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Inhá Dalina e Satonino

Inhá Dalina e Satonino

A Vila Pereira lá no extinto Bairro da Fábrica, Caieiras, era apenas uma rua tendo moradias em apenas um de seus lados. Só no fim dela existia do outro lado da rua uma casa dupla onde moravam duas famílias, a do Senhor Vitorio Baboim e a do Senhor Corradini. Os moradores tinham suas hortas defronte, do outro lado da rua até o córrego cujas águas vinham da “piscina dos alemães”. Algumas daquelas casas tinham um pavimento inferior para moradia de solteiros empregados da indústria local. Para eles um banheiro público existia defronte as casas e com um tanque do lado de fora. Lembro-me de uma vez em que estava lavando os pés encardidos naquele tanque quando ouvi aos gritos, uma voz masculina de adulto: Moleque porco, sem vergonha, não tem água na tua casa? Olhei e não vi ninguém. Naqueles tempos, por lá era costume as crianças andarem descalças, daí, sempre os pés estarem sujos. Ao lado do banheiro era o início de um caminho branco “asfaltado” com borras de cal batidas ao chão. Depois de transpor o córrego e ao virar à esquerda, a subida era bem íngreme e terminava defronte a escola da rua onde era o Bairro Chique. O caminho branco tinha o nome de “cortar caminho”, pois, facilitava o acesso para a escola, para as crianças que moravam na Vila Nova, Vila Leão e etc. Nos términos das aulas, ao voltarem para suas casas, depois de descerem pelo corta caminho, às vezes em bando as crianças se agrupavam na Rua da Vila Pereira para admoestarem uma velha que lá morava com o seu irmão num daqueles cômodos para solteiros. Que algazarra! Quantas provocações contra a velha que se defendia vociferando palavrões contra os meninos. Ela era conhecida como Inhá Dalina e seu irmão como Satonino. Em bando os meninos eram corajosos, mas, quando só tinham medo da velha. Diziam que ela era feiticeira. Ela e o irmão viviam no desleixo do lar onde se dizia proliferavam as pulgas. Apreciavam bebidas fortes e talvez com isso suportassem o desprezo em que viviam. Inhá Dalina vivia descabelada e tinha o vício de sempre estar lambendo os lábios. Diziam que ela e o irmão não tomavam banho. Suas aparências desmintam ou não, provocava repugnância naqueles moradores do local. Deviam sentir serem diferenciados dos demais, pois, mais viviam isolados e não participavam de quaisquer eventos festivos de quando a maioria comparecia. Entretanto, os dois irmãos eram inofensivos. Viviam sós para si mesmos e pareciam distantes das fofocas locais. Inhá Dalina conversava com quem conversava com ela e não era a feiticeira que diziam ser. Talvez, se tivesse sido era a sua força para conseguir conviver entre os que se consideravam superiores a ela. Muito tempo passou, aquele lugar se acabou, mas, não na memória que mantém gente de outrora como a Inhá Dalina que viveu com a sua sina mais ausente de estima e o seu irmão Satonino que viveu afastado de mimo.

Altino Olympio