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06/09/2017
As balas

Eu sempre gostei de agradar minhas clientes.

Então colocava à disposição delas alguns mimos de vez em quando.

Às vezes um chá, um cafezinho, alguns sequilhos que uma das minhas filhas fazia com esmero (ainda faz), mas o que elas realmente gostavam eram umas balas de banana, bem típica de Santos, feitas numa tradicional fábrica local.

O sucesso foi tamanho que eu chegava a comprar um pacote de balas por semana, já que meus netos passavam por lá todos os dias e também eram fãs da tal guloseima...

Assim que as minhas clientes entravam já iam pegando uma balinha e geralmente na hora da sair era outra para finalizar.

Algumas me perguntavam onde eu as comprava, mas mesmo tendo em casa, diziam que as minhas eram mais saborosas, no que respondia que era a minha magia que as deixava com um sabor especial...

Depois de algum tempo, comecei a notar que em alguns dias o pote de balas ficava quase vazio de repente.

Comecei a falar para o pessoal de casa que estavam exagerando, consumindo doces demais e todos ficaram espantados, pois ‘ninguém estava abusando’.

Incomodei, e passei a prestar mais atenção, observando a quantidade que cada pessoa pegava, sentindo-me constrangida com isso, mas eu precisava entender o que estava acontecendo.

Até que um dia...

Uma determinada cliente chegou e foi logo me pedindo um copo de água, coisa que eu já estava acostumada porque ela sempre me fazia esse pedido ao chegar.

Quando eu ia saindo da sala, minha funcionária passou por mim e eu solicitei a ela que fosse buscar a água, e voltei para o trabalho. Percebi que minha cliente levou um susto com meu retorno imediato, mas para mim foi normal.

Seguimos com a sessão até que num determinado momento, o telefone dela começou a tocar em sua bolsa e eu prontamente disse que a pegaria para ela.

A mulher deu um pulo da maca dizendo: “Não! Eu mesma pego meu telefone”. E nessa afobação ela pegou a bolsa, que caiu esparramando pelo chão tudo que tinha dentro e para minha surpresa, lá estavam elas... umas 20 balas de banana !!!

Não sei quem ficou mais constrangida, se eu ou ela...

De repente, caiu a minha ficha e eu entendi que toda vez que ela chegava, me pedia água e nesse momento de minha ausência ela pegava as balas e escondia.

Fiquei sem saber o que dizer, mas ela quebrou o silêncio: “Ah Selma, tudo o que é proibido é mais gostoso né? Eu Posso comprar, mas roubar é tão bom, me dá uma baita adrenalina...”, e caiu na risada.

O que dizer numa situação dessas?

Bom, eu não disse nada, porque não sabia o que responder para ela, que na maior cara de pau, pegou todas as balas do chão e colocou de novo em sua bolsa.

O que posso dizer foi que depois disso ela começou a inventar desculpas, e não apareceu mais...

Até nos dias de hoje, quando vou a Santos, compro as tais balas de banana e me lembro da tal cliente...

‘Cada louco com sua mania! né?’

 

Selma Esteticista