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09/05/2012
Atendimento preferencial

Gestantes e adultos com criança no colo
Adultos acima de sessenta anos
Portadores de deficiências especiais

Estou beirando sessenta anos. Aliás, eu nunca achei que iria viver tanto. Meu
pai, quando nessa tenra idade, se sentia um velho. Se fosse hoje, seria classificado como um cidadão prestes a entrar na melhor idade. Melhor assim, porque até pouco tempo atrás, os sessentões eram classificados como pertencentes à terceira idade ou idosos.
Na verdade, quem chama esta fase da vida de melhor idade, deve ter sido um filósofo que não viveu a juventude na sua plenitude. De qualquer forma, é bem melhor este tratamento do que nos chamar de idosos. Idoso, por definição, é aquele sujeito que quando jovem costumava ter quatro membros flexíveis e um duro, agora tem quatro duros e um flexível. Apenas esta pequena diferença!
Para se viver muito é preciso uma boa dose de ousadia e otimismo, além de sorte. Eu, por exemplo, botei na cabeça que viverei com saúde até aos cem anos. Tanto é verdade que já fiz minha reserva de hotel, em Piracicaba, para 2048. Lá estarei em pé e a ordem na primeira fila, para comemorar meus 75 anos de formado.
Estou vivendo uma crise existencial parecida com aquela dos meus quarenta e cinqüenta anos. Estive matutando se existe alguma vantagem em pertencer a esta nova categoria. Até agora descobri várias. Por exemplo: Fila de aeroporto, de banco, vagas de estacionamento no shopping, desconto no cinema, teatro e ônibus de graça são as mais usuais.
Há pouco tempo, na fila de embarque, fui para o começo da fila. Como farei sessenta anos daqui a quinze dias, pensei: vou testar este privilégio. Mas confesso que fiquei meio inseguro, e não deu outra. Um rapaz beirando os trinta bradou em alto e bom som: tiozão vamos respeitar a fila, pô! Sem perder a paciência retruquei: -amigo, demorei sessenta anos para conquistar este direito. E ele, mais ousado ainda replicou: - sessenta anos com estes cabelos pretinhos? Não perdi a embocadura e mandei em cima do pialo: - saiba você que esses cabelos pretinhos são graças à genética: - como assim? Retrucou. – explico: vovô pintava, papai pintava e eu também pinto. Risos gerais na fila e acabamos bons companheiros de viagem.
Como diz o ditado: não adianta disfarçar porque o rosto ou a “faccia bruta” nos entrega. As rugas do tempo - velhas companheiras - estão ali indeléveis, para não nos deixar mentir sozinhos!
Na fila do banco, tive outra experiência como recém chegado à melhor idade.
A moça que organiza as filas me colocou em atendimento preferencial, sem que eu pedisse. Poucas pessoas na minha frente - uma beleza! Ao passo que, a outra dos mortais, fazia dobra dentro do banco. Mais uma vez, um amigo espalhafatoso vocifera: - Osvaldo você está na fila errada, nem cinqüenta anos você tem! Fiquei sereno e firme diante dos olhares desconfiados e retruquei: - quem me dera amigo, é bondade sua, sou igual à cobra de laboratório, estou conservado no álcool!  Risos novamente!
Confesso que ainda vacilo ao dizer minha nova idade, preencho a ficha do hotel como se tivesse 59 aninhos. A partir de agora, meu sonho será fazer 69, quase 70, sem perder o status e o charme de continuar pertencendo à categoria - melhor idade. Também digo aos amigos com a maior cara de pau, quando perguntam, que nunca tomei Viagra, porque ainda não precisei. Esta me parece ser também outra característica dessa fase da vida – contar pequenas mentiras, mas com segurança!
E VIVA A MELHOR IDADE!
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Osvaldo Piccinin