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22/11/2016
Quero Poetar!

  Poemas escritos, descritos, pensados, não falados.
  Poemas que latem intermitentes em meu cérebro incandescente, venham inundem meu peito e estourem esta insensatez de vida de papéis matemáticos que contagiam meu mundo límpido de sonhos sentidos em ambar esteira de azul mar. Detonem o giro da terra sem sentido onde não é belo o canto de poetisar e o tempo prepara as covas sem o espaço às feras que querem impor seu amar.
            Ah! Escasso momento de meu dia fraudulento!
  Quero a poesia, o poema, a filosofia! Mas a estes, inafortunadamente, só resta os segundos deste suspiro fracassado de um sem tempo para enfim meu ser disfrutar!
  Vai dia frio, consome minha alma sem pestanejar porque você sabe que sem palavras não posso conquistar.
  Quita meu pretexto para na glória de meu deleite enebriar! Mas não pense que desestirei de nesta saga poética me embriagar.
  Porque sou poema em vida, e minhas veias transbordam meus anseios de assim meus dias terminar!
  Sagaz tempo que consome minhas horas sem dar-me descanso no leito de meus assentos, para na dança das palavras me lambuzar.
  Sem você minha amante, não há razão para querer mais que a cova dos mortais ignorantes.
  Sem esta chuva de seu leite branco em minha face, já não há como caminhar.
  Vem, minha amada fiel, faz de mim seu carroussel, e então, assim, girarei em palavras ditas, não ditas mas sempre escritas num rodopiar sem pensar.
  Esta alma grega de tantos devaneios em nada mais poderiam se alegrar, senão em seus braços sangue quente sempre a agarrar.
  Blinda minha vida desta repugnante couraça abarrotada sequestradora do amor perfeito, colorido em cinco cores mas quase já desinstegrado pela ausência de poetar!
  Ignóbil dia repleto de tantas façanhas aniquilantes deste amor em par!   Inça de moscas débeis meu precioso momento de com minha amante uivar.
  Atonal, sem padrões destes clássicos sonidos que está acostumada a gritar! Já vou censurar! Quero petrificar esta clorofórmica vida sem poesia porque neste complô, sem você, minha amada amante e amiga, já não posso mais ficar!
  E neste concerto musical perturbam-se os sentidos pela fricção de desinteligências cegas e surdas ao nosso sussurar.
  Amalga-nos Senhor dos entorpecidos pela arte de só frasear!
  Mortificada nesta predileção, refloresço ainda na beleza exacerbada deste descompasso nesta coisa miúda de viver em vão.
  Descompassada escavação da miséria de entonação, sem cautela seguirá buscando minha devoção!
  Sou dela e somente dela, e assim, amordaçada ou não, não darei isenção a este flagelo de marretar minha infindável paixão.
  Opróbrio cotidiano insalubre, sai desta presunção, arranca estas estacas de plantas trepadeiras, sou amante da beleza sem distinção e a você não cederei minha latejante alma e, assim, seguirei, com minha amante, com minha alma, com minha eterna e fiel apadrinhada, neste mosteiro de palavras esvoaçantes, num culto secreto sem precedentes, queimando com chamas cintilantes sua inveja prepotente, porque a ela meu corpo, minha raiz, meu âmago pertencem.
  Amada poesia, a você, meu corpo e alma em brasas até meu último suspiro desta eutásia premeditada.
  Vaga vida sem rima, ateo fogo, guerra e que esta sua deformidade seja engolida no vão de seu excelso preconceito e invejoso recalque por ser hoje pura vaidade decrepitante.
  Vem, quero poetar!

 
  Daniele de Cássia Rotundo