Versão para impressão

"Medo de Crescer", "Medo de Quem?"

"O governo tem medo, não dos consumidores, mas dos investidores"

Aconteceu de novo, o cachorro correndo atrás do rabo. A falta de imaginação imperou, o medo sufocando outra vez a esperança, e a mídia fazendo a festa errada, criando um clima falso de "tensão", quando todos já sabiam o que iria acontecer, e mantendo desinformado o público e a maioria das pessoas, que ficam olhando apenas para árvore que lhes é apresentada, quando há uma floresta toda para ser vista e explorada, para ser pesquisada e trabalhada na busca de soluções próprias e não de paliativos.

Seguiremos pagando 500 milhões de juros por dia, até o fim do ano completando 180 bilhões de serviços pagos em juros apenas sobre a dívida interna. Pode dar certo? Se puder, realmente estaremos reinventando a roda, e esse know-how deverá ser exportado urgentemente, pois seria um verdadeiro milagre brasileiro.

A declaração sobre a intenção do governo de ampliar e baratear a oferta de crédito bancário não bate com a decisão, do mesmo governo, de elevar a taxa básica de juros, como foi feito, assunto que mereceu a análise de Joelmir Beting em sua coluna, a que deu o nome de "Medo de Quem?"

"O mistério nisso é que o Banco Central eleva o juro na base sob a alegação de que o consumo está crescendo e isso pode reatiçar a inflação. Mas não é isso, não. O aumento sadomasoquista da taxa básica tem como alvo, não o controle de inflação, mas a rolagem da dívida, que financia o déficit público. O governo tem medo, não dos consumidores, mas dos investidores que poderiam esnobar os títulos públicos, no caso da redução progressiva dos juros".

E informou mais, aquilo que normalmente não se informa pela mídia: quando custam os juros reais, quando vai pagar de fato o tomador: "A verdade é que, quanto mais o Banco Central faz subir os juros na base, mais confortável fica (a bancos e lojas) manter ou mesmo elevar os juros na ponta. E bota ponta nisso. Agora em setembro, as empresas estão pagando até 65% ao ano para produzir, enquanto as pessoas e as famílias pagam, na média de todas as linhas, 143% ao ano para consumir. A coisa vai de 53% no automóvel até 294% ao ano no crédito fácil, muito fácil, das financeiras - preferência de quem não tem renda, não tem emprego, não tem banco, não tem cheque, não tem cartão - mas tem crédito a 12% ao mês."Temos, infelizmente, outras coisas. Temos agora a 2ª maior alíquota anual de juros do mundo, acima apenas a da Turquia que é de 10,2% os nossos juros reais estão em torno de 9,50%. A terceira maior taxa do mundo é a da África do Sul, com 6,3% projetada, o que deixa, portanto, completamente fora de mundo real. Não é possível que só nós não consigamos ter uma taxa de juros civilizada.

Se olharmos a propaganda oficial, que invariavelmente aparece em todos os brakes, de todos os canais de TV aberta, parece que já conseguimos tudo, que estamos á beira do Paraíso, mas a nossa taxa de juros é infernal, o salário mínimo não consegue chegar nem aos decantados e prometidos 100 dólares, e a propaganda diz que está tudo bem. O desemprego não cai dos 11%, 19% no DIEESE, e há 9 ou 10 milhões de pessoas procurando emprego, fora os milhões de brasileiros no mercado informal, que não tem carteira, não têm Previdência, não têm nada além da cara e da coragem.

"Medo de Crescer", foi o título que o jornalista Luis Nassif colocou em sua coluna no dia seguinte ao do aumento dos juros, e assim comentou:

"Recentemente o presidente eleito do CIESP (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Cláudio Vaz, lembrava que não há crescimento sem enfrentar problemas, fricções que ocorrem no organismo econômico. São os chamados problemas do crecimento. Pode ser uma mudança momentânea de preços relativos, um gargalo provisório na oferta, na infra-estrutura. O desenvolvimento significa uma mudança de patamar. E é impossível mudar o patamar sem gerar desequilíbrios, porque o próprio desenvolvimento pressupõe a alteração nas condições anteriores.

Quem tem olhos para ver perceber que a inflação está aumentando por conta de tarifas e de problemas localizados de oferta nos setores exportadores. Não existe explosão de demanda. São preços não afetados diretamente pelas taxas de juros.Por exemplo, o Ministério da Fazenda poderia operar a economia, reduzindo as tarifas de importação nas áreas de maior pressão. Poderia até criar impostos sobre a exportação para aqueles setores mais saquecidos.

É como o médico que localiza o problemas e atua diretamente sobre ele, em vez de tratamento que afetam todo o organismo da pessoa e, por tabela, atuam sobre a doença. Mas essas formas de ação exigem dois pré-requisitos: coragem para correr o risco e agilidade e conhecimento para responder aos desafios."

O Economista