Versão para impressão

01/11/2011
Diabetes - Mitos

Quem tem a doença deve restringir consumo de carboidratos mas não pode exagerar nas proteínas, para não sobrecarregar os rins

A chegada de um paciente ao hospital com os rins doentes, em metade dos casos, revela um diabetes até então desconhecido, mas em estágio avançado e em situação de descontrole.

Para piorar o cenário, o nefrologista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Arthur Beltrame Ribeiro, agrega mais estatísticas a esse quadro:

“Três em dez diabéticos acabam na máquina da hemodiálise (aparelho que substitui a função renal) e com a necessidade de fazer um transplante de rim."

O comprometimento dos rins do diabético se dá por causa da própria dinâmica da doença, em especial a do diabetes tipo 2, desencadeado principalmente por obesidade, pressão arterial alta e sedentarismo.

“O rim é um dos órgãos mais vascularizados do corpo, responsável por limpar o organismo das substâncias que não fazem bem”, afirma o médico. “Como as placas de gordura comprometem os vasos, e elas são bem comuns em pacientes diabéticos, o rim é atingido em cheio", informa Marco Tambascia, professor de endocrinologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Além do curso natural da doença, a maioria dos medicamentos existente no mercado exige do rim um maior funcionamento para eliminar as toxinas do corpo.

“Por conta disso, um ponto que merece atenção é a alimentação”, acrescenta a endocrinologista do Hospital São Paulo, Maria Teresa Zanella. “O diabético, devido às restrições alimentares, precisa controlar os carboidratos (açúcar e farinha, por exemplo) e acaba consumindo mais proteínas (carnes e laticínios). O problema é que para metabolizar as proteínas, também há uma maior exigência do rim. Tudo isso precisa ser pensado na hora do tratamento e na indicação da dieta”, reforça a endocrinologista.

Soluções

Tratar e ainda proteger o rim do diabético exige uma ação em conjunto de várias áreas médicas, avalia Beltrame Ribeiro. “Mesmo porque, o diabetes tipo 2 vem acompanhado de um coquetel de fatores de risco. Em nosso ambulatório, simultaneamente o diabetes, a obesidade e a hipertensão. Isso acarreta uma mudança nutricional do paciente, com cautela especial aos rins”, informa o nefrologista.

Paralelamente, a indústria farmacêutica também pesquisa opções medicamentosas que exijam menos da função renal. Uma delas, por exemplo, que acaba de chegar no mercado brasileiro é excretada pela bile (pelas fezes) e não pelos rins. O novo remédio já está no mercado e precisa de receita especializada para ser consumido.

A Sociedade Brasileira de Diabetes orienta sobre os mitos e verdades dos produtos alimentícios indicados para as pessoas com a doença.

1. Diabéticos não podem comer beterraba

MITO. As pessoas com diabetes podem consumir beterraba, pois ela é uma boa fonte de fibras, vitaminas e minerais e poderá fazer parte da dieta, elaborada pelo nutricionista.

2. Frutas como banana, uva, caqui, manga e melancia, devem ser excluídas da alimentação dos diabéticos pois aumentam muito o açúcar no sangue

MITO. Estas frutas são ricas em vitaminas, minerais e fibras e contêm açúcar natural (frutose e glicose). Quando consumidas em quantidades adequadas e distribuídas corretamente ao longo de um dia de alimentação, não prejudicam a saúde da pessoa que tem diabetes. Se consumidas em excesso, assim como qualquer fruta, poderão aumentar a glicemia.

3. Pessoas com diabetes devem comer pão somente dormido (amanhecido) ou torrado porque não faz mal para o diabetes

MITO. O pão francês é um alimento que faz parte da dieta do brasileiro e uma importante fonte de carboidrato na alimentação. O carboidrato é o nutriente que mais afeta a glicemia, pois quase 100% dele é convertido em glicose (açúcar). Assim, não importa a forma de preparo ou de consumo do pão, um pão francês de aproximadamente 50g terá sempre 28g de carboidrato, estando ele torrado ou dormido. Portanto, o correto é consumir esse alimento sempre orientado pelo nutricionista.

4. Diabéticos não podem comer arroz e feijão

MITO. Durante muitos anos, algumas crenças foram criadas sobre a ingestão de arroz e feijão. Alguns diziam “engorda”, outros que “diabético não pode comer”, porém, hoje sabe-se que principalmente o feijão é um dos alimentos mais ricos em fibras solúveis e amido resistente (outro tipo de fibra) e faz parte do hábito alimentar do brasileiro. A presença desse tipo de fibra torna a digestão mais lenta, algo importantíssimo para menor elevação da glicose no sangue. Outro aspecto relevante é a saciedade que o feijão proporciona, resultado desse mesmo processo de digestão.

5. Produtos “diet” são feitos para diabéticos e podem ser consumidos à vontade

MITO. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) pode ser chamado de alimento diet aquele que é isento de algum nutriente. Isso significa que nem sempre ele é isento de carboidrato – pode ser em gordura ou sódio, por exemplo. Algumas marcas de chocolate, por exemplo, apresentam maior teor de gorduras e pouca ou nenhuma diferença em carboidrato, ou seja, nem sempre o chocolate diet é a melhor escolha. Para boas escolhas é importante comparar os rótulos dos alimentos e, em caso de dúvidas, consultar um nutricionista.