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Paraiso perdido dos melhoramentinos

Paraíso perdido

A Indústria Melhoramentos continha em suas adjacências mais de mil casas para moradia de seus funcionários. Eram providas de água encanada, sistema de esgoto e energia elétrica, cujos consumos eram gratuitos. O nome do lugar, Caieiras, foi derivado dos fornos de cal situados na região. No fim da década de cinquenta do século passado “fervilhava” o assunto sobre os salários da cidade de São Paulo ser superiores aos pagos pela indústria local e pensava-se em forçar uma equiparação como também outras reivindicações. O sindicato local do ramo de papel contratou um bem notório advogado, Mario Carvalho de Jesus, para a assessoria jurídica trabalhista. Ele esteve envolvido com a greve da Fábrica de Biscoitos Aymoré e outras. Até me lembro do slogan da época “O que nóis qué? Comprar a Aymoré”. O mais repercutido envolvimento do advogado foi na longa greve dos operários da Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus. Em Caieiras, na discordância da indústria de papel em atender a todas ou algumas das reivindicações do sindicato, o advogado orientou pela paralisação dela. Isso aconteceu não por muitos dias, mas, o suficiente para a diretoria da indústria penalizar seus funcionários e suas famílias com o corte da energia elétrica e com os meios de transporte local, como, a famosa maquininha do Bairro da Fábrica a Caieiras e os caminhões de passageiros (apelidados de pau-de-arara) para o Bairro de Monjolinho e vilas mais distantes como, Bonsucesso e Calcária. Com esse desguarnecer pareceu que os diretores da indústria estiveram a demonstrar suas indignações contra a ingratidão de seus funcionários. Vale lembrar, todos os filhos deles tinham prioridade nas vagas de emprego da indústria, que, até era chamada de “mãe” por causa disso. Pelego e Queixada, termos estes derivados da greve de Perus, também foram repetidos nesta região durante a greve. O primeiro era pra quem “furou” a greve comparecendo ao trabalho e o segundo para a maioria dos favoráveis a ela. Desnecessário relatar aqui o “clima” de desapontamentos mútuos entre pessoas tidas como sendo de uma mesma e grande família. Esse episódio passou e a indústria nunca mais foi à mesma em relação a seus empregados. Vários daqueles que não aderiram à greve foram compensados por maior consideração e com cargos de maior remuneração. Quase despercebidas algumas regalias foram subtraídas dos funcionários e talvez a greve tenha sido o facilitar da solução para o início do despovoar daquele local privilegiado. Uma casa desocupada logo era demolida e assim sucessivamente até todas terem o mesmo destino e sendo o desaparecer de seus habitantes das cercanias da fábrica de papel.  Entretanto, antes disso, para vários deles foram construídas várias casas em terreno da indústria na Rua Guadalajara do agora, Centro do Município de Caieiras. Mais acima num loteamento em comum acordo com o antigo BNH (Bando Nacional de Habitação) muitas outras de mais fácil aquisição também foram construídas. Outro empreendimento imobiliário mais amplo da Cia. Melhoramentos veio a ser realizado como condomínio fechado de nome Nova Caieiras. Muito tempo já passou, mas, ainda hoje, inúmeras pessoas oriundas daquele lugar onde tiveram suas infâncias, mocidades e amizade era a condição preferida, ao se reencontrarem pelas “esquinas da vida” é comum comentarem entre si as lembranças de suas existências naquele “paraíso perdido” agora lembrado como “Caieiras antiga”.

                                                                                                  Altino Olympio