcárea. Da Cresciuma --hoje Centro de Caieiras-- e do Serpa o pessoal vinha a pé. De Perus e de Franco da Rocha suas conduções era o trem. Os espaços de ambos os lados da igreja onde ficavam as barracas das diversas atividades festivas eram pequenos para os participantes. O passar de um espaço a outro era apertado defronte a entrada da igreja e também havia acúmulo de gente nas duas rampas que, uma de frente com a outra, iniciavam suas leves subidas a partir da rua, aquela que depois da igreja se chamava Rua dos Coqueiros. No espaço a esquerda da igreja sempre era o lugar da quermesse e sempre se ouvia o ruído da roleta e quando ela parava, de dentro da barraca gritavam: vinte e quatro. De fora alguém respondia: veado. Depois de outro número sorteado outro respondia: vaca. O jogo do bicho já era moda coisa que ninguém poda. Para muitos sorteios havia frango pelado e assado. Também como prenda todo ano tinha um quadro com o sagrado coração de Jesus. Era verdade sim, porque, ainda não existia a ponte de safena. Foi naquelas quermesses que vários se diplomaram e ainda hoje são adeptos aos jogos de bingo. No espaço da direita o divertimento era a barraca de pesca. No chão com areia só se via uns pequenos aros, rodinhas por cima dela para se encaixar os anzóis e não se via os prêmios que tinham por baixo delas. Para os casados era fácil, mas, para os solteiros, naqueles tempos enfiar numa rodinha era bem difícil. A barraca do ratinho era mais concorrida. Lado a lado uma da outra e formando um círculo todas as casinhas tinham um buraco de entrada. O ratinho ficava no centro e por baixo de uma caixa até quando se puxava um barbante. Ela subia e o ratinho se dirigia para uma das casinhas ao seu derredor. Uma vez aconteceu algo inusitado. Um dos festeiros foi pra Sum Paulo comprar o ratinho e lá, como dois deles ficavam sempre juntos e até pareciam gêmeos, ele teve a idéia de comprar os dois. À noite na festa ele teve outra idéia, a de premiar duas pessoas ao mesmo tempo. Colocou os dois ratinhos sob a caixa e depois dela levantada, os bichinhos só chegavam até as entradas das casinhas, mas, não entravam. Demorou em perceberem que os ratinhos eram irmãos siameses e não iriam mesmo conseguir entrar, um em cada casinha. Quase deu briga. No dia seguinte foi preciso alguém voltar para Sum Paulo quando a troca de dois ratinhos por um acarretou em prejuízo. Quando lá na barraca se comprava uma fixa (chiiii... ah, vai com x mesmo) nela já estava o número do buraco da pessoa, aquele que ela torcia pelo bichinho peludinho entrar. Ao torcer algumas gritavam: Aqui, aqui, entra na minha casinha! Outras gritavam: Vai, vai, entra no meu buraco. Quem ainda não tivesse visto o ratinho podia até maliciar o que ouvia. Entretanto, nas festas, aquele vai-e-vem das pessoas era bonito. Na verdade muitos compareciam mais pra “tirar linha”, paquerar, arranjar namoro e de fato isso muito aconteceu. Por isso vários se casaram e se arrependeram não falam. Também, naquele tanto escolher alguém, a festa terminava e a gente ficava sem ninguém. Com quinhentos réis se comprava um saquinho de pipoca. Isso facilitava as aproximações, principalmente naqueles lugares estreitos onde todos se apertavam, se afunilavam e aonde as moças no ir pra cá e pra lá se detinham mais tempo. Era quando se oferecia pipoca para uma delas. Lembro-me, eu era gago quando uma vez tentei uma conquista que deu errado e foi assim: “Oi, qué pi pi, qué pi pi”. Ela me olhou feio, me xingou e se afastou rapidamente enquanto ainda estava terminando de falar “qué pi, pi pó, QUÉ PIPOCA?” Que azar! E lá da banda, sempre o “coreto” tocava para animar as festas sob a regência do maestro Assis Fernandes ou Sergio Valbuza. Às vezes do povo vinham gritos: Toquem dobrados! Toquem dobrados! Os músicos sempre fingiam não escutar, pois, continuavam tocando em pé ou sentados, mas, nunca dobrados. Claro, não eram de circo. Contudo, confusão mesmo só um pouco por causa do pouco transito local. Muitos se esqueceram e agora vão se lembrar daqueles ônibus que faziam o percurso de Franco da Rocha até São Paulo e que eram chamados de cata loucos. Então, uma parte do povo da festa se acumulava na rua entre a banda e a igreja para de perto escutar o coreto tocar. É, fechavam a rua e demorava um pouco até conseguir passar um cata louco. Naquelas festas de igreja se podia tomar cerveja e alguns para enganar diziam tomar guaraná. A “lei seca” só era extensiva ao pessoal da Vila da Ponte Seca. Raras foram brigas com socos e chutes e quando aconteciam eram com o pessoal da Vila Pançute. Na barraca de tiro ao alvo com chumbinho quem mais acertava em cigarros, em pinga e vinho era o pessoal do Monjolinho. Na barraca do jogo de argolas não era fácil ter renda pela dificuldade de encaixar uma numa prenda. O padre ia de barraca em barraca usando batina talvez desconsiderando o lucro de propina como a verdadeira disciplina ensina e são homens assim que são dignos de estima não como os desonestos de hoje que são as nossas ruínas. Saudade do passado, Onde tudo era de mais agrado, O tempo era mais demorado, O povo muito melhor educado. Havia mais consideração e amizade, Não se sabia que essas duas já tinham idade, Pra morrerem como fatalidade, Elas não eram para a eternidade.


Altino Olympio