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11/03/2020
PIB - Produto Interno Brocha

 Por um produto interno mais bruto, confiem neste imbecil
Não estudei economia, nunca fui à Faria Lima, não uso patinete elétrica e ainda assim to falando há um ano: esse PIB não cresce

Não sei se Paulo Guedes está assistindo ao “Big Brother”. Teria se identificado com Daniel. Enquanto o país inteiro via, o brother se desesperava com o crescimento pífio debaixo do edredom. “Eu não vou conseguir”, dizia o jovem que, ao contrário de Guedes, não tentou culpar a imprensa. “Puta que o pariu”, soltou Marcela que, assim como o povo brasileiro, esperava um produto interno mais bruto, e teve que se contentar com um produto interno broxa.

O curioso da broxada governamental está no fato de que qualquer imbecil seria capaz de prevê-la. E quando eu digo qualquer imbecil, estou me referindo a mim mesmo. Não estudei economia, não tenho nenhum insider no governo, nunca fui à Faria Lima, não uso patinete elétrica nem coletinho de nylon, e ainda assim to falando há um ano: esse PIB não cresce.

Não estou me vangloriando: qualquer um que tenha olhado com atenção pro casal Bolsonaro/Guedes, um capitão estatista oligofrênico e um banqueiro que nunca trabalhou com conta pública, percebeu: “Debaixo do edredom isso não cresce”. Adicione a isso três filhos fronteiriços e uma sogra astróloga (Olavo de Carvalho) morando sob o mesmo teto. Pronto: você tem um comercial do Boston Medical Group.

Só quem acreditou nesse governo —além dos terraplanistas— foram os gênios do mercado. Como bem lembrou o Monitor Mercantil, o Boletim Focus previu um crescimento de 2,5%— mostrando ter mais fé do que focus. 

A Genial Investimentos (sic) apostou num crescimento de 3,5%. Vou abrir a Imbecil Investimentos, que fala qualquer coisa, e ainda assim acerta mais do que especialistas. Já encomendei 300 coletinhos de nylon e uma conta corporativa da Grin.

O dólar, segundo especialistas, ia despencar. O Credit Suisse falava em dólar abaixo de 3,50 RS. E o RS nesse caso é de risos mesmo. E já faz tempo que estão errando: “Se Dilma sair, PIB dobra”. Desde o impeachment que a imprensa faz previsões estapafúrdias com a chancela de algum Farialimer. Não rolou com o impeachment, apostaram no Bolsonaro. Calma, tem que esperar a agenda de reformas. A agenda naufragou? 

Existe uma espécie de terraplanismo que impede os especialistas de ver o óbvio: não basta a fé dos passageiros pra um avião decolar. “A fé move montanhas, não vai mover o PIB?” Ao que parece, não. Confiem neste imbecil que vos fala. Do alto do meu bacharelado em letras, do qual nunca fui buscar o diploma, vos digo: esse PIB não levanta.


Gregorio Duvivier

É ator e escritor. Também é um dos criadores do portal de humor Porta dos Fundos. 

Fonte: www1.folha.uol.com.br