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20/01/2015
Brincando pelos tempos

Quem tem mais de 40, 50 anos como eu, deve se lembrar de algumas brincadeiras infantis. Como me lembro! Meninas, brincavam com suas  bonecas e panelinhas,  pulavam corda, amarelinha, brincavam de roda, bambolê, jogavam peteca, passa- anel. Meninos rodavam pião, bolinhas de gude, carrinho de rolimã, disputavam o bafo com as figurinhas e quando se juntavam ao sexo frágil  jogavam  queimada, esconde- esconde, dominó, damas e outros. As brincadeiras eram criativas e não exigiam brinquedos industrializados. Empinar pipa exigia apenas alguns  cálculos e habilidade na execução do objeto voador. Atirar uma pedra atingindo a outra margem do  rio exigia  apenas força e   aptidão para miragem e grandes lances. Campeonatos exigiam apenas atenção, provocavam competição  e um leve toque de vaidade por   fazer sucesso entre a turma. Inventar novos jogos e brincadeiras era  fator de  realização  para  crianças de uma geração sem obsessão e sem compulsão  por novidades de consumo. Uma coleção de álbum de figurinhas já era motivo de reunião e grandes conversas. Varava-se a noite na rua fracamente iluminada ou pelos portões escancarados, simplesmente, se folheando um álbum e  contando-se histórias ou fábulas nem sempre tão conhecidas. Brincava-se  pela oportunidade da companhia de outras crianças. Brincava-se para se conviver com os  amigos  e participar um pouquinho da vida deles. Era sensacional!
Foi para mim. E entre cabras- cegas, amarelinha, roda e pega-pega eu vivi a minha  doce infância em Caieiras. Inicialmente na Vila Leão e depois no centro de Caieiras, na Rua Guadalajara. Numa estonteante euforia marcada de risos, gritaria e muito suor eu pude brincar como ninguém. A rua  foi  meu  palco de atuação e de todos nós daquela época. Éramos muitos e  a todo o momento, outros mais, se juntavam a nós na maravilhosa euforia daquela linda fase de nossa existência. Uma fase onde, brincar atestava  positivamente  toda nossa saúde física e psicológica. Uma fase onde os tombos, choros e desentendimentos também estiveram presentes, mas por poucas e raras ocasiões. Nossas famílias não nos permitiam desavenças. Brincadeira só combinava com amizade. Com esta batuta  fomos regidos  por todo aquele idílico período. Brincávamos por pura diversão, por pura necessidade de extravasar nossas  emoções e por  puro desejo em expor nossos talentos e competência na arte de ser feliz. Não sonhávamos com brinquedos eletrônicos, nem imaginávamos que um dia a tecnologia inibiria a potencialidade de se divertir de maneira mais liberta e emocional.
Hoje, celulares, tablets e coisas do gênero são os mais recentes  brinquedinhos da criançada que, com 3 ou  4 anos, já se deslumbra no teclado de aparelhos ultramodernos. Brincar na rua passou a ser assustador diante de tanta violência. Convívio passou a ser feito via rede social, facebook, whatsapp e não existem mais mistérios que provoquem criatividade e proximidade. Brinquedos do passado viraram peça de museu e crianças de hoje chegam à adolescência com profundos sinais de insatisfação. Isoladas desde cedo, agarradas a um aparelhinho cheio de teclas, comunicam-se  solitária  e falsamente via internet. Não se reúnem pra brincar, rir ou criar. Não se reúnem para cultivar amizades fortes e permanentes. Simplesmente se reúnem para exibirem  suas recentes aquisições tecnológicas e para oficializar o distanciamento que elas propiciam. Pular corda, amarelinha, rodar pião... Que seria isso? Brincadeira?...Procura no Google!!!  O amigo e conselheiro da era digital! Se insistir dá pra brincar com ele...
Lamentável e  triste!

Fatima Chiati
www.fatimachiati.com.br