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19/03/2021
Ainda ouvimos os sinos dentro de nós

Estive me lembrando daquele filme sobre a guerra civil espanhola (1936 – 1939) cujo nome é “Por Quem os Sinos Dobram” e este título me fez pensar em como tudo na vida muda. Antigamente quando se ouvia um badalar de sino poderia ter sido para o avisar das horas, para anunciar quando a missa ia começar ou para anunciar algum acontecimento importante, como por exemplo, o falecimento de alguém. Em muitas cidades essa prática foi sendo abandonada. Os sons dos sinos estavam condicionados com o emocional das pessoas. Ao ouvi-los elas se tornavam comovidas e com uma mistura de sentimentos indecifráveis como se os sinos as lembrassem da seriedade que é a vida.

Mas, neste ano em que estamos vivendo (2021) ao meio de uma pandemia de COVID-19 ou pandemia de corona vírus quando muitas pessoas estão morrendo nem velório elas estão tendo. Usando um termo comercial, as mortes estão sendo por atacado. Não estão tendo aquelas considerações pelos mortos promovendo-lhes um ritual para encomendar suas almas para o céu. O medo de ser infectado por vírus impede que “autoridades” religiosas compareçam para conduzirem tais rituais. O “salve-se quem puder” aliado as aglomerações proibidas de agora está sendo mais importante e mais obedecido do que as cerimônias fúnebres.

Até parece que tais cerimônias póstumas ou post-mortem estão agora sendo testadas se são ou não para o bem todos, porque, muitos que morreram por causa da pandemia foram logo sepultados sem qualquer cerimônia de caráter religioso. E pensar que antigamente os sinos badalavam para todos os que morriam. Eles pareciam ter uma conexão com algo muito superior a nós. Se nas pequenas cidades, como naquela donde nasci e onde quase todos se conhecem, se onde os sinos estiveram calados voltassem a badalar e alguém perguntasse “por quem os sinos dobram” alguém responderia: Eles dobram para o nosso querido Fulano de Tal que morreu hoje. E os sinos dobram por ti também cada vez que você perde alguém.

Altino Olimpio