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Zinho (José Olímpio)

Zinho (José Olimpio)

O pensamento agora está num passado parecido ter sido uma lenda quando relatado a outros desta época. Os meninos até por volta dos quatorze anos de idade eram habituados ao andar descalços por todas as redondezas de onde moravam, inclusive na escola. Tinham tudo a seu favor. Liberdade de ir e vir, amigos da mesma e de outras vilas e todos os folguedos infantis da época. Na Vila Pereira morava o Ernesto Olimpio, a esposa Amabele, o filho Zinho e a filha Licinha. Ernesto era diferente dos três irmãos do mesmo bairro que eram motoqueiros e por isso eram mais “atirados” no ausentar-se de suas esposas para seus passeios ocultos. Mais fiel Ernesto e a esposa eram grudadamente apaixonados. Onde um estava, estava também o outro. Aquele “amor para sempre” esteve a suportar as malvadezas diárias do Zinho. Ele era danado. Também, tudo lhe era engraçado e vivia rindo estando de bem com a vida. Nunca se soube se alguma vez ele envolveu-se em altercações. Como gostava de crianças. Não podia ver qualquer mãe carregando uma e lá ia ele beijar sem parar o bebê. O tempo passou e o Zinho se engraçou com uma moça da conhecida Rua dos Coqueiros, a Tutu (Maria Helena) filha única do casal Roque e Maria Rita. O Zinho e a Tutu seguindo o exemplo dos sogros dele, também optaram por uma única filha e ela se chama Milena. Por muitos anos o Zinho foi barbeiro em Caieiras e dos bons, até quando mudou de profissão para ser desenhista a trabalhar na Cidade de São Paulo. Foi fumante durante muitos anos e muito mais anos teve o hábito diário de freqüentar padarias para tomar pinga com limão. Primeiro deixou de fumar e depois deixou da pinga com limão (como deve ter sofrido por isso). Isso é lamentável, pois, essa desistência afasta os verdadeiros amigos. O Zinho nunca foi de se queixar da vida, mas, uma vez surpreendeu-me ao dizer que a Tutu mais conversava com o pai dela do que com ele. Não devia se sentir só porque sempre tiveram gatos espalhados pela casa. Querido pelos parentes ele só não se dá bem com o primo Estanguelão. Bom, o Zinho não “toca” no assunto, mas, parece que o Estanguelão ficou responsável para ir buscar os doces e sanduíches para o casamento dele e o Estanguelão só entregou uma parte. O Zinho sempre era visto em quase todos os lugares e era mesmo detentor de muitas amizades. Era de visitar os parentes e, assíduo frequentador do velório. De uns tempos para cá ele deu uma sumida. Não sei se ainda vive e a última notícia sobre ele foi o ficar sabendo que ele, samaritano como era, havia se tornado enfermeiro ou dama de companhia para uma senhora bem idosa. Ele que a levava pra cama, ele a banhava, lhe vestia e a alimentava. A Tutu mais cuidava dos gatos para poupá-lo dessa tarefa estafante e a filha Milena se tornou motorista para eles. Aqui é preciso terminar este breve relato sobre o Zinho mesmo sem muitas das histórias vividas por ele porque o dono deste jornal é um “pé no saco”. Reclama muito quando os textos estão a absorver muito espaço.

                                                                                               Altino Olympio

Nota sôbre a matéria acima: Caro primo Altino, você esqueceu de contar que o Zinho no começo da profissão de barbeiro, treinava na casa dele com a família, a Tia Carmem colocava uma "lata" de armazenar alimento em cima da cadeira e o Zinho treinava, minha Avó Lucinda não gostava muito do corte (invariavelmente "americano" ou "escovinha") mas como era de graça até que tolerava. Outro fato que eu me lembro era a grande amizade de vocês dois que imagino deve perdurar até hoje. Quando meu Avô Vitorio mudou para a rua dos Coqueiros eu coninuei cortando cabelo no Zinho, minha mãe mandava o dinheiro mas ele não aceitava, dizia que dava azar cobrar de parente, acho que porisso ele não ficou milionário. No mais concordo com tudo, é um primo querido e sempre lembrado. Estanguelão.