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24/05/2020
Coronavírus:Imunidade cruzada

Imunidade cruzada poderia acabar com a epidemia mais rápido do que previsto.Cientistas acreditam que parte da população pode estar protegida por anticorpos não específicos à covid-19.

Quando o assunto é o coronavírus, nada se confirma e tudo se cogita. Com a queda do número de casos, surgem diversas hipóteses: a epidemia teria chegado ao fim, a segunda onda de contaminações acontecerá entre setembro e dezembro, ou ainda pegará todos de surpresa. Outra suposição é que parte da população não seria sensível à covid-19, protegida por dois anticorpos que não seriam específicos à doença.

Enquanto a maior parte dos cientistas defende que a maioria da população mundial ainda não foi contaminada pelo coronavírus, um estudo publicado na revista especializada Cell, divulgado na imprensa francesa, mostrou que de 40% a 60% das pessoas poderiam ser resistentes ao coronavírus, mesmo sem ter sido expostas ao vírus.

Chamada de "imunidade cruzada", essa proteção existiria porque os  indivíduos teriam sido contaminados, no passado, por vírus que provocam resfriados comuns de estrutura semelhante ao Sars-CoV-2, criando uma barreira natural contra a infecção.

A imunidade cruzada é um jargão científico que explica uma imunização adquirida em uma primeira infecção e que protegerá mais tarde contra outros agentes infecciosos, sejam eles vírus, sejam bactérias. De maneira geral, um anticorpo é específico contra um agente, mas eventualmente pode atuar contra outros micro-organismos de espécies próximas.

Tese ainda precisa ser confirmada, mas não deve ser descartada

O epidemiogista francês Laurent Toubiana considera essa tese plausível. Pesquisador do Inserm (Instituto de Pesquisas Médicas da França), ele acredita que uma grande parte da população não seria sensível ao coronavírus, porque anticorpos não específicos à covid-19 poderiam protegê-los.

"Isso pode acontecer, as pessoas não reagem da mesma maneira. Existem indivíduos que vão cruzar pacientes contaminados e nunca ficarão doentes. É uma hipótese", frisa. "Mas a base do meu raciocínio é que o pico da epidemia passou, foi impressionante, contaminou todo mundo, mas não haverá uma segunda onda porque as pessoas que deveriam ser contaminadas já pegaram o vírus. A epidemia então estaria chegando ao fim", disse Toubiana à rádio France Inter. Isso não significa, entretanto, que seja possível tirar conclusões precipitadas.

Maioria dos médicos não teria pego a doença

O especialista Yonathan Freund, que trabalha no pronto-socorro do hospital parisiense Pitié-Salpetrière, também ficou impressionado com a queda do número de contaminações entre seus colegas em relação ao início da epidemia. "No pronto-socorro do hospital, estamos particularmente expostos. Se o vírus estivesse circulando como antes, teríamos nos contaminado entre nós ou pelos pacientes", diz. Isso, sublinha, independentemente do fim do confinamento.

"A grande maioria dos médicos não pegou a doença. É pura especulação, mas pode indicar que as pessoas têm uma imunidade natural ou adquirida", declara. Hipóteses que não condizem, entretanto, com os dados do Instituto Pasteur. Segundo o Instituto, apenas 4,4% dos franceses foram contaminados até o dia 11 de maio, quando acabou o confinamento —uma porcentagem bem distante dos 70% de imunidade coletiva que impediria a propagação do vírus.

Cada vez mais vozes mostrando que a imunização coletiva ocorreu e foi a real causa da queda nas mortes. Vejamos Fortaleza: 19 mil casos x 15 (subnotificações) / 15% (sintomáticos) = 1,9 milhões. Este número equivale a 70% da população total da cidade (percentual para que ocorra a imunização coletiva ou de rebanho). Esta é a explicação lógica, pois lockdown que chegou somente a 50% de isolamento (antes da pandemia era 30%) obviamente não foi eficaz pra acabar com a pandemia.

Fonte:www.uol.com.br