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15/08/2017
Os filhos voam!

Nós dizemos que criamos nossos filhos para o mundo.
Sonhamos que sejam independentes, autosuficientes, alcancem arranha céus que não imaginávamos existir um dia, ensinamos com ânsia a busca pela felicidade, falamos do quanto é importante amar-se e nutrir a auto estima, filosofamos com nossos pupilos sobre o mundo, os conceitos, pré-conceitos, preconceitos, sobre a necessidade de um lugar melhor para as futuras gerações.
Discursamos sobre o avance da globalização, a política e a corrupção, a água do planeta, os recursos em processo de diminuta existência.
Pedimos, como figuras agonizantes no calvário, para que defendam seus próprios ideais , não procurem aprovação nos demais, não sejam plateia no teatro de pão e circo, nem estejam nos bastidores de alheios impregnados de maldade.
Mas a verdade é que quando chega o momento deles transformaram suas pequenas asas em majestosos membros de sinônimo da condição de fazerem jus a pessoa liberta, sentimos o coração apertar, as lágrimas inundarem o corpo invisível, os medos singulares serem mastigados, a contorção dos músculos em dor, a centrifugação e o triturar do amargor da despedida.

Entretanto, e entre tanta insegurança nossas cabeças sorrimos e dizemos entre dentes cerrados e constipados de vírus “saudade por vir” : voem!
Rezamos a seus todos os deuses imagináveis ou não, com mais fervor em noites caladas, num canto encolhidos e escondidos.

E parece triste, não fosse o orgulho batendo no peito de sensação da concretização de nossa própria profecia. Indubitável verdade e ironia já que esta sensação caminha de mãos dadas com um vazio, um oco no ventre, na alma, no peito aberto.

Ah! Se pudéssemos voltar no tempo e fazer nossos pequeninos bebês serem nossos ad eternum!
Se pudéssemos dizer que não queríamos deixá-los partir!
Se nos fosse concedido regressar ao passado tão perto, e já tão distante e dormir agarradinhos sentindo o cheiro da cria!

Dizermos que as gaiatices que aprontavam eram motivo de grandes gargalhadas depois da briga “educativa”!

Queremos trazê-los para nosso reduto em contradição ao que sonhamos e pregamos em sermões intermináveis em seus ouvidos.
É fato! Eles cresceram, aferram-se ao que ensinamos e com pés ainda bambos, asas trêmulas, incerteza mas e antes de tudo com determinação começam a alcançar altura!

O “até logo” transforma-se num gosto de saudade picante, que corrói pouco ao órgão da vida que bate recalcado em nosso peito.
Dói demasiado vê-los voar .
Envelhecemos como fruta mais que madura a galopes em cada chamada telefônica, a cada mensagem respondida ou não.

Queremos trazê-los de volta ao reduto em contradição ao que pregamos em sermões intermináveis em seus ouvidos. Sabemos que isto não é solução para nosso desespero de “perdê-los” de nossa vista, sabemos que lutamos bravamente para dar esta oportunidade a eles e que precisamos agradecer que são seres únicos, capazes de seguir adiante sem pestanejarem por nossos receios, sabemos que este é o papel dos pais e se fosse diferente provavelmente seria porque as incapacidades restringentes não possibilitariam a experiência de uma vida mais plena.

O momento é deles.

A saudade assola aos pais, avós, tios.

Mas o trem da vida apita sua passagem. Devemos sair dos trilhos. Buscar a satisfação de entregarmos as malas e sermos parte desta caminhada passada e quiçá futura se assim nos for permitido.

Vai saudade, vem saudade.

“Filho, eu estarei aqui. Naquela sombra que eu disse que você não deveria contentar-se jamais, estarei velando seu sono a distância, estarei vigiando seus passos em minha mente, estarei aqui com sua comida predileta quando visitar-me, estarei aqui de braços abertos para o que você precisar. Estarei aqui por você”!

 

Daniele de Cassia Rotundo