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11/01/2014
Um Circo em Caieiras

Um Circo em Caieiras

Certa vez, no final  da década de 60, aqui em Caieiras, mais precisamente no Bairro da Cresciúma, também tivemos a visita de um grande Circo. Daqueles com  lonas rasgadas, arquibancadas de madeira, chão de terra, picadeiro de serragem e muitas, muitas  lâmpadas. Ele se instalou no final da Rua Ambrosina do Carmo Buonaguide, quase esquina com Av. Presidente Kennedy. Lembro como se fosse  hoje, do nosso entusiasmo por este Circo e seus artistas. Afinal, aquilo era  prenúncio de muita diversão para nós crianças da época.
Ficou instalado naquele ponto e ali permaneceu  por algumas semanas. Durante o dia, por curiosidade passávamos pela Rua  para tentarmos  descobrir as novidades que, só na estreia seriam reveladas. O local permanecia sempre rodeado  de veículos grandes, jaulas, animais rugindo e de muita movimentação dos próprios artistas e proprietários.  Não conseguíamos chegar muito perto, tudo era bem cercado. Ouvíamos apenas,  os  ruídos e sons demonstrando que todos  estavam ensaiando  e se preparando para o grande dia. Dias antes da data de estreia, carros com alto falantes circulavam pela cidade, fazendo propaganda e convidando a população para o  evento. E no dia marcado,  lá fomos  nós aos  batalhões, com dinheiro contado para entrada, pipoca e pirulitos. Sempre havia  muitas guloseimas, algodão doce, maçã do amor e sorvetes para alegrar e completar nossa felicidade. Entramos no Circo com olhos arregalados e curiosos. Sentamos naqueles bancos de taboa   pois, só quem se dispunha gastar um pouco mais é que se sentava nas cadeiras especiais (nem tanto!), próximas ao picadeiro. Quando o show começou, palhaços, malabaristas, mágicos, trapezistas, equilibristas tomaram conta da noite (ou da tarde) e o espetáculo  mais temido com o  domador e seus leões sempre ficava para o final. Mas a atração mais anunciada e esperada era sem dúvidas, a do Globo da Morte, aquela onde  um motoqueiro arriscava a vida numa estonteante corrida dentro daquele compartimento gigantesco, metálico e muito brilhante. Sempre havia o risco de acidentes. Todos temiam e na hora desta apresentação era comum se manter as luzes apagadas focando-se apenas no Globo que, estalava aturdidamente e ofuscava  nossos olhos atentos. Para aumentar a tensão uma música e sons de instrumentos musicais quase arrombavam nossos ouvidos e aceleravam nossos corações cheios de admiração e medo. Mas tudo  era lindo!
Nunca ocorreu qualquer  tragédia ou acidente com o circo. Mas lembro-me que, os adultos da cidade comentavam e temiam sobre a possibilidade de algum animal escapar pelas ruas. Por esta razão e  por segurança íamos sempre  acompanhados às apresentações. Numa  destas noites e eu minha irmã Joana fomos levadas pela minha Madrinha ao local e eu particularmente me diverti demais.
Foram dias de festa na cidade pacata de Caieiras. O Circo patrocinava mais um  encontro social entre os moradores de Caieiras. Unia corações e almas para plena diversão.
Hoje no local, existem casas, comércio e nem passa pela cabeça dos que transitam por ali que, um dia, naquele mesmo espaço  aconteceram magníficas apresentações circenses. Pouca gente se lembra, mas eu jamais me esqueci  destes momentos tão puros e alegres que adocicaram minha infância. Fechando meus olhos por instantes, revejo tudo: luzes, bancos, artistas maquiados, animais, doces e cores. Ouço sons dos animais, ouço risos, ouço  conversas e principalmente , ouço aplausos.
Aplausos à perfeição de movimentos, aplausos às peraltices dos palhaços, aplausos à beleza dos                  artistas, aplausos à ferocidade dos bichos, aplausos à vida que pulsava animadamente sob  as  furadas  e surradas lonas. Aplausos!!! Muitos aplausos ao grande Circo. Aquele,  que um dia contribuiu para a infância feliz de tantas crianças caieirenses. Aplausos!

Fatima Chiati