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19/06/2012
O conserto da televisão .

Um dia, na casa de minha madrinha ( Maria Ap. Sant’Anna) houve um acontecimento inédito.Era comum na época os técnicos irem consertar os televisores na própria casa do cliente.Lá  na Vila Leão quando ele ia pra fazer um conserto já aproveitava e sempre consertava mais dois  ou três.Os aparelhos queimavam com muita freqüência.A nossa  televisão  então queimou  e o técnico compareceu como de costume. Parece  que seu nome era Levy.Era um homem claro,alto de cabelos levemente anelados e muito simpático.A nossa televisão foi então aberta por ele e eu permaneci   num canto da sala presenciando o enorme acontecimento.Dentro da caixa da TV tinha uma espécie de tabuleiro com mil válvulas,de diferentes tamanhos,diferentes cores que ficavam milimetricamente alinhadas e unidas por fios que se acendiam assim que o aparelho era ligado.Aquilo aberto, pra mim foi um verdadeiro espetáculo. Não conseguia compreender  que daquele amontoado de pequenas lâmpadas, saíam  as cenas de Bonanza, Capitão 7, séries que eu tanto  adorava assistir.Bom, o técnico acompanhado pelo meu padrinho Juca( Jose Albino de Oliveira),pelo vizinho  Dito(Benedito Pereira Marques, marido da Maria Luiza Silveira) e mais outro que não me lembro, arrastaram o móvel para facilitar o manuseio das peças.Minha madrinha, na cozinha,aparecia de tempo em tempo para acompanhar o serviço Num dado momento, um grito desesperador,ecoou pela casa.
---Socorro, me acuda! Socorro, me acuda! Me acuda,  que eu tô morrendo!!!
Era o técnico que, branco, feito cera, gritava com aquele tabuleiro de válvulas nas mãos. Ele não havia tirado o fio da tomada e ai..., um grande  choque é claro.Gritava tanto que os outros homens  de tão assustados ficaram inertes e paralisados.Minha madrinha correndo entrou e imediatamente saiu  numa pequena área da porta da sala para  desligar a chave geral de fusíveis .Em seguida, trouxe uma garrafa de água que  os homens viraram  pela garganta abaixo do técnico que só tremia.Anos mais tarde comentei fato com minha madrinha, mas ela também não se lembrava mais dos detalhes.Isto  deve ter acontecido em 1963, quando eu tinha uns 6 anos.Na época, a gritaria foi tanta que por susto  devo também ter bloqueado muita coisa.
Já na Rua Guadalajara, várias vezes os técnicos continuaram visitando as casas.Eram da família Barnabé,donos depois das Lojas Ariex de Franco da Rocha.Nunca mais ocorreu  incidente parecido, mas aquele, lá da Vila Leão, ficou registrado em minha memória .Não esqueço a rapidez e a iniciativa da minha madrinha em desligar os fusíveis. E não esqueço dos gritos do pobre homem.Não lembro também se, naquele dia a televisão foi consertada,se pude ver  meus programas preferidos.Lembro  só, que assisti  a uma cena de grande  terror , ao vivo e que  aqueles  gritos de pavor,nem mesmo uma TV de LCD  irá reproduzir novamente. (risos).


Fátima Chiati