Versão para impressão

05/02/2009
Piquenique e a saudade deles.

A palavra piquenique ou como foi também escrita “pic-nic” está em desuso e não é de duvidar que hoje possam existir pessoas ignorantes do seu significado. Caieiras de antigamente dispunha de três clubes esportivos para os funcionários da Indústria Melhoramentos. Onde “Caieiras” mais era considerada com esse nome existiu o União Recreativo Melhoramentos de São Paulo. No lugar chamado Monjolinho existiu o Brasil Futebol Clube e o Clube Recreativo Melhoramentos existiu no Bairro da Fábrica de Papel. Infalivelmente aos domingos nos três clubes a atração principal era o futebol à tarde quando as famílias compareciam. Às vezes os times adversários de futebol compareciam em caravana, isto é, aproveitavam a ocasião para um piquenique no local muito aconchegante e de povo hospitaleiro. Sentiam-se como estivessem num desses de hoje Hotel Fazenda. Muitos ônibus estacionados exibiam cores contrastantes com o ambiente opaco do chão de terra onde o espaço era ausente das sombras das árvores. Por baixo e dentre o arvoredo as compridas mesas de madeira afixadas na terra eram convidativas para banquetes ao ar livre. Tais domingos ainda são vistos quando a memória os empurra para os olhos internos e eles, competindo com os olhos externos, lhes roubam a consciência do que é visto no mundo de fora. Às vezes, simultâneo com o futebol no campo, um animado vesperal dançante decorria no salão do clube onde mais favoráveis eram os flertes entre os habitantes locais e os vindos com o piquenique. Estes se mostravam deslumbrados com a imensa área do clube circundado pela verde mata. Percorriam ao redor do campo de futebol e a todos os espaços disponíveis para lazer. Adultos com suas crianças se divertiam no espaço dedicado aos balanços, gangorras e outros brinquedos. Entardecendo parecia que o sol ia se entristecendo quando assistia a cena de pessoas recolhendo seus pertences para o retorno aos seus lugares de origem. O ruído dos ônibus aquecendo seus motores queria significar “nós já vamos”. Dentro de um deles estava alguém que encantou alguém. Um aceno de despedida pela janela do ônibus seguido por um último olhar fixo deixava aquele sentimento melancólico “nunca mais eu vou te ver”. O vazio deixado pelo findar do piquenique era envolvido pelo escuro da noite, anunciada pelos grilos que grilavam e pelos vagalumes com suas lanternas acende-e-apaga. No caminho de volta para casa a juventude era pensar. Naqueles tempos o futuro parecia estar tão longe. Agora nele, tão longe parece mesmo ter ficado o passado. A música gravada pelo cantor Vanderlei Cardoso é propícia aqui para provocar lembranças dos tempos dos piqueniques: “O piquenique foi bom, mas a volta é que foi tão triste, briguei com meu amor na estação, no trem ela voltou a chorar. Só perguntando meu bem, qual foi o motivo que eu dei pra você me tratar assim querendo por no nosso amor um fim. Há um ditado que existe, ninguém há de querer mudar, em toda volta de um piquenique, alguém tem que chorar”.




Altino Olympio