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09/05/2012
Velho meu querido velho

Benedicto era seu nome. Traduzindo: abençoado, bendito. Aquele escolhido por Deus para cumprir uma nobre missão na terra.
Hoje é dia dos pais. Reconheço tratar-se de um importante simbolismo, só que para mim é muito relativo, pois todos os dias de nossas vidas deveriam ser dias de nossos genitores - pais e mães.
  Peço licença aos leitores, para falar um pouco do meu querido pai que nos deixou há três anos, após cumprir sua jornada com louvor. Estou certo que muitos tiveram uma história parecida ou muito próxima à minha.
“Eu sou teu sangue meu velho, teu silêncio e o meu tempo, teus olhos são tão serenos, tua figura cansada, pela idade foi vencido, mas caminhou a tua estrada”.
Nossa caminhada juntos durou um pouco mais de meio século, o suficiente para que seus filhos, netos e amigos aprendessem a admirá-lo. Seu rastro é de um homem determinado e incansável na labuta diária. Era muito carinhoso com os filhos, mas a seu modo, sem muita frescura, como nos dizia. Seu exemplo e ensinamentos nos moldaram para a vida e assumimos o compromisso de repassá-los aos seus descendentes. Afinal, sua história foi escrita no cabo de uma enxada e não numa rajada de vento.
  Por ocasião de seu velório, pensei em fazer-lhe uma última homenagem, diante daquelas pessoas presentes que lhe eram tão caras, mas na última hora - confesso - me faltou coragem. Talvez ele mesmo tenha influenciado nesta minha recuada. Por ser um homem simples, discreto e que detestava holofotes, tinha muita dificuldade em receber elogios – característica presente nos grandes homens de alma pura - seu rosto italiano corava-se quando, às vezes, isso acontecia.
  Apesar de todas as dificuldades enfrentadas, sempre foi um pai presente nas horas difíceis de nossas vidas. Era tão forte, que a única vez que o vi chorando, entrei em desespero, claro, meu herói não tinha o direito de chorar, muito menos de fracassar.
  Tinha pouco estudo, mas era um sábio pela própria natureza, pois tinha visão e perspicácia nos negócios. Sua valentia diante das tomadas de decisões nos impressionava, sem contar com sua seriedade no cumprimento dos deveres.
Serei eternamente grato, por não ter consentido a interrupção da gravidez de minha mãe, quando eu era “a bola da vez”.  Devido uma hemorragia constante o médico lhe deu apenas duas opções: Ou salvava a criança ou a esposa, infelizmente não será possível salvar os dois, segundo ele. Mas você provavelmente iluminado por nossa protetora, soergueu o punho cerrado e pronunciou calmamente: - Doutor eu não quero o aborto de minha mulher, este será meu primeiro filho, e correrei este risco na certeza que ambos serão salvos. E assim foi feito. Caso contrário, eu já estaria no esgoto há muito tempo, sem jamais poder demonstrar minha gratidão pelo seu gesto.
   Você meu velho, sempre nos incentivou e nos “botou” para estudar nas melhores escolas e isso fez a diferença em nossas vidas. Eu o vi passar muitos apuros quando era cobrado pelos padres do colégio, devido às mensalidades atrazadas. Passando muita humilhação, muitas vezes recorria aos agiotas, isso quando não pagava com produtos produzidos em nosso sítio, tais como: arroz, feijão, banha de porco, laranja, tomate etc. Mesmo assim não deixava “a peteca cair”. Nossos estudos eram sagrados e disso nunca abriu mão, nem que tivesse de “comer o pão que o diabo amassou”.
Sabe meu velho, eu ainda teria muita coisa para falar, mas falta espaço, porque em se tratando de uma crônica temos limite. Prometo que um dia no plano espiritual nos encontraremos para passarmos nossa história a limpo. Na verdade, eu só quero entender onde você arrumava tanta força para vencer os obstáculos e garanto - não foram poucos.  Qual era seu segredo para nunca esmorecer e sempre sonhar com dias melhores? Como pai eu posso lhe garantir: o filho é a ponte mais próxima para chegarmos à eternidade. Aquele que despreza seu velho é como um galho que deixa o tronco que o sustenta tombar sem apoio.
E VIVA TODOS OS PAIS DA NOSSA PÁTRIA!
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Osvaldo Piccinin