Versão para impressão

04/05/2020
Coronavírus: Doenças crônicas

Doente crônico não deve parar o tratamento

A pandemia do novo coronavírus trouxe uma preocupação a mais: pacientes com doenças crônicas estão deixando de lado seus tratamentos. Seja por medo de irem aos hospitais ou clínicas, seja pela suspensão de atendimentos, essa é uma questão que acende um alerta. Para falar sobre o assunto, o Jornal da USP no Ar entrevistou José Eduardo Krieger, professor de Genética e Medicina Molecular e diretor do Laboratório de Genética e Cardiologia Molecular do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

“Pacientes que têm infarto do miocárdio, por exemplo, estão com presença reduzida nas salas de emergência. Não sabemos ainda a razão desse motivo, se é o medo das pessoas irem ao hospital ou pela recomendação de ficar em casa”, revela Krieger. Ele reforça que esses pacientes, bem como aqueles que já possuem doenças crônicas e tratamentos contínuos, deveriam estar recebendo atendimento, que é específico.

De acordo com o professor, o Incor realiza, em média, 250 mil consultas anuais, sendo cerca de 20 mil por mês e aproximadamente mil por dia. Tudo isso está parado devido aos esforços para a covid-19. O HC conseguiu articular a organização de seus vários institutos e, neste momento, o Incor realiza atendimentos e internações de especialidades diferentes. “Hoje, no Incor, são vistos pacientes neurológicos e transplantados, o que normalmente não acontece”, explica.

O excelente esforço do HC não é regra para as diversas regiões brasileiras que são deficitárias de uma rede hospitalar complexa e completa. Mas o fato de o Brasil possuir um Sistema Único de Saúde (SUS), que vai dos atendimentos mais simples aos mais complexos, dá uma possibilidade de fazer o próprio sistema em si funcionar e de utilizar novas estratégias, como as tecnológicas. O professor fala que, com a disponibilidade da internet, é possível fazer uma descentralização do atendimento, mesmo mais complexos, por meio de telemedicina, diminuindo, e muito, as filas.

“Isso não só para lidar com essa questão aguda no meio desta crise, mas acredito que algumas dessas mudanças serão incorporadas no sistema”, avalia Krieger. O SUS, apesar de receber algumas críticas, é muito importante para milhões de brasileiros que dependem exclusivamente dele. “O Brasil é o único país com mais de 100 milhões de habitantes que tem um sistema público de saúde. É o único”, destaca o professor. 

Ele deixa um recado para os pacientes que estão com receio de continuarem o tratamento neste momento: “Existe uma parceria entre o sistema de saúde e o paciente que contribui, e muito, para o sucesso do tratamento. Ele deve seguir as orientações das autoridades, como o isolamento social, mas também, quando for necessário atendimento de saúde, você tem que ir buscar esse atendimento. Tudo isso depende de orientações claras dos governantes e gestores, especialmente os da saúde”.


Jornal da USP