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09/05/2012
Nerso meu primo sabido

Assim como faço todos os domingos, desde que saí da casa de meus pais, há mais de quarenta anos, telefonei domingo passado para minha mãe, ocasião esta, que passamos em revista as novidades e fofocas da cidade onde nasci.  Nessas ligações, ela costuma relatar-me quem nasceu, casou, separou, morreu etc.
Claro que também sou muito curioso e gosto de saber como estão meus amigos de infância, como está o fulano como está o sicrano e assim a gente fica tricotando por minutos a fio, coisa que ela adora fazer.
Nelson, Nerso ou Italiano é o nome do meu homenageado nessa crônica. Temos a mesma idade e passamos bons tempos de nossa infância no sitio de nossos pais. Já fico imaginando as mentes poluídas o que irão pensar dessa nossa infância na roça. Mas nós fizemos um pacto que nem depois de mortos vamos falar sobre este assunto... Coitadas das galinhas de minha avó!
Brincadeiras à parte, mas este meu primo ficou na labuta da roça até seus vinte e poucos anos, pois era o filho do meio de uma “ninhada” de oito irmãos. Pagar faculdade para tantos filhos era impossível devido aos parcos recursos da família, versus a quantidade de irmãos. O caminho natural dele e seus irmãos foi trabalhar na roça, mesmo contra suas vontades.
Já casado com a simpática Cida, resolveu abandonar o cabo da enxada “Duas Caras” e mudar-se para a cidade onde foi tentar a vida no comercio, como vendedor de máquinas agrícolas – e por sinal, se deu muito bem! Matemática nunca foi seu ponto forte, mas ele superou esta deficiência com muita competência. Inventou uma fórmula infalível de não perder dinheiro numa venda - isso sem fazer nenhuma conta! Impossível? Aguardem a receita do Nerso!
Numa dessas ligações dominicais à minha mãe, perguntei sobre o Nerso. Foi quando ela me disse: - ele está rico vendendo umas tranqueiras velhas!  Ele já comprou cinco sítios! Fiquei muito feliz com esta notícia, afinal, se tem alguém que merece progredir na vida é ele, pois trabalha como um maluco, e não tem hora pra nada, como se diz por aquelas bandas.
É tão sabido que quando eu disse que iria homenageá-lo, sua única preocupação foi: - cuidado com o que você vai escrever, porque os fiscais de renda poderão acreditar! Tranqüilizei-o e disse-lhe que minhas palavras seriam apenas manifestações de carinho e admiração.
Um dia fui visitá-lo de surpresa e como fazia algum tempo que não nos víamos, ele e a sua fiel companheira, demoraram um pouco para me reconhecer. Assim que nos cumprimentamos afetuosamente eu disse-lhe que estava ali para aprender como eu deveria fazer para ficar rico, assim, como ele.
Fiz algumas perguntas usando uma linguagem financeira do tipo: qual sua margem bruta, qual é o retorno sobre o capital investido, etc. Claro que só fiz isso para sacaneá-lo, pois esta linguagem soa grego aos seus ouvidos.
Sem perder a pose me disse: - Ninão, este era meu apelido de infância, não estou entendo sua conversa, mas imagino que você está querendo saber quanto ganho para vender estes ferros velhos. Eu disse: - é exatamente isso Italiano!
Foi quando me passou a fórmula mágica de vender ganhando dinheiro sem precisar fazer conta. Ninão, eu e a Cida somos pessoas simples e você sabe disso, nós comemos arroz, feijão, bife, ovo frito e uma salada quase todos os dias, então não precisamos ganhar muito. Por exemplo: nós compramos uma mercadoria por um real e vendemos por dois reais e com esse um por cento “noi vai viveno”. Num tá bom assim?
Eita primo sabido! Além de ser um pai, esposo e amigo carinhoso é um grande comerciante! Ainda bem que não sou seu cliente! Agora entendo porque você tá cada vez mais rico! Com cem por cento de margem, fazer conta pra quê não é mesmo?!
E VIVA O UM POR CENTO DO NERSO!
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Osvaldo Piccinin