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A 1ª greve na Cia Melhoramentos II

Os defecados pelas notícias

Em continuação do artigo sobre a greve na indústria de papel de Caieiras pelo fim da década de cinqüenta do século passado convém destacar uma incongruência. O advogado contratado pelo sindicato local se dizia ser um cristão. Sabia sim de um dos mandamentos contido nas escrituras sagradas, aquele do “não mentir”. Sabe-se que a maioria dos seres humanos mais age ou reage pelas suas conveniências e se a mentira pode favorecê-los, eles a utilizam. Para forçar a indústria a ceder sobre as suas questões trabalhistas, o advogado, mancomunado com um jornal de São Paulo e de ampla circulação entre o povo leitor, ele fez “por bem” inserir no jornal uma fotografia de um banheiro residencial todo deteriorado e emporcalhado. Essa “reportagem” esteve a insinuar que em todas as residências pertencentes à indústria eles eram iguais. Essa escandalosa mentira teve o propósito de humilhar os dignitários da indústria para que os mesmos cedessem às reivindicações do sindicato. Mas, percebida ou despercebida, a humilhação também foi extensiva aos operários, porque, seus banheiros residenciais eram bem cuidados. Antecedendo em muitos anos o progresso de várias regiões da Capital de São Paulo, o local onde se situava aquela greve era provido de rede de esgoto. Homens, crianças grandes que são e emocionadas diante de líderes, considerando-os assim, inferiorizam-se a eles, acatando e seguindo seus intentos. Houve comícios para os operários e alguém presente teria interpelado o discurso do advogado para contradizê-lo sobre a veracidade daquela foto tão vergonhosa no jornal? Claro que não! A mentira e o advogado teriam sido aplaudidos. Em locais tidos como sagrados combatem a mentira, mas, no cotidiano ela até é elogiada quando está a favorecer a conveniência. Por isso não se deve confiar muito nos seres humanos, coitadinhos, são tão contraditórios. Esse assunto esquecido e hoje tão sem importância está apenas a confirmar à frequente crença nas “verdades” da mídia impressa, irradiada ou televisada. Ainda tem gente naquele “se saiu no jornal e na televisão é verdade”. Esses instrumentos de domínio público ditos como ser para informar podem estar a deformar. Contudo, aquela greve de Caieiras terminou e nenhum dos banheiros foi reformado. Não precisavam, pois, eram decentes e não constavam como uma reivindicação do sindicato. O jornal que tanto valorizava seus leitores se “esqueceu” de se desculpar pelo “engano” ao publicar a foto de um banheiro tão degradante ao invés de publicar outra foto de banheiro autêntico como eram eles naquela ocasião, nas casas dos funcionários da indústria.  Oremos irmãos para que nossas mentiras não se tornem públicas.

                                                                                                  Altino Olympio