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24/08/2012
Graça Foster e a Petrobras

 

Estilo Graça Foster pode gerar rebelião na Petrobras

 Nova presidente da Petrobras decidiu comprar uma briga daquelas, em
 pleno ano eleitoral. Ela quer cancelar todos os contratos de
 patrocínio da estatal e já provoca uma gritaria entre políticos da base aliada

 Dias atrás, a presidente da Petrobras, Graça Foster, fez uma
 conferência com investidores e foi de uma sinceridade atroz. Reduziu
 de 3,1 milhões para 2,5 milhões barris/dia a meta de produção da
 empresa para 2016. “Os números não eram realistas”. Além disso,
 cancelou projetos de várias refinarias e manteve apenas a Abreu e
 Lima, em Pernambuco, que custará nove vezes mais do que o previsto – o
 orçamento foi de R$ 4,75 bilhões para R$ 42 bilhões. Graça já havia
 demarcado seu território, ao demitir diretores que haviam sido
 indicados politicamente – inclusive, pelo próprio PT.
 Agora, ela decidiu comprar uma nova briga, segundo informa a coluna do
 jornalista Ilimar Franco, no jornal O Globo, na nota “Fim da farra”:
 A presidente da Petrobras, Graça Foster, decidiu segurar e rever todos
 os patrocínios concedidos pela empresa. Sua posição atinge eventos,
 congressos, publicações, filmes, projetos culturais e conferências
 setoriais e temáticas promovidas pelo governo federal e que tinham
 patrocínio da estatal. Os marqueteiros petistas estão em polvorosa e,
 atônitos e irritados, perguntam: "Quem essa Graça Foster pensa que é?
 A Dilma da Dilma?"

 Graça tem o respaldo da presidente Dilma Rousseff, mas seu estilo tem
 gerado críticas no PT. Seu antecessor, José Sergio Gabrielli, é amigo
 pessoal do presidente Lula.

 Além disso, ao criticar as “metas irreais” da era Gabrielli, ela
 também critica, indiretamente, a era Lula. A conferência de Graça
 Foster com investidores ensejou o artigo “O custo Lula”, publicado
 pelo jornalista Carlos Alberto Sardenberg. Leia:

 Há menos de três anos, em 17 de setembro de 2009, o então presidente
 Lula apresentou-se triunfante em uma entrevista ao jornal Valor
 Econômico. Entre outras coisas, contou, sem meias palavras, que a
 Petrobrás não queria construir refinarias e ainda apresentara um plano
 pífio de investimentos em 2008. “Convoquei o conselho” da empresa,
 contou Lula. Resultado: não uma, mas quatro refinarias no plano de
 investimentos, além de previsões fantásticas para a produção de óleo.

 Em 25 de junho último, a Petrobrás informa oficialmente aos
 investidores que, das quatro, apenas uma refinaria, Abreu e Lima, de
 Pernambuco, continua no plano com data para terminar. E ainda assim,
 com atraso, aumento de custo e sem o dinheiro e óleo da PDVSA de
 Chávez. Todas as metas de produção foram reduzidas. As anteriores eras
 “irrealistas”, disse a presidente da companhia, Graça Foster,
 acrescentando que faria uma revisão de processos e métodos. Entre
 outros equívocos, revelou que equipamentos eram comprados antes dos
 projetos estarem prontos e aprovados.

 Nada se disse ainda sobre os custos disso tudo para a Petrobrás. Graça
 Foster informou que a refinaria de Pernambuco começará a funcionar em
 novembro de 2014, com 14 meses de atraso em relação à meta anterior, e
 custará US$ 17 bilhões, três bi a mais. Na verdade, as metas agora
 revistas já haviam sido alteradas. O equívoco é muito maior.

 Quando anunciada por Lula, a refinaria custaria US$ 4 bilhões e
 ficaria pronta antes de 2010. Como uma empresa como a Petrobrás pode
 cometer um erro de planejamento desse tamanho? A resposta é simples: a
 estatal não tinha projeto algum para isso, Lula decidiu, mandou fazer
 e a diretoria da estatal improvisou umas plantas. Anunciaram e os
 presidentes fizeram várias inaugurações.

 O nome disso é populismo. E custo Lula. Sim, porque o resultado é um
 prejuízo para os acionistas da Petrobrás, do governo e do setor
 privado, de responsabilidade do ex-presidente e da diretoria que topou
 a montagem.

 Tem mais na conta. Na mesma entrevista, Lula disse que mandou o Banco
 do Brasil comprar o Votorantim, porque este tinha uma boa carteira de
 financiamento de carros usados e era preciso incentivar esse setor. O
 BB comprou, salvou o Votorantim e engoliu prejuízo de mais de bilhão
 de reais, pois a inadimplência ultrapassou todos os padrões. Ou seja,
 um péssimo negócio, conforme muita gente alertava. Mas como o próprio
 Lula explicou: “Quando fui comprar 50% do Votorantim, tive que me
 lixar para a especulação”.

 Quem escapou de prejuízo maior foi a Vale. Na mesma entrevista, Lula
 confirmou que estava, digamos, convencendo a Vale a investir em
 siderúrgicas e fábricas de latas de alumínio. Quando os jornalistas
 comentam que a empresa talvez não topasse esses investimentos por
 causa do custo, Lula argumentou que a empresa privada tem seu primeiro
 compromisso com o nacionalismo.

 A Vale topou muita coisa vinda de Lula, inclusive a troca do
 presidente da companhia, mas se tivesse feito as siderúrgicas estaria
 quebrada ou perto disso. Idem para o alumínio, cuja produção exige
 muita energia elétrica, que continua a mais cara do mundo.
 Ou seja, não era momento, nem havia condições de fazer refinarias e
 siderúrgicas. Os técnicos estavam certos. Lula estava errado. As
 empresas privadas foram se virando, mas as estatais se curvaram.

 Ressalva: o BNDES, apesar das pressões de Brasília, não emprestou
 dinheiro para a PDVSA colocar na refinaria de Pernambuco. Ponto para
 seu corpo técnico.

 Quantos outros projetos e metas do governo Lula são equivocados? As
 obras de transposição do rio São Francisco estão igualmente atrasadas
 e muito mais caras. O projeto do trem bala começou custando R$ 10
 bilhões e já passa dos 35 bi.

 Assim como se fez a revisão dos planos da Petrobrás, é urgente uma
 análise de todas as demais grandes obras. Mas há um outro ponto,
 político. A presidente Dilma estava no governo Lula, em posições de
 mando na área da Petrobrás. Graça Foster era diretoria da estatal. Não
 é possível imaginar que Graça Foster tenha feito essa incrível
 autocrítica sem autorização de Dilma.

 Ora, será que as duas só tomaram consciência dos problemas agora? Ou
 sabiam perfeitamente dos erros então cometidos, mas tiveram que calar
 diante da força e do autoritarismo de Lula?

 De todo modo, o custo Lula está aparecendo mais cedo do que se
 imaginava. Inclusive na política.

 Foster terá que contar agora com muito respaldo de Dilma, para não ser
 atingida, em breve, pelo fogo amigo.

	





Ilimar Franco, O Globo